VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

domingo, 28 de junho de 2015

Perigos do Sertão - Memoria Varzealegrens

PERIGO NO SERTÃO - EDMILSON MARTINS

Depois dos filmes eu e um grupo de discípulos, íamos para a praça para ouvir os capítulos do seriado que inventávamos. O elenco era formado pelos seguintes atores:

Estrelados pelos grandes astros: Ed Martin, Ozzy Mund, Walder France, Joseph Borgin, Rita Mary, Mary Help, John P. Auw e seu irmão Ray Mond P Auw, e os galâs Joe N. Milton e o famoso Francis Waldon.


Veja esses cartazes que encontrei do Seriado,"Perigo nas Selvas".


1 - Ed Martim, Joseph of Borjin e Ozzy Mundo, planeja o ataque.
2 - Ed Martim indica ao grupo o caminho a seguir.
3 - O Chefe ordena o ataque!
4 - O Ed Martim em luta com o vilão, enquanto Walder France tenta separar...
5 - Ed Martim nocauteia o vilão com um violento soco de direita, enquanto Ozzy Mund assiste passivamente
6 - O grupo comenta o desaparecimento do herói
7 - O grupo planeja o resgate do herói que acontece logo em seguida.

Fonte: Edmilson Martins

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Lembrando J. Ferreira - Memória Varzealegrense

Dos homens, era o meu irmão mais velho, o que vale dizer o meu velho amigo. Nascido aos 21 de novembro de 1912, em Várzea Alegre (Ceará), quase metade de sua existência foi vivida em Londres (29 anos), onde, de par com outras atividades, exerceu as funções de comentarista da British Broadcasting Corporation (B.B.C), desde os incertos e inquietos dias da segunda grande guerra mundial. 

Foi sua primeira professora a simpática Dona Adelaide – que ele sempre lembrou com carinho, - e, por muitos anos, residiu em Juazeiro do Norte. Aos onze anos incompletos, entrou para o Instituto São Luiz, em Fortaleza, cuja direção era exercida pelo nosso cunhado, grande amigo e mecenas, o Dr. Francisco de Menezes Pimentel Junior.

Foi no São Luiz, no “Grêmio Literário Padre Tabosa”, que se revelaram seus acentuados pendores para a imprensa e oratória. Orador certo de todas as sessões, sua colaboração não faltava a cada numero de “O Estímulo”, o jornalzinho do Grêmio. Fizemos, lado a lado, primário e seriado, terminando este ultimo, em 1930, no Liceu do Ceará. A revolução de 30 deu-lhe, acidentalmente, o primeiro episódio “meio-cômico” de orador político. À turba que passava pela, da janela do 1º andar do velho Café Poty (um pardieiro de estudantes pobre!), dirigiu uma saudação inflamada, simplesmente enrolado em um lençol! Magro e assim vestido, era a figura de Gandhi! A Fernandes Távora, um dos chefes da revolução, muito impressionou o ardor do “tribuno”, chegando a lhe oferecer posição de relevo na revolução triunfante. Ele, porém, confessava, depois: - “que foi divertido, foi!” e nada queria com quem “estava de cima”.

 Tinha, então, 18 anos em ebulição, inteligência e memória maravilhosas, devorando de um só fôlego quantos livros lhe caíssem às mãos. Vargas Vila era a sua bíblia e, de cambulhada, entravam quanto outros surgissem, de Virgilio a Schopenhauer. Publicou com um colega tão “atirado” quanto ele, dois números de um jornal feito a mãos (“O PASQUIM”), suspenso, logo no terceiro número, com a simpática interferência da policia... Sem um jornal próprio, passou a colaborar em dois matutinos de tendências antagônicas (“O NORDESTE” e “O CEARÁ”), mantendo com ele mesmo e nomes diferentes, terrível polemica. Era, dizia, o melhor meio de se fazer jornalista: - contestar as próprias palavras.

 Cearense de legitima estirpe e filho de português, não poderia deixar de emigrar e, em 1932, foi para o Rio, em busca de horizontes mais vastos. Já matara, no nascedouro, a pretensão ser farmacêutico, levando, todavia, uma transferência de seus de seus começados estudos de direitos, que... De tortos, nunca foram concluídos. Seus caminhos ideais eram os da hoje chamada comunicação e o jornal já lhe deixara visgo na alma, a que não podia fugir. Com a ajuda de um amigo – o Dr. Campos – entrou para “A BATALHA”. Foi, porém, no “O GLOBO”, onde o introduziu um modesto alfaiate (Pedro Souza), a quem sempre soube ser grato, que se sentiu em casa. Contratado para tirar as férias de um funcionário, por uma quinzena, lá ficou – quase, o restante dos seus dias – terminando por se aposentar, em janeiro de 1971.

 Em 1942, como redator de “O GLOBO”, em cujas colunas mantinha seus comentários sobre o desenrolar da guerra, recebeu da Embaixada Britânica um convite formulado pelo Press Club, de Londres, para uma visita aos países aliados vendo-lhes o esforço. Após uma entrevista relâmpago, na BBC, recebeu proposta para um contrato comentarista, o que sem pensar segunda vez, aceitou. Voltou ao Brasil para acertar seus negócios, prometendo regressar a Londres, na primeira oportunidade. E esta, muito cedo, lhe surgiu, embarcando em um navio inglês altamente cobiçado pelos torpedos nazistas. Foi uma viagem de 45 dias temerosos. Era, porém, já um motivo bem forte para uma boa reportagem.

 Assim, naqueles dias de incerteza, começou o Brasil inteiro a tomar conhecimento real da marcha dos acontecimentos que se desenrolavam. Ao lado de Bento Fabião, na hora exata, mesmo sob a ação de incursões ou bombardeios, as clássicas badaladas do BIG BEN anunciavam o “Comentário de Joaquim Ferreira”. Era um estilo bem seu de narrar os fatos, com sobriedade e austeridade incontestes, despertando em nossos corações a confiança na vitoria das armas aliadas, sem negar, no entanto, que ela custaria “sangue, suor e lágrima”, na honesta expressão de Churchill. Por esta época (Rio – 1943) enfeixou em livro (“Eles esperaram Hitler”) uma série de crônicas em que retratou a fibra heróica da raça inglesa, no aceso da “Batalha de Londres” e em outros episódios de invulgar bravura.

 Terminada a refrega, outros tipos de palestras surgiram. Foram “Livros e autores” – uma análise do que, na Inglaterra, se fazia na literatura e nas artes; “Comentários da Grã-Bretanha” – uma apreciação cuidadosa e carinhosamente feita da vida inglesa, desde os feitos políticos às manifestações do humor britânico; e, por ultimo, “VOCÊ SABIA?” – um programa de pergunta intrincadas e curiosas, em que, ao lado do portentoso William Tate, formando uma dupla de enciclopédias, vencia qualquer equipe adversa, ganhando-lhe nos pontos.
  Em Londres, sempre como correspondente de “O GLOBO”, teve a seu cargo a publicação de um boletim do Brazilian Trade Bureau (“Brazil-Land and People”), sem exagero, um dos mais eficientes meios de difusão do nosso país já feita, oficialmente. Por ultimo, dirigia a publicação de uma revista de turismo, órgão de uma entidade especializada inglesa e a que dedicava o seu melhor carinho.

 Perdeu várias grandes oportunidades para não perder a cidadania brasileira, de que muito se orgulhava. Por igual, nem o clima, nem outro fator qualquer lhe roubou o sotaque nordestino, de autêntico cearense. Ouvindo-o, qualquer um diria que ele nunca saíra de Várzea Alegre. De par com a lealdade que punha em seus atos, era esta a mais clara expressão de sua alta personalidade.

Em abril de 1948, uniu-se, em Londres, com a Srta. Leda Pitanga Callado, irmã do romancista e escritor Antonio C. Callado. Motivos de saúde obrigaram Leda e, desde que engravidou, a vir para o Brasil, tendo seu filho – Guilherme Antonio – nascido na maternidade de Maranguape, em 18 de janeiro de 1949. É, hoje, economista e reside no Rio, em companhia de sua dedicada genitora. Em tudo, o retrato fiel do pai!

 Esteve em férias, no Brasil, de dezembro de 1970 até abril de 1971. Ao voltar à Inglaterra, pouco tempo depois teve que ser internado – e gravemente – em um hospital londrino. Malgrado a dedicação e competência dos seus médicos, num crescendo incontido, sua enfermidade evoluía e se tornava mais grave. Manifestou o desejo de voltar ao amado Brasil, ao convívio de seus familiares, dos seus velhos amigos, fui buscá-lo em Londres, numa viagem onde grande era a responsabilidade e maiores os riscos a enfrentar. Trouxe-o, felizmente, sem o menor incidente. Cercado da família e do seu mais vivo carinho e alimentando sonhos para um futuro que jamais viria, ainda resistiu por 34 dias, vindo a falecer, dia 4 de outubro de 1971, em nossa casa, em Olinda. Era a data consagrada a S. Francisco de Assis, aquele que compôs a “oração do amor”, que vence sete séculos e, assim, termina: - “morrendo, é que nascemos para a vida eterna”.

José Ferreira
*Do seu Livro “Várzea Alegre, Minha Terra e Minha Gente” Pag. 67 a 70 Ed. Henriqueta Galeno 1985
Fonte: Israel Batista

Antônio Batista Vieira - Memória Varzealegrense

Padre Antônio Batista Vieira

Padre Antônio Batista Vieira, nasceu no município de Várzea Alegre, Ceará, em 14 de junho de 1910, no sítio Lagoa dos Órfãos, no sopé da Serra dos Cavalos, filho de Vicente Vieira da Costa e Senhorinha Batista de Freitas.

Foi ordenado sacerdote em 27 de dezembro de 1942, no Crato, Ceará. 

Em 1964 cursa com destaque, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, a graduação em Economic and Social Research Planning. Entre 1970 e 1974 cursa Direito na Universidade do Rio de Janeiro. 

Licenciou-se em Filosofia, Ciências e Letras.
Foi fundador do Clube Mundial do Jumento e sócio da Associação Cearense de Imprensa.

Padre Vieira foi Deputado Federal eleito para o período legislativo de 1967 a 1970.

Autor das seguintes obras:
- 100 Cortes sem Recortes (1963).
- A família (evolução histórica, sociológica e antropológica) (1987).
- A Igreja, o Estado e a questão social (1986).
- Bom dia, irmão leitor (1984).
- Crônicas Afiadas (2003).
- Eu e os outros (1987).
- Eu sou Mãe do Belo Amor (1988).
- Fatos Interessantes e Pitorescos (2001).
- Filosofia Política e Problemas Jurídicos (1989).
- Gramática do absurdo (1985).
- Mensagem de Fé para quem não tem Fé (1981).
- O Jumento, nosso irmão (1964).
- O verbo amar e suas complicações (1965).
- Pai-nosso (1983).
- Penso, logo desisto (1982).
- Porque fui cassado (1985).
- Roteiro lírico e místico sobre Juazeiro do Norte (1988).
- Senhor, aumentai a minha Fé (1989).
- Sertão brabo (1965).
- The Donkey our Brother (1998).

Fonte: Prefeitura de Várzea Alegre

Vovó Biluca - Por Dr. José Bitu Moreno.

Da esquerda para direita: Ilka Bitu, Maria Bitu, Julio Bitu, Dr. Luis Bitu, Assis Bitu e a matriarca Dona Biluca na comemoração dos seus 92 anos.
Cronica do Dr. Jose Bitu Moreno.

Numa bela manhã de primavera, sento-me para sonhar. Abril se aproxima rápido, trazendo na sacola, mais um aniversário. Ah, esse tempo poderia ser mais lento!! Como na infância, em que as horas se espreguiçam na divertida vida, e assim demoram a passar. Talvez também seja assim na velhice, tal qual a idosa senhora que mora sozinha no andar de cima, que impossibilitada de vencer as escadas, escolheu a cozinha para passar os dias, e sua janela como o relógio da vida.

Mas nessa manhã, quero escolher as doces lembranças como um travesseiro, onde vou me afundar e sonhar de novo, como se a vida que já foi, pudesse novamente vir a ser. A vida que foi boa, posso contar pelas manhãs. As manhãs da infância com Vovó Biluca na sua casa branca. Após as noites de chuva, as manhãs claras e límpidas de Várzea-Alegre, com suas ruas de pedras, que o sol ajudava a polir. As manhãs de domingo em Fortaleza, onde a praia do Futuro nos preenchia de sol e mar, alimentando a alma de energia e beleza. A manhã em que cheguei em Marília, a cidade que do alto do espigão ainda se enrolava na névoa, espreguiçando-se...Bela Marília, linda menina, formosa senhora. Por suas ruas silenciosas, puxando as cortinas das tantas manhãs, eu e Natha nos dirigíamos para a FAMEMA, ouvindo no rádio os lamentos apaixonados das músicas de raízes. O Hospital de Clínicas aparecia muitas vezes como se assentado em nuvens, da névoa que subia dos vales, embranquecendo a cidade em clima de sonho.

Veneza se me surgiu numa manhã clara, após uma cansativa noite de trem, como a súbita revelação de um paraíso terreno, como uma bela jovem saída de um quadro renascentista, mostrando sua virginal nudez, e eu parasse estupefado frente a tanta beleza. Na ilha de Capri sentado no alto de uma escarpa, mirando o azul profundo do mar, sentindo as fragâncias de limões nos pomares, senti pela primeira vez que minha mulher era aquela ilha, era o meu sonho do distante, do belo, do indefinido... A poesia de meus melhores dias. E para que as manhãs se fizessem, foram necessários os galos e os pássaros. No tempo da casa branca, no Inharé, os galos se esgoelavam festejando o dia e espalhando orvalho. Mas aqui, na Alemanha, têm sido os pássaros...Fui com Anna Carolina para a escola e no caminho lhe lembrei de silenciar os outros barulhos do dia, para que ouvisse a algazarra dos pássaros. Quando levei André lhe falei baixinho de um passarinho que entre os galhos de uma árvore se escondia, chamando-o pelo nome. Meus dois filhos são dois pequenos passarinhos que enfeitam e fazem todas as manhãs dos meu dias.

E se apenas uma foto houvesse que recordasse ou resumisse todas as manhãs que tive, as minhas manhãs, uma existe em que estamos reunidos no clube recreativo de Várzea-Alegre, minha família, papai de chapéu de feltro, mamãe em vestido estampado de seda, as irmãs de saias brancas plinçadas e blusas azul-marinho, e os filhos homens em roupa domingueira, mas de calças curtas, botas e meias até metade das canelas . Estamos felizes e paira certa ingenuidade no ar, razões porque se tornou muito antiga a foto, utópica, etérea, totalmente deslocada pelo tempo. Mirávamos um futuro que nos desmentiria. Sonhávamos uma vida que jamais existiria. Fomos naquele instante, o que jamais tornaríamos a ser. Aquela manhã, jamais se repetiria. Mas o instantâneo do retrato, ficou para sempre.
Grande abraço,

José Bitu