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terça-feira, 8 de outubro de 2013

033 - Do Tempo do Bumba - Memória Varzealegrense

QUANDO  É  TEMPO  DE  CAJU - MUNDIM DO VALE

Antônio Carlos, filho de Conceição  Carlos, Nasceu com problemas de audição. Para agravar a situação, perdeu a mãe ainda criança e foi morar na Vazante com a avó Maria Carlos e os tíos Chico Carrim, Zé Negão e Damião dos Bonecos.
Um dia ele começou a cantar o musical Peba na Pimenta da cantora Marinês, a sua avó não gostou e reclamou:
- Minino do cão, pare cum essa cantiga imorá.
- Arre égua! A vó tombém parece uma bruxa, ninguém pode nem cantar uma musga. Apois eu vô é precurá caju lá im Zé Reimundo.
- Vai infiliz, Coidado pra num caí de riba do cajuêro, prumode num fazê cumpanhia ao demõe no inferno.
Antônio saiu quando voltou foi com dois cajus ainda verdosos.
Quando a avó viu falou:
- Eu num acridito qui tu vai chupá esses maturí quante não.
- Apois eu vô.
- Apois fique sabeno qui o mudo de Zé Piru ficou mudo foi adispois qui chupô caju quente.
Não adiantou o apelo da avó, o neto botou os dois maturis na boca. Terminou de engolir e já foi ficando pálido e sem fala.
Maria Carlos mesmo no aperreio disse:
- Tá vendo condenado?  Eu num dixe? Tu já e môco e agora se num morrê, vai ficá môco e mudo.
A avó deixou o neto agonizando e foi até a nossa casa onde estava Marlene Salviano, que passava o domingo com a gente. Quando Maria contou o problema para Marlene, ela se dispôs a ajudar, colocou mel de abelha numa xicara espremeu um limão e levou para o morimbudo. Depois que o doente tomou duas colheradas, já foi ficando corado e dizendo algumas palavras. Depois de quinze minutos Antônio recitou essa quadrinha:
“ Quando é tempo de caju
Passarinho mela o bico.
Menina de doze anos
Tem cabelo no suvaco. “
A avó mesmo sem esconder o contentamento pela progressiva melhora do neto respondeu:
- Tá vendo dona Marlene! Ontõe só presta é sem falar mermo, pru mode num tá cum iscandêlo na frente das visita.
Antônio já totalmente recuperado da voz, perguntou a sua salvadora:
- Dona Marlena! Meu tí Chico Carrim dixe qui tá cum gonorréa. O qui é gonorréa?
Marlene na tentativa de mudar o pensamento daquele garoto respondeu:
- Meu filho. Gonorréa é uma secreção expelida pelos sapos para imobilizar pequenos insetos. Entendeu?
- Intindí não.
- Pois eu vou explicar melhor. É assim; o cururu dá uma cuspida no mosquito e o cuspe prega as asas e ele não pode mais voar, aí o cururu engole ele. Gonorréa é o cuspe do cururu.
- Apois ontonse meu tí tá mermo cum gonorréa, pruque isturdia eu ví ele varrendo a cuié de pau do doce cum a lingua.


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