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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Matriz de Várzea Alegre - Memória

Igreja Matriz de São Raimundo Nonato em Várzea Alegre - Ceará


REVIVENDO O ALTAR DE SÃO RAIMUNDO - TIBURCIO BEZERRA

Fui coroinha, no tempo do Padre José Otávio de Andrade, de saudosa memória. Era criança ainda, lá entre meus 10 e 12 anos. O padre paramentava-se na sacristia e, na companhia do coroinha,(eu), que conduzia o missal, logo à sua frente, encaminhava-se solenemente ao altar, para a realização da missa. O celebrante ficava de costas para o público, para ficar voltado para o sacrário, onde estava o Santíssimo.

Era tudo rezado em latim!
Primeiras palavras do padre:
- "Introibo ad altare Dei. (Entrarei ao altar de Deus)
O coroínha respondia:
- Ad Deum qui letificat juventudem meam. ( Ao Deus que alegra a minha juventude)

Assim continuava, até findar-se a santa missa. Os fiéis portavam-se em silêncio e com absoluta concentração. Ouviam-se cânticos sagrados entoados pelas cantoras Altina, Milica, Romana e Cira Teixeira, acompanhadas pelo harmonista, na época, o jovem Chico de Amadeu. Coração Santo, Queremos Deus, Com Minha Mãe Estarei, entre outros, eram os benditos mais cantados.

Após a leitura do evangelho, também em latim, o presbítero dirigia-se ao púlpito, espécie de tribuna posta no centro da matriz, e ali fazia o sermão, onde traduzia para o povo a mensagem bíblica do dia. Lembro que o padre Otávio era um bom pregador.

O coroinha tinha múltiplas funções. Tornava-se protagonista na cerimônia, pois além de rezar em lantim, servia ao padre em todos os momentos da cerimônia. Conduzia o missal, passava suas páginas, tocava a campainha, servia a água que lavava as mãos do celebrante e, na hora da comunhão, acompanhava-lhe a todos os comungantes de patena em punho, para evitar que a hóstia caísse no chão. A hóstia não podia cair. O corpo de Deus não devia cair.

Voltado sempre para o altar, aprendi a admirar a imagem de São Raimundo que, depois, muito depois, inspirou-me na criação da nossa bandeira, que levam as suas cores. Os costumes agora são outros. O culto mudou.

Nunca mais ouvi "Coração Santo". Nem vi mais mulheres de véu. Nem "Filhas de Maria". Nem "Mães Cristãs". E nem os "Congregados Marianos", homens de fé, que condiziam o andor de São Raimundo nas bonitas procissões do passado.

Sempre que entro em nosso santuário, miro aquela imagem simbólica e tenho saudade dos meus tempos de "coroinha", de Pe. Otávio, Seu Amadeu, Chico Feitosa e reflito: "não mudei, nem São Raimundo, o que mudou foi a cidade".

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