VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

Versos

Versos lá de nós!  - Memória Varzealegrense.

Todas as Poesia postado aqui são de autoria de Escritores Varzealegrenses. 


Nosso e-mail: memoriavarzealegrense@hotmail.com


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


DEPOIS DE "A TRISTE PARTIDA" DE PATATIVA DO ASSARÉ, EIS...


PEGANDO O BECO - Sávio Pinheiro

Danou-se o passado
Dos anos setenta
Oitenta e noventa
E o ano dois mil.
O êxodo rural
Tão estimulado
Foi muito explorado
Em todo o Brasil.

O povo fugiu
Do seco Nordeste,
Sertão e Agreste
Tentando escapar.
Pras bandas do sul
Ele se instalou
Sofreu e lutou
Por um bom lugar.

O emprego era incerto,
Austero, danoso,
Barato, penoso,
E sem garantia.
Na hora da folga
Ou da diversão
O pouco tostão
Não dava alegria.

A vida passou,
Matando o presente,
Mas o inconsciente
Não se conformou.
E sempre pensando
No bom Ceará
De uns tempos pra cá
Ninguém hesitou.

Não vendo opção,
Não tendo alegria,
Viu na fantasia
Um novo prazer.
São Paulo sem chuva
E sem Cantareira
Água na torneira
Não vai escorrer.

Porém um consolo 
Ainda nos resta
É a grande festa
Da transposição.
Pra o nosso habitante
Não ser tão arisco
Mande o São Francisco
Molhar o sertão.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense

VÁRZEA  ALEGRE RECONHECEU  A  SUA  PEQUENA  PROFESSORA - Por Cecília Alves Bitu.

A escola IRACY BEZERRA DE MORAIS

É um ícone dos centros educacionais
Foi criada em oito de agosto
De mil novecentos e oitenta e seis 
Cuja fundação comemora esse mês 
Vinte e cinco anos de história
Levando em sua memória 
De uma grande educadora
A então professora 
Do mesmo nome e glória 
O terreno foi doado
Para fazer a construção 
o aluno emocionado
Em ter mais educação 
A Iracy foi escolhida 
Foi também incumbida 
Por ser homenageada
Foi também prestigiada
Pela missão de ensinar
Sua forma de atuar 
Deixou-lhe lisonjeada
Para a comunidade 
Do ilustre bairro Betânia
A emoção foi tamanha 
Foi uma oportunidade 
Para os de pouca idade
Ter acesso a escola 
Como imã como mola 
Um passo para o futuro 
Investimento no estudo
Obrigada, doutor Iran
Pois virei o seu fã 
Pois essa escola é tudo
Perto da casa implantada
Num terreno da prefeitura
Foi uma obra à altura 
É inspirado na educadora 
A então professora 
A Iracy traz a inspiração
Com duas salas iniciou
Depois se transformou 
Fez secretaria, banheiros 
Aumentou os companheiros 
Fez cantina almoxarifado
Tudo está transformado
E faz ensino o ano inteiro
Hoje funciona os três turnos 
E tem tempo integral
Tudo está tão legal
Do pré a sexto ano
Ai vem "um fulano"
E diz essa é a escolinha 
Já não é pequenininha 
Como cresceu a Iracy
Pois quem quiser pode vir
Entre para esse time 
Venha e ensine 
Como fez a Iracy
Temos 172 crianças 
Construímos esperanças 
E novo aprendizado 
Importando o passado 
Construindo nossa história
Guardando em memória
um novo renascer 
objeto do apreender 
Que dona Iracy mostrou
Pelo seu papel a exercer
Hoje tem 35 funcionários
Gente que tem compromisso
E que não fica omisso
A tão baixos salários 
Cumpre plenários 
E faz educação
Com força e com coração 

(Poema criado pela professora Cecília Alves Bitu da escola Iracy Bezerra de Morais pela passagem do aniversário da escola em 08 de agosto de 2011.)

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense

POETA  HISTORIADOR - MUNDIM DO VALE

João Bitu é um poeta, que faz a rima concreta
Pra falar do seu lugar.
Rima com propriedade, a sua boa cidade
Sem deixar nada faltar.

Lembra a casa que viveu, ao lado da de Dirceu
Que era sua vizinha.
Lembra de Dona Santana, dos benditos de Romana
Na hora da ladainha.

Lembra o amigo Dudu, O seu pai José Bitu
E a sua mãe Vicentina.
Lembra de Pitõe Gibão, pulando no algodão
Que chegava na uzina.

Lembra o Sr. Lourival, e a casa paroquial
Que era de frente a sua.
Lembra o Sr. João Bilé, que morava no Coité
Mas tinha casa na rua.

Lembra de Dona Lilí, da minha mãe Iracy
De André Costa e Santinha.
Não esquece Valdeliz, Frfancisca e Luiz Diniz,
Dona Eliza e Tietinha.

O poeta não perdia, a salva do meio dia
Bem do lado do cruzeiro.
Seguia na procissão, conduzindo em sua mão
O andor do padroeiro.

Lembra Maria Caitana, cantando e bebendo cana
Jogando no elefante.
Lembra José Vitorino, Zé Odmar e Acelino,
Zé Raimundo da Vazante.

Lembra do Sr. Ferreira, Dona Raimunda Teixeira
E de Vicente Gregório.
Não esquece Soarim, Damião, Chico Carrim
E do Sr. Quinco Honório.

Morou um tempo no rio, Mas seu maior desafío
Foi voltar ao Ceará.
Queria, porque queria, Ter a boa companhia
De Zezê e de Fafá.

O poeta tem guardado, Todo o Vale do Machado
E a sua bela história.
O meu verso não diz tudo, quem quiser mais conteúdo
João Bitu tem na memória.

Termino minha alusão, com bastante precisão
Para que ninguém me cale.
Vai daqui o muito carinho, do amigo e ex vizinho
Poeta Mundim do Vale.


Mundim do Vale.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Rimando o tema do poeta Joaquim Bezerra. 

VÁRZEA ALEGRE É MEU LUGAR - Por Mundim do Vale.


O bom poeta Joaquim
Nascido para rimar,
Foi bater em São Bernardo
Para poder trabalhar.
Chegou numa portaria
E disse para o vigia:
- VÁRZEA ALEGRE É MEU LUGAR.

Eu só deixei minha terra
Para um emprego arranjar,
Conseguí o meu espaço
Cheguei a me aposentar.
Hoje moro em Fortaleza
Mas podem ter a certeza
VÁRZEA ALEGRE É MEU LUGAR.

O Dr. Sávio Pinheiro
Chegou a me perguntar:
- Porque você tá distante
Só vem aqui passear?
Eu disse: - É contra à vontade
Não gosto lá da cidade
VÁRZEA ALEGRE É MEU LUGAR.

José Felipe Afamado
Que vivia a viajar,
Divulgava os contrastes
Para o Brasil escutar.
Mensageiro da alegria
Onde chegava dizia
VÁRZEA ALEGRE É MEU LUGAR.

O nosso amigo Alberto
Deus já mandou convidar,
Quando chegou lá no céu
São Pedro mandou entrar.
Alberto foi no fichário
Colocou no formulário

VÁRZEA ALEGRE É MEU LUGAR.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense

O  SERTÃO  FOTROGAFADO - Mundim do Vale


Uma carroça de lenha
Com um doido amorcegado,
Moça nova namorando
Com um velho aposentado,
Um caçuá de cabaça
E um pau de sebo na praça
É o sertão fotografado.

Um profeta anunciando
Que vem inverno pesado,
Uma banca de caipira
Na calçada do mercado,
Mel de engenho com farinha,
Prato de barro e quartinha
É o sertão fotografado.

Uma trempe no terreiro
Pra cozinhar um guisado,
Um tocador de rabeca
Tocando desafinado,
Um carpinteiro da mata
Colocando fundo em lata
É o sertão fotografado.

Um chapeado teimando
Com um vendedor de torrado,
Um sapateiro botando
Meia sola num calçado,
Um frango assado na mão
De um gritador de leilão
É o sertão fotografado.

Um matuto num comício
Com o braço levantado,
Um puxa-saco gritando:
- Viva o doutor deputado!
E deputado arredio
Com um discurso vazio 
É o sertão fotografado.

Um romeiro viajando
Num pau de arara lotado,
A safadeza dos gatos
Namorando no telhado,
Numa esquina um raizeiro
Na outra esquina um santeiro
É o sertão fotografado.

Um muro quase caindo
Um carro de mão virado,
Uma bacia furada
Um urinol amassado,
Um porco fuçando um coxo
E um pé de peão roxo
É o sertão fotografado.

Um quadro do Padim Ciço
Com o Frei Damião do lado,
Um buraco de andaime
Com maribondo arranchado,
Uma panela vazia
E um giral sem serventia
É o sertão fotografado.

Numa sombra de oitão
Um bode velho deitado,
Na calçada da igreja
Um cego e um aleijado,
Um evangélico falando
Que Jesus está voltando
É o sertão fotografado.

Chamar alguém de pagão
Quando não foi batizado,
Moça fazer simpatia
Para arranjar namorado,
Coroa atrás de xodó
Pra sair do caritó
É o sertão fotografado.

Chá de boldo com macela
Pra quem tá com bucho inchado,
Do olho da goiabeira
Pra quem tá desidratado,
Um passe de pai de santo
Para afastar um quebranto,
É o sertão fotografado.

Um tiro de socadeira
Um vira lata assustado,
Letreiro numa bodega
“ Aqui não vende fiado “
Uma mudança da roça
Encima duma carroça
É o sertão fotografado.

Uma récoa de menino
E a mãe naquele estado,
O pai com um na corcunda
E o mais novo pendurado,
Coisa assim de retirante
Que também é penetrante
É o sertão fotografado.

Soldador de caçarola
Vendedor de milho assado,
Catador de oiticica
Amolador de machado,
Um curador de bicheira
E um tirador de goteira
É o sertão fotografado.

Um cambista na calçada
Um sacristão encostado,
Um doido com dez centavos
Para jogar no veado,
Um vendedor de rapé,
Jogando no jacaré
É o sertão fotografado.

Um taco de rapadura
Um jerimum cozinhado,
Uma cuia de farinha
Para um pirão escaldado,
A miséria da carência
E a falta de assistência
É o sertão fotografado.

Um banho de alecrim
Pra velho com resfriado,
Um porrete de jucá
Pra aquietar um safado,
Um garoto desnutrido
Com o pescoço encardido
É o sertão fotografado.

Um padre na sacristia
Um rapaz ajoelhado,
Uma penitência grande
Pra redimir o pecado,
Um fiel com a sacola
Arrecadando a esmola
É o sertão fotografado.

O povo correndo atrás
De um burro desembestado,
Um menino dando língua
Da janela de um sobrado,
Uma rifa de um carneiro
Na calçada do barbeiro
É o sertão fotografado.

Sino tocando repique
Um anjo sendo enterrado,
A poeira na estrada
Quando é dia de finado,
Um beato cabeludo,
Descalço, sujo e barbudo
É o sertão fotografado.

Uma barraca de lona
Um lambe-lambe de lado,
Uma ruma de eleitor
Cada qual mais apressado,
Tudo tirando retrato
Por conta de um candidato
É o sertão fotografado.

Uma viúva chorando
Um corpo sendo velado,
Gente contando anedotas
Sem nem olhar o finado,
Pano preto na janela
Indicando a sentinela
É o sertão fotografado;

Uma corrida de jegues
Um Judas sendo enforcado,
Uma briga de comadres
Um porco sendo castrado,
Batizado de fogueira
E um fogo de caieira
É o sertão fotografado.

Escola funcionando
Faltando ainda o telhado,
O prefeito inaugurando
Entregue como acabado,
Um fiscal da educação
Presente a inauguração
É o sertão fotografado.

Um pingüim na geladeira
Um guarda sol pendurado,
Um cigarro na orelha
De um velho viciado,
Um devoto de São João
Descalço na procissão
É o sertão fotografado.

Um vendedor de pão doce
Com o ombro açucarado,
Uma madrasta perversa
Beliscando o enteado,
Um galego na janela
Querendo vender panela
É o sertão fotografado.

Pau da bandeira passando
Pelo povo acompanhado,
As pastorinhas cantando
Um bendito abençoado,
Padre juntando dinheiro
Na festa do padroeiro
É o sertão fotografado.

Uma quenga embriagada
Discutindo com um soldado,
Um velho com um ramo bento
Para tirar mal olhado,
Uma macaca indiscreta
Um padre de bicicleta
É o sertão fotografado.

Papagaio falador
Conversando no telhado,
Um vendedor de pitombas
Conferindo o apurado.
A meninada em fileira,
Pra comprar coco na feira
É o sertão fotografado.

Uma cabocla brejeira
Moendo café torrado,
Um caçador expichando
O couro de um veado.
Um idoso com bengala,
Falando cortando a fala
É o sertão fotografado.

Um vaqueiro reclamando
De um bezerro desgarrado,
Um pé de rebenta boi
Atrapalhando o roçado.
Doido fazendo careta,
Porque comeu malagueta
É o sertão fotografado.

Um conterrâneo chegando
De São Paulo endinheirado,
Com um relógio oriente
E um gravador de lado,
Falando: - Quanto que é,
Bicho, oh meu e qualé
É o sertão fotografado.

Metade da minha vida
Morei perto do roçado,
Hoje moro mais distante
Mas ainda estou lembrado.
Quando assisto cantoria,
Estou vendo com alegria
O sertão fotografado.

Meu verso faz muito bem
Urbaniza a boa mente,
Não dar espaço a alguém
De me achar indecente,
Isto faz com que eu faça

Mais versos pra nossa gente.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


A BANDEIRA DO SERTÃO - Mundim do Vale

Toca viola guerreira
Nas mãos do teu cantador
Mostra ser a pioneira
Prova teu grande valor.
Vais também para a cidade
Mostra tua qualidade
De cultura resistente.
Pede licença ao sertão
E vais mostrar perfeição
Tocando pra outra gente.

Tocaste anos atrás
Com “Catulo e Aderaldo”
Hoje vens tocando mais
Com “Zé Maria e Geraldo”
És a boa companhia
Que ilustra a cantoria
De um repentista seguro.
Tu que conservas a história
De um passado de glória,
Olhas também teu futuro.

Mostra que fizeste parte
Do folclore Brasileiro
Que seguiste o estandarte
De Antônio Conselheiro.
Foste tu “ brava viola”
O caminho e a escola
Dos melhores cantadores.
Conseguiste diplomar 
Na cultura popular
Repentista de valores.

Tocaste pra Lampião
E os seus “ Cabras-da peste “
Também pra Frei Damião
Santo frade do Nordeste.
Tocaste a chuva molhando
E o sertanejo cantando
Alegre na plantação.
Também tocaste o sol quente
Da cruel seca inclemente
Esturricando o sertão.

Viola esse teu padrão
É de peça de estima
És o ponto de união
Entre o poeta e a rima.
Teu toque lembra o romeiro
Com destino ao Juazeiro
Em seu grande objetivo.
Tu lembras também teu dono
Que vive no abandono
Por falta de incentivo.

Foste tu “ brava guerreira “
Que me deste inspiração
Também foste a primeira
Que tocou no meu sertão.
É chegada a tua vez
De perder a timidez
Onde quer que tu estejas.
Não esqueças tua fama
Que tu és “Primeira dama “
Das culturas sertanejas.

O teu espaço negado
Foi pior do que tortura
Mas tu muito tens lutado
Com teu ato de bravura.
Continua a batalhar
Que um dia há de chegar
O diploma do teu teste.
Tu serás reconhecida
No resto da tua vida
Como um “Símbolo do Nordeste “

Não invejes a guitarra
Nas mãos de um metaleiro
Porque tu tens muita garra
Nas mãos do teu violeiro.
Mostra que sabes tocar
Na cultura popular
Defendendo o teu torrão.
Fazes sons aparecer
Que um dia tu hás de ser
A BANDEIRA DO SERTÃO.

Mundim do Vale
V. Alegre-Ceará

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


BOMBARDEIO NA VAZANTE - Por Socorro Martins


À MARIA E LAURA PIAU. 

Tárcia, escuta minha história
Que foi um causo de fato
Não foi boato ouvido
Não foi causo recontado
Foi uma aflição vivida
E como lição de vida
Vale  a pena se escutar.

Era no tempo da guerra
Fartura de tanto medo
Todo mundo era assustado
Por causa do “estrangero”
E se acaso acontecia
De passar um avião,
O pobre do sertanejo
Encolhia o coração
Pressentindo na zoada
A bomba e a explosão

A gente vivia aqui
No sertão desamparado
Vivia brocando a terra
Pra fazer nosso roçado.

E justo naquele dia,
Meu pai tinha completado
A derrubada da mata
Que ia ser encoivarada.

E a terra, querida, era
Todo um tapete de espinho

A tarde, lá no terreiro,
Eu e Laura descuidadas
Lá pras bandas do chiqueiro
Eu ouvi uma zoada

Quando eu olho para o alto
Tárcia, eu vejo um avião
Vinha voando ligeiro
Vinha trazendo o estrangero
Vinha trazendo explosão
Até hoje eu não sei
O que se passou comigo
Sei que foi minha atitude
Diante do Inimigo.

Gritei por Laura apressada
Pedi pra ela correr
Sabia naquele instante
Que era hora de morrer
E se tinha que assim ser
Eu bem podia escolher
A morte menos pesada.

Eu gritava
Eu corria
Eu chamava
Eu insistia
Eu morria de gritar
Corre Laura
Corre Laura
Laura corre
Laura, Laura
Vamos morrer espinhadas
Mas não ser bombardeadas

E os espinhos entrando
E os espinhos rasgando
Os pés
As pernas
Os vestidos.

E nós correndo assustadas
E o avião chegando
E a gente machucada
E o avião rodando
Nós duas desesperadas
E o avião circulando.

O Avião voou  raso
Passou bem rente das casas
Pegou seu rumo e fugiu.
  
E eu e Laura espinhadas
Na moita refugiadas
Vendo o avião sumir

Ai, Tárcia!!!
Quantos espinhos a gente,
Não sofre por ilusão

“Vamo” Laura, “vamo” embora
Que desta bomba de agora
Nós não “podemo” escapar
Vai ser tanta mangação
Ai, Lairinha, minha irmã
Pra nós duas suportar.

Laura olhou pra mim e disse:
- Vão mangar é de você
Eu nada tenho com isso
Corri pra te obedecer
Você gritou: Corre Laura,
E eu corri pra não morrer.

Vai levanta, vamos Laura
Eu só quero te dizer
Não adianta falar,
Não adianta correr,
Quando a morte vem devera
Não dá pra gente escolher 

E o caso virou piada
Nos encontros de família
Entre morrer espinhada
E morrer bombardeada
Que diferença haveria?

Mas, querida, eu não previa
Que esta vida é uma guerra
E que há bomba e espinho
Espalhado em toda a terra

Peguei tanta bomba feia
Que eu voei pelo ar
Voei feito passarinho
Para depois afundar
Cair de peito no chão
Sair tonta e tateando
Um lugar pra me firmar

Já peguei tanta espinhada
Que até ferida virou
Apostemou e doeu
Mas depois cicatrizou

Eu quero dizer a ti
Que é braba a guerra da vida
Daquele dia de lá
A gente se lembra e ri
Mas das bombas e dos espinhos
Que a vida em nós atira
É melhor não se falar
É melhor deixar pra lá
Porque se for mexer neles
Dá vontade de chorar

E dos espinhos da vida
Não adianta falar
Pois se a gente mexer neles
Dá vontade de chorar

Mas aprendi e te ensino
Guarda bem esta lição
Quem Deus pega pela mão
Nem “espim” nem avião
Impedem de caminhar
Quem Deus pega pela mão
Nem guerra nem aflição
Esbarra seu caminhar
Quem Deus pega pela mão
Sofre, chora, mas levanta
E está sempre a caminhar.



Versos lá de nós - Memória Varzealegrense



O Gosto do Sal - Alex Josberto 


A vida pega gosto no tempero do sal
O suor, as lágrimas, mares e oceanos
Repercutem no mundo físico e astral
Atuando na essência do ser humano

Rituais ativam a intensa cooperação
De egrégoras afins à infinita devoção
Acendendo as sete luzes da Menorá
O incenso queima e libera seus sinais

O contato estabelecido no plano sutil
Areja ambiente estagnado e doentio
Desagrega toda morbidez que origina

O pensamento deletério e a patologia
O espírito elevado protege dos bacilos
Das bactérias e dos vibriões psíquicos 


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


MEMÓRIA - SÁVIO PINHEIRO - Dedicado ao Memória Varzealegrense


O rever retumbante da história,
Das raízes, das lendas, dos costumes
É regar um canteiro de estrumes
Pra colher, no futuro, imensa glória.

É cantar a beleza da vitória,
É enxergar o piscar dos vaga-lumes,
É sentir o bom cheiro dos perfumes,
É guardar o passado na memória.

Ao buscar o valor da exata origem
Sem temer a impureza da fuligem
Faz galgar grande passo, no presente.

E se acaso, existir puro bairrismo,
Marchará para um cosmopolitismo
De maneira solene e permanente.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


QUE - Alex Josberto Andrade Sampaio


Que a fábrica não domine a arte e a filosofia 
Que a perseguição não seja para profetas muros 
Que a covardia não suborne os puros 
Que o poder não cristalize aleivosias 
Que a incoerência 
Que a mentira 
Que a hipocrisia não cooptem a inocência 
Que para o sinuoso abra-se o chão, caia o sobrado 
Que o veneno não seja inoculado 
Que da lama a lótus cresça 
Que agosto não seja desgosto 
Que a culpa não afaste o gozo Que o amor floresça.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


VAZANTE - Socorro Martins

Para Joaquim Nilo  

A Vazante hoje é 
Esta paisagem alterada 
Uma foto antiga em preto e branco 
O sorriso natural de D. Isaura.

A Vazante hoje é 
A Estranha casa familiar de nosso avô 
Uma  cajazeira alheia 
Cercas e poços secos 
Um riacho poluído 
A Capela da agónica despedida 
Este pedaço de braço da cruz de nosso pai 
Esta Pedra 
Esta lasca de pilão 
Esta ausência comprovada 
Pássaros exilados 
“Chagas abertas. 
Corações feridos” e saudosos

A Vazante hoje é 
Esta foto reduzida 
Os terreiros ocupados 
O luar invisível 
As estrelas ofuscadas 
A paz roubada 
A cadeia vizinha.

A Vazante ficou triste. 
Sem a voz de D. Isaura, 
Morreu a Vazante. 
Não mais há pastos para a alegria 
Inexistem os sonhos 
“Não mais há sol bradando nas altura” 
As pessoas viajaram 
Outras, a Vazante esqueceram.

A Vazante hoje,  
Não vaza mais 
Ela retém a dor 
Chora a inocência perdida 
Enlutada!

A Vazante se deixa possuir. 
Órfã, a Vazante se perdeu. 
Rasgada, geme passiva a Vazante. 
A Velha querida Vazante retalhada, 
Inteira apenas em nossos corações vazantes, 
Em nossos olhos de filhos enlutados, 
Em nosso impotente discurso, 
Em nosso silencioso e dolorido lamento. 
Nossa apenas na lembrança 
E no 
Apostemado conflita da separação 
Nossa... No arquivo da memória 
Só  nossa 
Na lembrança que um dia a possuímos 
SÓ NOSSA! 



Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Boa Vista – Canto Elegíaco - Socorro Martins

Para Tônia Pretinho

Boa Vista
Eu te avisto
E te revisto
Em meu álbum de memória

Estás inteira
Faceira
Com todas as tuas casas habitadas
Tuas crianças e moços
Adultos e velhos
Teus cheiros e sabores.

Estás plena.
Em minhas lembranças...
Primeiras imagens
Rostos familiares
1955

A sorridente acolhida da casa de tio Valdemar
O jantar, o doce, o café e o convite a ficar

Ao lado, em seu reduto
Velho Antônio, seleiro relheiro, encurvado...

A casa de Anita, aberta
E ela, bonita, depois da lida
Sentada à porta, a ver a vida...

Na casa de João Pretinho,
uma família,
meninos chegando
meninos crescendo
a luta se refazendo.

A casa de tia Emília
Com seu cercado de plantas
A gentileza de Mundinha
Um sopro de passado.

A casa de tio Julio, bem em frente
Na sala, o retrato de uma prima que não conheci
Ele, sentado à janela
Ou contando fantasiosas histórias na calçada do oitão.

A Casa de Oliveira, depois de Zé
Simpática morada
Parávamos, cumprimentávamos, seguíamos...

A casa grande de tio Luis
Ele, sempre perguntando:
"De quem você é fia?”
“Deus rabençoi”
“Ponde vai tão avexada?”

A casa principal, para mim, era
a casa de minha avó
Com seus quartos vazios,
o oratório cheirando a flores secas,
o retrato do avô e o quadro de Santa Terezinha
Ai cheiros, choros, baús, jiraus e pote de água fria.
Ela, sozinha...
Carregada de lembranças, queixas e conselhos
Espaçosa morada.
Na frente a buganvília roxa
Ao lado, o pé de fícus
No terreiro da cozinha, o pé de “beijo”
As cajaraneiras, a grota, o pé de jasmim

Morada ampla dividida com Tindé
E a elegância de Neli...
Casal singular, diferente
Oásis no deserto:
O doce de lata, o suco, o queijo, os versos
e a ideologia tindenense...

Mais acima, a casa de Tio Raimundo
Limpa
Arejada
Destacada
Com seu cacimbão, cordéis, revistas e
As Primaveras... Tantas vezes lido...

Ao lado, a casa de Caboclo
Na baixa, a de tia Julia
Próximo, a de Luis Pretinho

Eras assim minha bela Boa Vista.

Depois da baixinha a casa de Eliseu
Enfeitada de Toinha
Simpática, hospitaleira
Ao lado, a casa de Celso
humildade materializada
Em brincadeira.

No alto da ladeira, a grande casa!
A Maior, majestosa
Imponente!
Sozinha, dominando a serra,
vigilante
Lá, morava o mais poderoso:
Joaquim de Sátiro
Achava-o bonito,
possante
De terno, em seu cavalo...
Pedia a benção só para lembrar o parentesco...
Lá, morava o moço moreno, mártir no nome, paquerador,
Blindado com o slogan:
“Não cisca que não chega pra teu bico”

Estás assim, minha bela!
Em meu álbum de memória.

Em outra página... apareces esquelética
Reduzida...
Silenciosa
Marcada de doídas cicatrizes
Povoada de fantasmas familiares
e ausências marcantes

Ah! Minha bela Boa Vista
Cegaram-te
Podaram-te os pés de oitis
Morreram as cajaraneiras
O pé de coité... sumiu...
Só a tamarineira resiste, azeda, ao tempo
Riacho seco, riacho morto, soterrado
Lamento
Devastaram-te
Fugiram de ti os jovens
Transferiram-se os idosos
Resistem alguns na linha de frente
E tu, torrão amado,
Vermelho como o sangue de nossas veias
Tu, poço de lembranças, de feridas abertas
Tu, desafias o tempo e calada assistes
Ao passar dos dias
Ao chegar das novas
Ao mudar das noites
E, tua túnica rasgada a cada perda
Está rota
Molhada de saudade
Tu resistes como um doente em fase terminal
Intoxicada de lembranças

Respiras pelos fios do passado...
Desafias a ti mesma
És um retrato alterado do que foste
Sangras
Anêmica, definhas e fazes vazar
o coração de tua gente.
Ah! minha bela Boa Vista “é a vida, é a vida, e é a vida.”

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Várzea Alegre - Socorro Martins

Cidade hoje saudade
Lembrança agradável ou não
No túmulo do teu passado
Enterrei minha ilusão

Teu riacho de água doce
Levou a doce canção
E a fantasia bonita
Que enfeitou meu coração

Lá, na pracinha do centro,
Entreguei meu pensamento
Ao rapaz que volteava
E volteei pela vida
E as juras de amor, perdidas
Pedrdidas por lá ficaram

O manto da minha fé
Ficou no altar do santo
Manifestada no canto
Que as vezes eu desenterro

Como a jurema sem seiva
Reclama o inverno antigo
Eu, nesta minha cantiga,
Procuro os fios da teia
Procuro achar a saída
No labirinto-cadeia
Insisto em desvencilhar-me
Do certo que me rodeia

Procuro tuas procissões
Tuas festas natalinas
Teu jeito infantil e tímido
De uma cidade menina

Mas a menina cresceu
E tem jeito de mulher
É toda dengo e trejeito
Ama e desama a quem quer

Se tu a min devolvesses
Minhas pessoas amadas
Se de volta eu encontrasse
Minhas ilusões aladas
Se na Vazante estivesse
Meu pai que há muito dormiu
Se na rua eu encontrasse
A velha casa do tio
Eu também te entregava a menina que partiu

Ah! Minha Várzea perdida
Em cada pedaço teu
Há um cheiro de saudade
De um tempo que se perdeu
Há um gosto de soluço
De um choro que se escondeu
Há duas mãos lamentando
O abraço que não veio

E se tu não és a mesma
Outra agora eu também sou
E da menina de ontem
Só a poetisa restou



Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Antipoema - Paulo Viana


Este sol madorrento
Com sua luz crepuscular
Anuncia que o tempo se esvai
Algoz inevitável do ser
E se o tempo passar
E se a vida ruir
Mostra que estou vivo
E que não vou desistir

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Abraço - Paulo Viana

Dobro meu braço direito
Curvo o esquerdo também
Encosto no peito de alguém
Junto os braços com jeito
Faço um encaixe perfeito
Tão suave como um laço
Construindo passo a passo
De dois corpos formo um
Não há no mundo nenhum
Gesto bom como um abraço


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Cais - Paulo Viana

Submerso no esplendor da vida
Dessa ilusão de dores tão reais
Vou navegando em busca de um cais
Em rota cega e desconhecida
Mas a esperança não está perdida
E nem o estímulo para navegar
Mesmo que nunca possa encontrar
Um porto firme para meu navio
Fico à deriva como um desafio
De ter um sonho pra realizar


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense



ESTUDANTE, QUEM DERA? - Liduína Sousa


Quem dera que o estudante 
Por si se desse valor
Estudasse com vontade
Sem martírio e sem pavor
E viesse perceber 
Que a arma do saber 
É que o torna senhor

Quem dera que todo mundo
Se tornasse um estudante
Vivesse por toda a vida
Buscando um saber adiante
Não se cansasse da luta
Mesmo que fosse a labuta
O seu maior comprovante

O seu maior comprovante
Seria a sua vontade 
De buscar conhecimento
Não importando a idade
E prosseguisse com fé
Homem, menino e mulher
Em busca da identidade

Identidade que faça 
Desse estudante uma era
Para que possa valer
O que convém e pondera
E no estudo aprendido
Nunca ser repreendido
Esse estudante, quem dera?

Quem dera que qualquer um
Ou todos, sem exceção
Fizesse valer em si
Um comprovante padrão
De lutar com muito jeito
E colocar mais respeito
Na nossa grande nação

Quem dera que o estudante
De hoje, mesmo criança
Já conhecesse o estatuto 
Desse Brasil confiança
Pois iria conquistar
Ou mesmo acreditar
Que ainda resta esperança

Quem dera que o estudante
Nessa sua profissão
Batalhasse com afinco
E descobrisse uma ação
De buscar com mais respeito
E colocar no seu peito
O rótulo de um cidadão

O rótulo de um cidadão
Tornar-se-ia o momento
De então se comprovar 
Que não precisa lamento
Pois a sua altivez, 
Tendo voz e tendo vez
É seu melhor documento

Quem dera que o estudante
Daqui ou qualquer lugar
Buscasse aprender com jeito
O senso de criticar
Assim seria melhor
Pois em tudo ao seu redor
Já poderia opinar

Que soubesse criticar
De um modo construtivo
E que não fosse tão só
Mais um jeito dedutivo
De arrumar a razão
E fazer da educação
Um campo valorativo

Quem dera que toda a equipe
Que faz a educação
Trabalhasse com vontade 
De mudar nossa nação
Valorizando o estudo
E vendo valer que tudo
Depende da união

Fugi do título abordado
Mas o fiz proposital
Pois não se faz estudante
Aceitando-o como tal
É preciso convidar
Pra que venha criticar
Se a escola vai mal

Quem dera que esse mesmo 
Estudante de então
Viesse deixar aqui
Sua palavra em ação
E fizesse comprovar
Que iria então deixar
Uma grande sugestão

Quem dera que o estudante
Não levasse em brincadeira 
Que seu ato de agir
Fosse levantar bandeira 
Só buscando crescimento
Para que em nenhum momento
Viesse fazer asneira

Quem dera que cada um 
Abrisse bem sua mente
E fizesse então fluir
Uma ideia presente
Traria quem sabe um jeito
De se tornar com respeito
Um cidadão consciente

Quem dera que esse escrito
Não se tornasse imaturo
O estudante teria
O seu saber bem mais puro
Ele iria, lá na frente
Valorizar o presente
Da escola do futuro

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Opção - Paulo Viana


O umbral sombrio surrealizou-se
Em sonho tenebroso
De abismo infindo e escuro
Com a luz brilhando ao longe
Um convite ao indeterminado
Mas o desejo de continuar em brilho
Consumindo-se em vida ativa
De abraçar as ilusões
Protagonizar os próprios medos
Sentir prazer e dor
Porque só vivos temos opções
E a minha é cumprir todo o ciclo
Com a permissão das circunstâncias

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Sentimento - Paulo Viana


Já tentei definir a solidão
O amor, a loucura e a saudade
Refleti sobre a felicidade
E pensava entender o coração
Porém tudo era só opinião
Impressões que se tem no pensamento
Mesmo sendo com aprofundamento
Na ciência ou na filosofia
Sem sentir ninguém sabe o que seria
A grandeza que tem o sentimento

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Viagem - Paulo Viana


Sob meus calcanhares o caminho
Pisado entre a ternura e a firmeza
Traçado no covil de leões
Que, domados, me servem a força
Para que não se me dobrem as pernas
E possa seguir nessa jornada humana
Tendo outros olhos  como luzes suplicando olhares
Castiçais de ouro, com janelas brilhantes
De almas entrelaçadas que se fundem
Na incessante busca do amor
Salpicando suas vivências no exercício do ser
Pequenos universos em jardins espirituais
Com os quais disseco minha solidão


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Outubro - Paulo Viana


Bela tarde que o outubro inventa
Sol em céu azul feito do nada
Nuvens brancas, plumas desgarradas
Outras cheias, um pouco cinzentas
Primavera que nos acalenta
Noite em lua, clara, já tardia
Presunçosa, imitando o dia
Dos noturnos, aos olhos, dá luz
Natureza que a mim seduz
E enfeita minha poesia


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


O ENTERRO DO ANÃO - Por Mundim do Vale


O povo vive dizer
Aqui por esse sertão
Que é difícil acontecer
Um enterro de anão.
Pois eu vi um começar,
Só não vi foi terminar
Porque o caixão quebrou.
Para não sair do rumo
Eu vou fazer um resumo
Como tudo começou.

Ali na Vila Silvino
Onde entrou aquele moço
Eu estranhei um menino
Que falava muito grosso.
Mas eu estava enganado
Era um homem já formado
Fugindo do preconceito.
Depois que foi descoberto
O anão ficou esperto
E assumiu o defeito.

Pense! Num anão fiota!
Não perdia uma festança,
Quando alguém cobrava a cota
Se fazia de criança.
Começou logo a fumar,
A beber cana e jogar
Só andava cabeludo.
Seu nome era Zé por Deus,
Mas mesmo os amigos seus
Só chamavam Zé Miúdo.

Por onde o anão andava
Já era bem conhecido
O que ele não gostava
Era de tanto apelido.
Era Santo de Lapinha,
Zé Miúdo, Zé Tampinha,
Meio Quilo e Botijão.
As damas do cabaré,
Só chamavam Zé Tripé
E eu não sabia a razão.

Zé queria namorar
Não arranjava com quem
Quando conseguiu casar
Foi com uma anã também.
Ficou o casal perfeito
Vivendo do mesmo jeito
De Julieta e Romeu.
Mas quando foi em setenta,
Do coice duma jumenta
Zé Miúdo faleceu.

O velório foi marcado
Por tristeza e comoção
Mas tinha um cabra safado
Só apelidando anão.
Ele chamava Patola,
Chico Pouco, Tatu Bola,
Meia Lua e Batoré.
Pouca Sombra, Zé Nadinha,
Nó de cana, caçulinha,
Meia Sola e Roda Pé.

O carpinteiro chegou
Esticou logo a escala
E ao mesmo tempo falou
Para a viúva na sala:
- Esse caixão vai ser osso!
Tem que fazer curto e grosso
Como baga de charuto.
Deus perdoe minha heresia,
Mas vai ser uma ironia
Viúva de anão de luto.

Dizendo isso saiu
Com um projeto em ação
De aproveitar um barril
Para enterrar o anão.
Serrou um lateral,
Fez uma tampa frontal
E pintou tudo de roxo.
Tinha uma velha correia,
Ele botou como azeia
Ficou parecendo um coxo.

Quando o funeral chegou
Na ladeira de Orlando
A azeia se quebrou
E o barril saiu rolando.
Cada volta que ele dava,
Uma arca se arrancava
Era anão pra todo lado.
Quando sentou a poeira,
Lá em baixo da ladeira
Só ficou mesmo o finado.

Depois do barril quebrado
O anão ficou de pé
Ficando assim explicado
O apelido Zé Tripé.
Depois daquela aventura,
Se ele foi pra sepultura
Eu não posso garantir.
Mas vi viúva chorando,
Vi o padre encomendando
E vi o barril sair


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


DITOS POPULARES - Por Mundim do Vale


Toda moça que é bulida
Fica na rua falada,
Enquanto mulher perdida
É sempre a mais procurada.

Todo mundo desconfia
Quando é grande a amizade,
Quem teme pedofilia
Não senta em colo de frade.

Quem não gosta de fofoca
Não sai com moça falada,
Quem tem nojo de minhoca
Não come macarronada.

Não vote em incompetente
Ligado a corrupção,
Quem faz de cachorro gente
Fica com o rabo na mão.

Não dou valor a campanha
Nem acredito em propostas,
Em rio que tem piranha
Jacaré nada é de costas.

Não venha com esse papo
Que eu acho muito estranho,
Em lagoa que tem sapo
Mosquito não toma banho.

Eu não entro nesse jogo
De pichador de parede,
Porque quem brinca com fogo
De noite urina na rede.

Quando o assunto é fiado
Bodegueiro não concorda,
Em casa de enforcado
Nunca é bom falar em corda.

Não fale da minha rima
Que a rima é coisa rara,
Se você cuspir pra cima
O cuspe volta pra cara.



Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


GAROTO PROPAGANDA - Por Mundim do Vale


Não ganhei nenhum presente
Na passagem do natal,
Porque Noel não é gente
É um boneco virtual.
Fui dormir na esperança
De ganhar uma lembrança
Mas perdi a minha fé.
Na hora que acordei,
Na meia só encontrei
O mal cheiro de chulé.

Fiquei mais contrariado
Porque um vizinho meu
Mostrou um carro importado
Que papai Noel lhe deu.
Será que o bom velhinho,
Enxergou só meu vizinho
Porque anda caducando?
Ou será por preconceito,
Que ele age desse jeito
Só de rico se lembrando?

Já perdi esperança
Nesse Noel trapaceiro
Que só visita criança
Se o pai tiver dinheiro.
Pois eu lhe digo, Noel:
- Eu tenho um pai lá no céu
Que não gosta, disso não.
Quando seu filho nasceu,
Foi pobre assim como eu
Mas deixou uma lição.

Você com o seu saco cheio
E a bengala na mão
Onde tiver aperreio
Não passa por perto não.
Não conhece favelado,
Filho de desempregado
Subproduto de gente.
Porém a casa bonita,
No natal você visita
Para deixar o presente.

Será se você existe
Ou não existe sou eu?
Eu tou aqui muito triste
Por conta do jeito seu.
Passou cantando: - Ou, ou, ou....
Mas comigo não deixou
Nem um pequeno peão.
Ficou seco, o saco seu,
Mas você encheu o meu
De revolta e exclusão.

Você só não sabe disto
Porque é um boneco mal
Mas é para Jesus Cristo
Toda festa de natal.
Você só gosta do cobre,
Não anda em casa de pobre
Porque a mídia não manda.
É uma peça do mercado,
Que foi muito bem treinado
Pra garoto propaganda..



Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


APAGÃO & COMPANHIA - Por Mundim do Vale


O apagão vai voltar
Já não é mais novidade
Muita luz vai apagar
No sertão e na cidade.
É na hora do apagão
Que alguém vai meter a mão
Vai ser um Deus nos acuda.
Pra roubar o BANPARÁ,
SUDENE no Ceará
A escuridão ajuda.

Essa crise é invenção
De um governo inconseqüente
Que enganou a nação
E se tornou prepotente.
Não tem apagão que faça
Com que acabe a desgraça
Nem que o mal se repita.
Para investir em rã
Com dinheiro da SUDAM
O apagão facilita

Se voltar a lamparina
Com certeza falta gás
Para fazer mais usina
O governo é incapaz.
Com nossa luz apagada
Ninguém pode fazer nada
Nesse mundo de Jesus
Mas para o juiz Lalau,
Malinar em tribunal
É muito melhor sem luz.

Era somente essa falta
Que faltava acontecer
Inflação e taxa alta
Já é costume se ver.
Tem falta de honestidade,
Falta de capacidade
E até de cidadania.
Mas afogar petroleiro,
Sem deixar nenhum roteiro
É melhor sem energia.

Escuro é bom pra dançar
Mas é ruim de passar troco
Muito bom pra namorar
Mas depois vem o sufoco.
A crise pode ser boa
Para uma certa pessoa
Que fica em cima do muro.
Para esse tal fulano
Agir por baixo do pano
É bem melhor no escuro.

A crise faz esquecer
Outro problema maior
Eu só queria saber
Do dinheiro do FINOR.
Pelo que eu entendi
Abortaram a C.P.I.
Apenas molhando a mão.
Imaginem minha gente,
O que vai vir pela frente
No país do apagão.

São Pedro não é culpado
Pela ação do humano
O erro foi concentrado
Num presidente tucano.
O inferno fez convenção
Juntou tudo quanto é cão
E Satanás decidiu:
- Vamos deitar e rolar,
Fraudar e depois negar
NO APAGÃO DO BRASIL.



Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


CONVERSA DE ELEITOR - Por Mundim do Vale


Nos pequenos versos meus
Eu tenho sempre frisado
Que político é filho de Deus
E eleitor só enteado.
Tão vendo aquela mansão?
Ali mora um cidadão
Que se elegeu deputado.
Mas depois que foi eleito,
Não ficou do mesmo jeito
Mudou feito um condenado.

Vivia na nossa rua
Comia nosso feijão
Hoje se esconde na sua
Morando nessa mansão.
A gente passa é por tolo
Porque aperta um bidolo
E ouve uma voz dizer:
- O doutor tá em Miame
E por favor não me chame
Que eu tenho o que fazer.

Não tinha medo do sol
E andava apenas num jipe
Assistia o futebol
Torcendo por nossa equipe.
Deu pra nós onze chuteiras,
Mais um par de joelheira
E uma bola oficial.
Trouxe um moço pra filmar
E levou nós pra jogar
Na cidade de Chaval.

Deu pras filhas de Bené
Umas fotos com molduras
Na vila de Josué
Distribuiu dentaduras.
Registro de nascimento,
Certidão de casamento
Deu até pra quem já tinha.
Na casa de Soledade
Tinha tanta liberdade
Que comia na cozinha.

Todos são do mesmo jeito
Sempre aconteceu comigo
Qualquer candidato eleito
Fica da gente escondido.
Depois que assume o mandato
Só se ouve o candidato
Em rádio e televisão.
Se mete com cambalacho,
Fica pra cima e pra baixo
Passeando de avião.

Já se aproxima a campanha
Ele não tarda a chegar
Mas ninguém aqui se acanha
De mandar ele voltar.
Tá fazendo quatro anos
Que ele veio com seus planos
Se elegeu, ninguém mais viu.
Agora vá pedir voto,
Dando dentadura e foto
Lá na puta que o pariu.




Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


É o novo!- Mundim do Vale


Um amigo me pediu
Pra fazer uma rima antiga,
E da cabeça saiu
Constipação e fadiga.

Forcei minha paciência
Me lembrei de saliência
De apocada e sisuda.
Lembrei de moça falada,
De mulher amancebada,
De teúda e manteúda.

Me lembrei de taboada
Para ensinar a contar,
Lembrei quando era cobrada
A minha taxa escolar.

Lembrei revista cruzeiro,
Papel almaço, tinteiro,
Pena e o mata-borrão.
Lembrei de aluno pescando,
E a professora brigando
Com a palmatória na mão.

Me lembrei de andajá,
De enganador de apito,
Bolo ligado, aluá,
E taboa de pirulito.

Puxei mais pela memória,
Lembrei de cigarro astória,
Continental e elvira.
Lembrei chiclete de bola,
Quebra queixo, mariola
E de mel de jandaíra.

Lembrei roleto de cana
E papa de carimã,
De prato de porcelana e
Pastilha de hortelã.

Falei em gripe asiática,
Em cola de goma arábica,
Jardineira e marinete.
Falei em réis e tostão,
Cueca samba canção,
Suco de uva e grapete.

Falei em fogão jangada,
Em cepo de caminhão,
Isqueiro sete lapada
E na dança de feição.

Lembrei de bingo dançante,
De caixeiro viajantee
De bica jacaré.
Falei em vento caído,
Catapora, estalicido,
Pereba e bicho de pé.

Lembrei de blusa banlon,
De riri, de gigolé,
De música de Roni Von,
De frejo e de cabaré.

Sem perguntar a ninguém,
Lembrei foguista de trem,
Pastorinha e sacristão.
Lembrei de bola de meia
Bingo de galinha cheia
E de jogo de gamão.

Das coisas que me lembrei
Teve sabão de tinguí,
Cana madeira de lei
E a velha t.v. tupi.

Relógio de algibeira,
Espingarda socadeira,
Show de Tonico e Tinôco.
Caco de torrar café,
Frasco de guardar rapé,
Rosário feito de coco.

Não esqueci de lambreta
O transporte do playboy,
Me lembrei de carrapeta,
De corrupio e rói rói.

Lembrei jogo de peteca,
De relancim e sueca,
De lu e cara ou coroa.
Também lembrei mina avó
Que fazia pão- de- ló,
Manzape, sequilho e broa.

Também lembrei Ludugero
Mandando Otrope calar,
A marcha “ mamãe eu quero
Mamãe eu quero mamar.

“Da revista luluzinha,
Das músicas de emilinha,
E o livro capivarol.
Lembrei de disco de cera,
De pingüim de geladeira,
De quartinha e urinol.

Eu me lembrei de frasqueira,
Bateria pra panela,
De bule, de cristaleira,
Colher de pau e sovela.

Perguntei a um beradeiro
Quem foi que nasceu primeiro
Se foi o pinto ou o ovo.
Quando mostrei esse verso,
Pensando ser um sucesso
Ele me disse: - è o novo!

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


O SERTÃO FOTOGRAFADO - Por Mundim do Vale


Meu nome é Mundim do Vale
Lá do Vale do Machado,
Nesse verso eu vou falar
Do sertão que fui criado.
Um galo na cumieira
E um pote na cantareira
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Uma carroça de lenha
Com um doido amorcegado,
Moça nova namorando
Com um velho aposentado,
Um caçuá de cabaça
E um pau de sebo na praça
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Um matuto num comício
Com o braço levantado,
Um puxa saco gritando:
- Viva o Doutor deputado!
E o deputado arredío,
Com um descurso vazio
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Uma recua de menino
E a mãe naquele estado,
O pai com um na corcunda
E o mais novo pendurado,
Coisa assim de retirante
Que também é penetrante.
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Um taco de rapadura
Um jerimum cozinhado,
Uma cuia de farinha
Para um pirão escaldado,
A miséria da carência
E a falta de assistência
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Uma barraca de lona
Um lambe-lambe de lado,
Uma ruma de eleitor
Cada qual mais apressado,
Tudo tirando retrato
Por conta de um candidato
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Escola funcionando
Faltando ainda o telhado,
O prefeito inaugurando
Entregue como acabado,
E um fiscal da educação
Presente a inauguração
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Um pingüim na geladeira
Um guarda-sol pendurado,
Um cigarro na orelha
De um velho viciado,
Um devoto de São João
Descalço na procissão
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Uma quenga embriagada
Discutindo com um soldado,
Um velho com um ramo bento
Para tirar mal olhado,
Uma macaca indiscreta,
Um padre de bicicleta
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Um conterrâneo chegando
De São Paulo, endinheirado,
Com um relógio oriente
E um gravador de lado,
Falando: - Quanto que é?
Oh bicho, meu e qualé
É O SERTÃO FOTOGRAFADO.

Metade da minha vida
Morei perto do roçado,
Hoje moro mais distante
Mas ainda estou lembrado,
Quanto assisto cantoria,
Estou vendo com alegria
O SERTÃO FOTOGRAFADO.

M eu verso faz muito bem
U rbaniza a boa mente,
N ão dar espaço a alguém
D e me achar indecente,
I sto faz com que eu faça
M ais versos pra nossa gente.

Essas são algumas estrofes do nosso trabalho. O sertão fotografado. Não foi postado na ítegra em virtude de ser muito longo. Se alguém interessar o trabalho completo, é só me cobrar nesse endereço: (mundimdovale@hotmail.com)

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


CARTA DE PERO VAZ - Por Mundim do Vale

POESIA LIMEIRIANA


Meu generoso amigo Mundim do Vale me enviou mais uma de suas obras. Dessa vez o tema é a carta escrita por Pero Vaz, quando do descobrimento do Brasil. Só que em uma versão limeiriana, que todo mundo sabe que era fantástico em rima e métrica, mas deixava a desejar na fidelidade aos fatos históricos. Afinal é de Zé Limeira a glosa que diz:

Pedro Álvares Cabral
Inventor do telefone
Começou tocar trombone
Na banda do Zé Leal.
Mas como tocava mal
Injeitou três instrumento
Jesus saiu lá de dento
Correndo atrás duma lebre
Quem for podre que se quebre
Diz o novo testamento.

Vejamos como ficou a carta limeiriana de Mundim do Vale. E obrigado, Mundim, por mais essa colaboração!

Carta de Pero Vaz segundo Zé Limeira - Mundim do Vale

Certa vez lá em Natal
Limeira tava cantando
Todo tempo misturando
Mossoró com Portugal.
Falava de carnaval
Numa casa de farinha,
Até que Zé de Ritinha
Perguntou: - Tu é perito?
Pois rime o que tava escrito
Na missiva de Caminha.

Rimo porque sei rimar
Carta, recado e cartilha
Tratado de Tordesilha
E Cabral em alto mar.
Rimo o rei a reclamar
Das viagens da rainha,
Gastando tudo que tinha
De Portugal pro Egito.
E agora rimo o escrito
Da missiva de caminha.

A carta:

Senhor rei de Portugal
Aos vinte e nove de abril
De um tronco de pau Brasil
Escrevo a carta real.
A viagem foi normal
Com as graças de Jesus
Que nos mostrou uma luz
Para uma ação pioneira.
Onde ergui sua bandeira
Na terra de Vera Cruz.

A terra aqui é tão boa
Que até já me acostumei
Confesso para o meu rei
Que já esqueci Lisboa.
A nativa sobe à toa
Na árvore pra chupar manga
Vestida só com uma tanga
Com o peito descoberto.
A gente olha bem de perto 
E danada nem se zanga.

Não vou mais voltar aí
Pra não ter que trabalhar
Pois levo o tempo em pescar
E comer Índia tupy.
Vou ficar mesmo é aqui
Porque não sou abestado
Me esqueça no seu reinado
Que aqui tudo é maravilha.
Já comi até a filha
Do chefe Touro Deitado.

Tou fazenda um relatório
De tudo que acontece,
Dos índios fazendo prece
Na frente do oratório.
Já montei meu escritório
Na taba do feiticeiro,
Mas mande pena e tinteiro
E também papel paltado,
Que estou comprando fiado
De um cigano estradeiro

Os ídios quarem adotar
O costume português.
O vício da embriagues
E a mania de trocar.
Não tenho como evitar
Essa permuta ilegal
Porque o próprio Cabral
Vive trocando arruela.
E até a índia mais bela
Já foi trocada por sal.

Quero também avisar
Pra meu rei tomar ciência
Que precisa providência
Urgente nesse lugar.
Os europeus vão chegar
Mudando a religião.
Vai chegar também ladrão
Para furtar à vontade,
Daí nasce a impunidade
Para a futura nação.

Chegou aqui um francês
Que é metido a bichinha
Ele esculhamba a rainha
E tudo quanto é português.
Aconteceu certa vez
Aqui no Monte Pascoal
Que ele assediou Cabral
Oferecendo o caneco.
Cabral quase teve um treco
Lá dentro do matagal.

Aqui já apareceu
O tal do esquentamento
Precisa medicamento
Que muita gente morreu.
Escute esse servo seu
Pra coisa não desandar,
A corte tem que mandar
Um médico para esse povo.
Eu mesmo já tou com um ovo
Em tempo de cozinhar.

Aqui já tem confusão
De índio com português
Já é a terceira vez
Que eu faço intervenção.
O nativo faz questão
De uma vida reservada,
Sem calçar nem vestir nada
E meu rei tem que entender
Que faz gosto a gente ver
Uma nativa pelada.

Prepare um navio cargueiro
Pra trazer equipamento,
Mande birô e acento
Pra seu fiel cavalheiro.
Eu passo um mês inteiro
Vivendo nesse sufoco
Recebendo muito pouco
Nessa minha sub-vida.
Já tou com a bunda doída
De viver sentado em toco.

O meu rei deve lembrar
Que a terra foi Deus que deu,
Depois vem o europeu
Querendo se apossar.
Os índios não vão gostar
Dessa perversa invasão
E vão entrar em questão
Mas não vão levar vantagem,
Porque somente a coragem
Não pode vencer canhão.

Não é bom meu rei mandar
Jogadores nem detentos
Pois esses maus elementos
Só servem para furtar.
É bom a corte cortar
O mal cheiro pela essência,
Pra não gerar descendência,
Dessa raça malfazeja.
Evitando que um esteja
Um dia na presidência.

Sei que vossa majestade
É o nosso rei soberano
Mas desenvolvi um plano
Pra essa comunidade.
Mostre a vossa autoridade
Agindo com inteligência,
Munido de coerência
E coragem pra reinar,
Na hora de decretar
O ato da independência.

Se um dia meu rei vier
É melhor que venha só
Aqui se arranja xodó
Porque não falta mulher.
Índia não sabe o que quer
Nem manda botar baralho.
E pra findar meu trabalho
Assino na última linha.
Seu Pero Vaz de Caminha
Sarney Magalhães Barbalho.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense



CANTA CANTA, VIOLEIRO - Por Mundim do Vale


CANTA CANTA, VIOLEIROQUE O BRASIL QUER TE OUVIR.


Canta canta, cantador
Canta canta, sem parar,
Faz tua voz ecoar
Nesse Brasil trovador.
Seja um bravo lutador
Pro repente não cair,
Faça a viola subir
Levando seu violeiro
CANTA CANTA, VIOLEIRO
QUE O BRASIL QUER TE OUVIR.

Teu repente é alegria
Para o povo do sertão,
Tu canta Frei Damião
E o povo na romaria.
As novenas de Maria
E os fiéis a seguir
Com vontade de pedir
Proteção ao padroeiro.
CANTA CANTA, VIOLEIRO
QUE O BRASIL QUER TE OUVIR.

Com a tua resistência
Teu canto não vai morrer,
Canta para o Brasil ver
Tua grande eficiência.
Mostra a tua competência
Que teu verso há de fluir
E com sucesso atingir
Todo o mapa brasileiro.
CANTA CANTA, VIOLEIRO
QUE O BRASIL QUER TE OUVIR.

Mostra quem foi que cantou
A vida desse nordeste,
Quem foi “O cabra da peste”
Que Patativa falou.
Prova que nunca deixou
A viola se extinguir,
Faz teu canto evoluir
Por este Brasil inteiro.
CANTA CANTA, VIOLEIRO
QUE O BRASIL QUER TE OUVIR.

Improvisa o teu mourão
E afina a tua viola,
Pois só tu, é quem consola
O povo desse sertão.
Deus pega na tua mão
E mostra como seguir,
Pra você não desistir
De seguir o seu roteiro.
CANTA CANTA, VIOLEIRO
QUE O BRASIL QUER TE OUVIR.

Ninguém cança de escutar
Teu verso metrificado
No martelo agalopado
Ou galope a beira mar.
É o poeta popular
Na luta pra conseguir,
Que um dia venha assumir
O seu lugar verdadeiro.
CANTA CANTA, VIOLEIRO
QUE O BRASIL QUER TE OUVIR.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


AQUECIMENTO GLOBAL - Por Mundim do vale


Lendo o excelente poema ECOLOGIA, do poeta conterrâneo Aldenísio Correia, resolví mostrar essse trabalho.

Meu caro amigo leitor
Eu peço atenção total,
Vou rimar nesse cordel
A causa de um grande mal.
A doença do planeta
E o aquecimento global.

É notório a nossa gente
Se queixando do calor,
O mar muito revoltado
Distribuindo o terror.
Só pode ser represália
Contra o homem predador.

Deus não fez o ser humano
Desprovido de noção,
Deu a ele inteligência
Para ser um bom cristão.
Mas ele desobedece
Causando a poluição.

Peço perdão ao leitor
Por também contribuir,
Pois o cigarro que fumo
Sei que chega a poluir.
Mas eu pretendo deixar
Se meu bom Deus permitir.

Deus cultivou a floresta
Adubando com amor,
Agora vem qualquer um
Especulando o valor.
Por isso eu digo que o homem
É o maior predador.

O problema permanece
Em cada esgoto entupido,
Na chaminé fumaçando
E no rio poluído.
No lixo sobre as lagoas,

No mangue sendo invadido.
A derrubada de árvores
A indústria de carvão,
A queimada de florestas
E o cano de escapação.
São responsáveis diretos
Precisam de contenção.

Agressão ambiental
É um fato em evidência,
O cidadão mais humilde
Agride na inocência.
Mas tem especulador
Que age com consciência.

Eu já rimei o problema
Vou rimar a solução,
Só finda o aquecimento
Parando a poluição.
Conservando os animais
Mantendo a vegetação.

Para um futuro feliz
Precisamos nos unir,
Estruturando o presente
Para aguardar o porvir.
Se acontecer o contrário
O planeta vai sumir.

Se o meu cordel alcançar
Gente de bom coração,
Vou ficar muito feliz
Pela contribuição,
Pedindo a Deus que ajude
Na busca da solução.

Se o verso ofender alguém
Me desculpe o proceder,
Não tive aqui intenção
De a ninguém ofender.
Só apontei solução
Pra terra sobreviver.

No cordel dei meu recado
Espero que alguém mais fale,
Pra defender o planeta
Não há ninguém que me cale.
Por isto eu assino embaixo
Poeta: MUNDIM DO VALE.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense



AJUDANTE DO BRASIL - Por Mundim do Vale.


O fantástico apresentou
Em matéria sistemática
Campeão de matemática
Que Várzea Alegre mandou.
O garoto até falou
Com o seu jeito infantil:
- A educação juvenil,
Com boa vontade muda
Hoje o Brasil me ajuda
Depois ajudo o Brasil.

Garoto determinado
Deu exemplo ao estudante
Que tem saúde bastante
E anda em carro importado.
Depois fica reprovado
Vai pra recuperação
Repete a decepção,
Enquanto um deficiente
Foi até o presidente
Emocionar a nação.

Falei em deficiência
Mas pretendo corrigir
O garoto há de sair
Do estado de carência.
Ele tem inteligência
Ainda com pouca idade,
Pra conter dificuldade
Imposta pelo destino.
Pois tem aquele menino.
Futuro e prosperidade.

A sua limitação
E uma vida sofrida,
Foi o ponto de partida
Para condecoração.
Quem mora aqui no sertão
Tem a plena consciência,
Que existe deficiência
De educação e transporte.
Porém Ricardo foi forte
Comprovando eficiência.

Várzea Alegre despontou
Na mídia nacional
E o gestor municipal
Muito contente ficou.
Foi ele quem indicou
Um jovem de qualidade,
Que mostrou capacidade
Erguendo a nossa bandeira.
E assim Ricardo Oliveira
Projetou nossa cidade.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense



A Salva do Meio Dia - Por Mundim do Vale.


Tudo quanto é atração
Na festa de agosto tem
Artista que vai e vem
Para o Creva e o calçadão.
Tem até um barracão
Onde se faz cantoria,
Recital de poesia
E o toque de sanfona.
Mas o que me emociona
É A SALVA DO MEIO DIA.

Os músicos fazem fileira
Pela rua principal
Nessa hora o pessoal
Já vai subindo a ladeira.
Quando o pano da bandeira
Balança na ventania
Vai provocando alegria,
Na mocinha da varanda.
Que desce e acompanha a banda
PRA SALVA DO MEIO DIA.

Quando a banda tá tocando
Na salva do padroeiro
A calçada do cruzeiro
Fica cheia esborrotando.
Chico Carrim vai chegando
Aciona a bateria,
A multidão esvazia
Depois volta com cuidado.
Para escutar um dobrado
NA SALVA DO MEIO DIA.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense



MOURÃO - Por Dedé França e Mundim do Vale


Dedé:
Seu Mundim tenha cuidado
Quando bulir com Dedé.

Mundim:
Eu estou bem preparado
E no mourão tenho fé.

Dedé:
Você não sabe o que faz,
E além de tudo Morais
Não brigo com batoré.

Mundim:
Rimo sem quebrar o pé
Meu repente é vuco-vuco.

Dedé:
Você tá ficando doido
Pra mim você é maluco.

Mundim:
Doido pra brigar com alguém,
Nunca perdi pra ninguém
Quanto mais para um caduco.

Dedé:
Me disseram em Pernambuco
Que você lá foi vaiado.

Mundim:
Mas isso é sua mentira
Poeta mal informado.

Dedé:
E aqui só leva a pior,
Além de ser o menor
Só rima de pé quebrado.

Mundim:
Quem aqui está quebrado
É o vate do cariri.

Dedé:
Estou inteiro danado
Não vejo poeta aqui.

Mundim:
Você tá só a metade,
Conhecido na cidade
Por roedor de piquí.

Dedé:
Peça pra fazer xixi
Que você já tá molhado.

Mundim:
Melhor eu sair daqui
Que o velho é abusado.

Dedé:
Abuso no meu terreno,
Pois você é tão pequeno
Que não alcança num dado.

Mundim:
Sou um pequeno afamado
O tamanho na importa.

Dedé:
Um anão desaforado
Não grita na minha porta.

Mundim:
Grito e faço desaforo,
Não tenho medo de coro
Sou anão da carga torta.

Dedé:
Veja como se comporta
Poeta de rima bamba.

Mundim:
Sou valente comportado
E nunca vendi muamba.

Dedé:
Mas comigo é diferente,
Você nunca foi valente
Seu tamborete de samba.

Mundim:
Deixe a casca de mutamba
E mude pra catuaba.

Dedé:
O meu tesão e a rima
Vai e vem e não se acaba.

Mundim:
A mulher e a poesia,
Hoje lhe dão é azia
Nem rima mais, nem enraba.

Dedé:
Seu comedor de piaba
Não bula nesse terreno.

Mundim:
Eu bulo e não tenho medo
Sou cobra que tem veneno.

Dedé:
É cobra que não provoca,
Pelo tamanho é minhoca
Tudo em você é pequeno.

Mundim:
Sou um poeta sereno
Sua altura não me abala.

Dedé:
Onde tem poeta alto
Poeta baixo se cala.

Mundim:
Pra fazer você sofrer,
Eu só preciso esconder
Sua maldita bengala.

Dedé:
Você hoje aqui se entala
Vai rimar de marcha ré.

Mundim:
Só se você arranjar
Meia dúzia de Dedé.

Dedé:
Já cantei com gente boa,
Hoje tou cantando à toa
Com um poeta roda-pé.

Mundim:
Eu não sei você quem é
Se é gente ou é jerico.

Dedé:
Dentro da sua malota
Eu vi maracá e bico.

Mundim:
E na sua tem torrado,
Cobrança de advogado
Um rosário e um penico.

Dedé:
Nesse lugar eu não fico
Pois não tem competição.

Mundim:
Vá dormir na preguiçosa
Que é lugar de ancião.

Dedé:
É difícil acontecer,
Mas amanhã vai haver
Um enterro de anão.

Mundim:
Quando eu tiver no caixão
Você já tá enterrado.

Dedé:
Esperando por você
Para um mourão de finado.

Mundim:
Pode ir marcando o dia,
Não abro pra cantoria
Nem que lá seja pecado.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


SETIMA CANCELA - 1970 a 1979 - Por Dr. Savio Pinheiro


Sai “Novos Poemas”
Assim, “Comentados”,
E já publicados
No ano de setenta.
Figueiredo Filho
Faz de Patativa
A voz mais ativa
E lhe complementa.

Figueira Sampaio
Bom anfitrião
Faz publicação
Sem nada esconder.
No seu “ABC
Do Folclore”, ostenta,
E o alimenta
Ao vê-lo crescer.

No ano, sete dois,
O Fagner fascina
Com a música Sina
Num poema seu.
A bela poesia
De, tão bela, ostenta 
E já os alimenta
O que Deus lhes deu.

Em setenta e três,
Sofre um acidente,
Que o deixa doente
Sem poder andar.
Foi no meio urbano
Já em Fortaleza,
Que teve a tristeza
De se atropelar.

Pela UFC
Faz-se reeditar
Um novo exemplar
Neste mesmo tempo.
Carvalho de Brito
É republicado
E Antônio é citado
Sem ter contratempo.

A Editora “Vozes”
Lançou “Cante Lá
Que Eu Canto Cá”
Em todo o Brasil.
Foi em sete, oito,
Que eu vi publicado
Com muito cuidado
Livro nota mil.

Pela Anistia,
Com Darcy Ribeiro,
Recitou ligeiro
Poema valente.
Teotônio Vilela
Emocionado
Ficou deslumbrado
Ao ver tanta gente.

A lição do pinto
Fez-me comovido
Pois no meu ouvido
Ordenou-me, vá!
Pra o Brasil crescer
E ir para frente
É pro presidente
Ter Diretas, já!

Tico, tico o pinto
Faz ovo romper
E já aparecer
Para a criação.
O povo também
Precisa lutar
Para ver chegar
A libertação.

Nos anos setenta,
Quase no final,
Um esquerdo jornal
Publica o poeta,
Que em Miracapillo,
Um padre esquerdista,
Inspirou o artista
De forma concreta.

Em setenta e nove,
O SBPC
Dá-lhe com prazer
Um grande presente.
“Canções e Poemas”
Num disco é gravado
E valorizado
Dá vez ao repente.

Neste mesmo ano,
Estreou no cinema
E em mata Jurema
Rosemberg andou.
Fez com Super Oito
Um feito bonito
Levando ao infinito
O declamador.



Versos lá de nós - Memória Varzealegrense



DEBATE VIRTUAL - Por Dr. Sávio Pinheiro e Mundim do Vale


Mundim:
Poeta Sávio Teixeira
Se vire nesse debate,
É um arrocho de alicate
E golpe de lambedeira.
Não estou de brincadeira
Quero apenas lhe alertar,
Que o verso é pra educar
Pois ele é pedagogo.
Para entrar nesse jogo
PENSE ANTES DE RIMAR

Sávio:
Mundim do vale em questão
Tá enxergando bastante,
Pra quem saiu da Vazante
Já tá cheio de razão.
Mundim, deixe a confusão
E trate de estudar,
Que para me ensinar
Você tem que aprender.
Pra comigo debater 
RIME DEPOIS DE PENSAR.

Mundim:
Poeta, a grande verdade
É que o mundo tem desastre,
Eu posso ser um contraste
Da nossa boa cidade.
Quem sabe a nossa amizade
Não possa conciliar,
E o debate não chegar
Ao supremo tribunal.
Mas mesmo assim não faz mal
PENSE ANTES DE RIMAR.

Sávio:
O que não acho legal
Meu poeta Raimundinho,
É você tão miudinho
Me levar ao tribunal.
Mas como eu sou liberal
Vou ficar a esperar,
Mas você não vai achar 
Nenhuma lei de sustento.
Eu digo como argumento
RIME DEPOIS DE PENSAR.

Mundim:
Já que você é amigo
E poeta do meu vale
É bom que nunca se cale
No momento do perigo.
O meu verso é um abrigo
Na cultura popular,
Mas se ninguém divulgar
O abrigo vira favela.
Vê se você não apela
PENSE ANTES DE RIMAR.

Sávio:
Você querer dar lição
É mais um contraste nosso
Todos sabem que eu não posso
Rimar pela emoção.
Eu rimo pela razão
E assim vou continuar,
Mas se o amigo achar
Que é o melhor do mundo,
Eu digo: - Calma. Raimundo!
RIME DEPOIS DE PENSAR.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense



MEDO - Sávio Pinheiro


O medo é um temor que eu temo tanto,
O qual me dá terror quando há tormento,
E usando o meu mais triste sentimento
Conduzo o meu cantar a um triste canto.

Sentindo uma agonia, eu me levanto
Com medo de viver um vão momento,
E vendo o meu pavor soprar ao vento
Eu colho uma aflição da qual me espanto.

Da morte, que é fatal, não sinto medo!
Nem mesmo, ela chegando bem mais cedo,
Pois vejo, o fim da vida, algo banal.

Porém, da dor insana, mais frequente!
Eu sinto um medo forte, internamente,
Um medo quase fora do normal.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense



SONETO CANTA CORDEL - Sávio Pinheiro


Com bons versos formamos a estrutura
Das estrofes, que nascem da poesia.
Desse encontro, criou-se a fantasia
Do cordel, que se fez literatura.

Contar sílabas transforma essa cultura,
Que a métrica nos dá em garantia
E a oração sendo o enredo que irradia
Traz a arte extraída da mistura.

Com seis versos se forma uma sextilha
E com sete a belíssima septilha
Numa alegre expressão que vem da glosa.

Nos dez versos de dez sílabas, criamos
Um martelo, que em canto, anunciamos
Dando ao texto uma forma majestosa.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


NATAL SEM PRÉ-NATAL - Sávio Pinheiro


No mês nono antes de Cristo
Uma jovem fecundou
O fruto da esperança
Que ela, encantada, sonhou,
O seu nome era Maria,
Por liberdade, lutou.

Gravidez não planejada,
Calmamente, ela aceitou,
Sendo fruto de uma luz
Divina, assim brotou,
Santo menino Jesus
No seu ventre se gerou.

A gestação transcorreu
Sem existir pré-natal
Realizado por leigo
Ou por profissional.
Somente a fé no seu Deus
Reacendeu-lhe a moral.

Sua residência modesta
Sem condição sanitária
Dificultava o viver
(Vida era temporária).
Tinha assistência difícil,
Faltava Atenção Primária.

No ventre avolumado
A criancinha crescia,
Sem um acompanhamento,
A fé em Deus a nutria,
A gravidez dava a graça
E a esperança luzia.

Sentindo-se indisposta
Era grande o seu tormento,
Pois sem existir equipe
Pra lhe dar contentamento
Sobrava a fé no seu Deus
Pra lhe acalmar o lamento.

Se as pernas lhe pesavam
Ou as doíam, somente,
Ela ficava tristonha
Suportando humildemente
Rezando para o Deus-pai
E o louvando bravamente.

Quando o vômito se mostrava
E a azia, ela sentia,
Sofria muita gastura,
Pois o Dramin não havia
E elevando as mãos pro céu
Ao Deus-pai, ela pedia.

O Imperador Romano
Pra controlar a nação
Ordenava que o censo
Contasse a população
Organizando o seu povo,
Apesar da migração.

A nossa Virgem Maria
Sendo mulher de ação
Sabia que, em Nazaré,
O censo era obrigação
Tendo, ela, que constar
Como membro da nação.

Sendo este obrigatório
A esperta santa implora:
- Meu José cuide em buscar,
Precisamos ir agora,
Arranje logo um transporte,
Pois temos que ir embora.

São José atarantado
Laçou um jumento forte,
Um asno muito ligeiro,
Que o preservava por sorte,
Dando a família castiça
A esperança de um norte.

Já perto do nono mês
Ela sente as contrações
Que, apesar, de indolores,
Anunciam vibrações
Dando a Santa Maria
Sublimes resoluções.

Ela olha o firmamento
E sente algum desatino,
Mas estando amparada
Pelo Dono do destino
Prevê o belo futuro
Deste sagrado menino.

Ele dá um pontapé
E mexe com harmonia
E Ela vendo que está próximo
E chegando o grande dia
Fica bastante contente
E com sublime alegria.

Os olhos celestiais,
Que orbitavam em Maria
Reluziam para o mundo
Com toda a pedagogia
Irradiando a esperança,
Que Deus almejou, um dia.

Uma dor no baixo ventre
Sente a compadecida
Pressentindo aproximar-se
O surgir de uma nova vida,
Tendo, já, que se abrigar,
Ter proteção garantida.

Numa outra contração
A Santa Maria implora:
- José, trate de arranjar
Um bom abrigo, agora!
(- Não tinha casas de parto
Para atender à senhora).

A cidade de Belém
Estando superlotada,
Não havia um só lugar
Para mantê-la hospedada.
Daí, Maria pernoitar
Embaixo de uma latada.

Em singela manjedoura
Nasce o menino Jesus
Sem serviços de saúde
Nem assistência do SUS
Pais e filho sem agasalhos
Sem enxoval, quase nus.

A criança quando chora
Já Irradia o seu poder
E exalando o tom da graça
Dá aos pais grande prazer.
- Nasce o menino de Deus
Para o mundo proteger.

A sua graça é divina
E tem grande proteção
Sem precisar de vacinas
Para qualquer prevenção,
Pois tem o leite materno
Ao alcance de sua mão.

Uma estrela anunciou
O local do nascimento,
A boa nova deslumbrou
A todos, nesse momento,
E até quem não o sabia
Teve um bom pressentimento.

Quando amanheceu o dia
Já havia alguns presentes:
Os reis magos os trouxeram
Deixando a todos contentes
Demonstrando para nós
Quem regará as sementes.

A mãe santa amamentava
O seu filhinho querido,
Pois sabia que o seu povo
Nunca seria esquecido,
Pois veio, Ele, pra salvar
O pecador mais temido.

Quedou-se apreensiva
Consciente do perigo,
Pois os políticos vigentes
Premeditavam um castigo:
Eliminar as crianças
Era a meta do inimigo.

O rei Herodes com medo
De um novo rei vir crescer
Eliminava as crianças
Pra, o seu reino, não perder.
Daí, nascendo um filho homem
Com certeza ia morrer.

A estratégia do poder,
Que menosprezou Maria,
Que maltratou São José
E incentivou rebeldia
Favoreceu a maldade,
Que o Deus-Pai não queria.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


A PELEJA DO FÍGADO VALENTE COM MANÉ CACHACINHA - Sávio Pinheiro


(Sextilhas ou Redondilha Maior)

FÍGADO: 
Sou o Fígado Valente
Resistente, sim senhor,
Que trabalha noite e dia
Fazendo frio ou calor,
Sem alarme eu faço muito,
Mas ninguém me dá valor.

Vou contar para vocês
Uma história com nobreza
Que aconteceu no passado
Com malícia e esperteza
Na cidade dos contrastes
“Várzea Alegre é natureza”.

Conheci um menestrel
Bebendo de cabeçada
Com voz bonita e entoada
Cantando para a moçada
Alegrando a multidão
Que passava na calçada.

O seu nome era Mané,
Codinome Cachacinha.
Tinha um bafo de dragão
Que espantava galinha
Bebia todos os dias,
Mas não saía da linha.

Os amigos de cachaça
Desfilavam pela rua
Jesus Clemente, Tarcísio
Narcisa a desfilar nua
Porém, o grande alvoroço
Era beber vendo a lua.

Um a um, foi se acabando,
Devagar foram morrendo.
A cirrose os dominava
Pouco a pouco corroendo.
Os seus fígados doíam
Pois no álcool iam sofrendo.

Foi aí que o Mané
Com o seu bucho de lombriga
Tendo alucinações
Resolveu entrar na briga
Falou sério para mim
Bem no alto da barriga.

MANÉ:
Olha aqui, seu desgraçado,
Quero um conselho te dar!
Se você está pretendendo,
Querendo me aniquilar,
Fique sabendo, você,
Que saberei me vingar.

FÍGADO:
Você é um inocente
Não sabe do meu valor
Desde você criancinha
Que eu lhe sirvo com amor
Sou o seu fiel amigo
Pergunte para o doutor.

MANÉ:
Quero tirar com você
Uma peleja sincera
Botar o pingo nos “is”
Lubrificar a esfera
Pois se você não tem rima
Não terá atmosfera.

FÍGADO:
Eu não quero discutir
Com você tão exaltado
Porém, aviso primeiro
Estou mandando um recado
Se você não se cuidar
Pode morrer sem cuidado.

MANÉ:
Você pensa que o medo
Vai mudar a minha mente?
Eu não corro de um debate
Com um fígado carente
E um “neguim” feito você
Vai sofrer no meu repente.

FÍGADO:
Você pensa que me abate
Com a discriminação?
Se a minha cor é escura,
Devido a minha função,
Eu não me sinto abatido,
Para mim é distração.

MANÉ:
Nêgo ruim não tem função
Mostre pra mim o que faz!
Tu só serves pra doer
Desde que me fiz rapaz
Vivo tomando remédio
E você não me dá paz.

FÍGADO:
Eu só vou lhe perdoar
Por você está delirando
Pois saiba que são quinhentas
As funções que eu comando
E quando chego a doer
A sua morte está chegando.

MANÉ:
Ora bolas, ta mentindo!
Pois sinto dor todo dia
A barriga dói no alto
Com gastura e agonia
Minha boca fica azeda
Chego até a sentir azia.

FÍGADO:
Veja como me acusas
Por você nada saber.
Quanta dor e tanta azia,
Que parecem até ferver
Provem lá do teu estômago
É gastrite pra valer.

MANÉ:
E de manhã, na cozinha,
Quando o café, eu vou tomar,
Tremendo qual vara verde
Sem conseguir segurar
Sinto que por sua culpa
O café, eu vou derramar.

FÍGADO:
Senhor Mané Cachacinha
Tu que só falas besteira
Se o teu corpo está sofrendo
Com tamanha tremedeira
Tens a triste abstinência
Da cachaça derradeira.

MANÉ:
Falando assim tão bonito
Mais parece um coração,
Aquele órgão, que é o chefe
Da nossa preservação,
Que manda em todos vocês
E dá conta da missão.

FÍGADO:
Você que só quer beber
E jogar conversa fora
Não vê que o coração
Usa a mídia toda hora?
Ele só tem a função
De jogar o sangue fora.

MANÉ:
Você está é com inveja
Seu crioulo desgarrado
O famoso coração
É um órgão namorado
Pois as mães e os casais
Usam-no com muito agrado.

FÍGADO:
Realmente, você tem
Boa observação.
No dia dos namorados
Louva-se o coração,
Também no dia das mães
É enorme a louvação.

MANÉ:
Então trate de entender
A aprovação popular.
Você diz que é esperto,
Mas não quer acreditar.
Tu só seves pra dá gosto
Sexta-Feira no jantar.

FÍGADO:
Observe o pensamento
Errado, que o povo tem,
Pois sou um laboratório,
Faço tudo, mas ninguém
Valoriza o meu trabalho
Pela vida de alguém.

MANÉ:
A sua insignificância
É tão fácil de mostrar,
Que se fores colocado
Em um pomposo jantar
Dirão: não há etiqueta
Essa festa é popular.

(Décima com versos de cinco sílabas)

FÍGADO:
Deixa de espanto
Caneiro melado
Do bucho quebrado
Que só traz o canto.
Eu bem me garanto
Sou um órgão decente.
Salvo muita gente
Do grande pecado
Sempre embriagado
Serás indigente.

MANÉ:
Sinto a boca amarga
Tal chão de bodega,
O cheiro não nega
Parece descarga.
O gosto não larga,
Não estou nada bem,
O fígado é que vem
A ser o culpado,
É um desagrado
A fama que tem.

FÍGADO:
Amigo Mané
Eu vou te mostrar
Aonde encontrar
Gosto de chulé.
Na língua há rapé
Saburra e mau gosto.
Eu vejo no rosto
Desinformação
Povo sem lição
Só dá é desgosto.

MANÉ:
Tu és a figança,
Que me dá gastura,
Que o pobre mistura
Ao vir da matança.
Sua tripa balança
Com a indecência.
Sem muita ciência
O coalho despacha
Cheirando a borracha
Só sai flatulência.

FÍGADO:
Você não se gaba
De mim um instante
Faz-me de errante
Meu poder desaba.
O mundo se acaba
Mas sou bem decente.
Sou o filho valente
Da sua fussura
Não tenho rasura
Sou melhor que gente.

MANÉ:
Seu “figo” amargoso
De cor tão escura
Vivo na amargura
Sem ter um só gozo.
Eu era bondoso
Quando não bebia.
Sofrendo agonia
Eu ando sem graça
Devido à cachaça
A vida é vazia.

(Septilhas)

FÍGADO:
Pressinto uma vida nova
Dentro do seu coração,
Pois antecipo a você
Com tão sublime emoção,
Que se você quer viver
Deixe logo de beber
Esta é a sua provação.

MANÉ:
Seu pacote de cirrose
Fonte de bile e de dor
Não pense que é o melhor
Nem que é o meu superior.
Se eu abri o meu coração
E expus a minha emoção
É porque tenho valor.

FÍGADO:
Isso é muito positivo
Na nossa vida real,
Pois demonstrando que tem
Uma esperança vital
Você encontra a melhora
Deixando o vício de outrora
O álcool é um grande mal.

MANÉ:
Eu sempre vivi na noite
Na mais completa orgia,
Pois achando ser a vida
Um buquê de fantasia
Deixei-me levar no manto
Do alcoolismo reinante
Na trilha da rebeldia.

(Oitava - Oito Pés em Quadrão)

FÍGADO:
Eu fico feliz assim
Se prometeres a mim,
Que você vai dar um fim
Nesse vício sem razão.
Colocando em sua mente
Voltarás logo a ser gente
Viverás alegremente
Cantando oitava em quadrão.

MANÉ:
Poço de doença feia,
Que me faz comer aveia,
Você é que me aperreia
E me faz provocação.
Eu vou parar de beber
Não por você merecer
Mas porque quero viver
Cantando oitava em quadrão.

FÍGADO:
Eu entendo o teu orgulho,
Pois tem na mente o gorgulho,
O que te enche de entulho
Descumprindo a tua missão.
Não tenhas nenhum receio
Pois acharás um bom meio
De deixar o vício feio
Cantando oitava em quadrão.

MANÉ:
Quando estou embriagado
O meu enorme pecado
É andar todo rasgado
Imitando um pobretão.
Porém, canto a melodia
Que a bela noite anuncia
Recriando a fantasia
Cantando oitava em quadrão.

FÍGADO:
Estou muito orgulhoso
De te ver maravilhoso
Com um coração bondoso
A rezar linda oração.
Ao deixar o alcoolismo
Salvar-se-á do abismo
Transmitirá o lirismo
Cantando oitava em quadrão.

MANÉ:
Observo a paciência,
Que tem Vossa Excelência,
De aguentar tanta demência
Desse pobre bebarrão.
Porém, eu quero dizer
Voltarei a ter prazer
Acharei o meu bem-querer
Cantando oitava em quadrão.

(Duo-decassílabo ou Alexandrino)

MANÉ CACHACINHA E O FÍGADO VALENTE:
Pra encerrar o cordel do fígado valente,
Que fez Mané Cachacinha se equilibrar,
Rogo a Deus que lhe dê paz exemplar
E que adquira vida boa novamente.
Enalteço o grande amigo e paciente,
O fígado, que tão bem trata a nossa vida!
A esperança, cruelmente transferida,
É que faz qualquer alcoólatra um sofredor
Por isso eu peço e imploro ao meu senhor,
Que nos dê amor nessa vida tão sofrida. 

Fim.

(Galope à beira-mar – onze sílabas poéticas )

Sávio Pinheiro:

Estou procurando um astuto poeta
Pra usar o galope deste meu cantar
Na minha procura desejo encontrar
Pra eu ver realçar uma rima concreta.
No meu versejar eu já sou um atleta
De bom desempenho e dedicação.
Desejo um poema de muita emoção
Daí, eu fazer-te tamanha investida
DA HORA DO PARTO À TRISTE PARTIDA
CANTOU PATATIVA POR LIBERTAÇÃO.

Mundim do Vale:

Não quero fugir da rima e da métrica,
Mas Sávio Pinheiro impôs desafio.
Não vou pelo mar, mas vou pelo rio
O que interessa é a arte poética.
Eu adoto a rima e desprezo a ética
Viajando a galope por este torrão
Lembrando o poeta maior do sertão,
Que rimou na chegada e rimou na saída,
DA HORA DO PARTO À TRISTE PARTIDA
CANTOU PATATIVA POR LIBERTAÇÃO.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


CHÁ CASEIRO - Sávio Pinheiro


Capim santo, canela, erva cidreira
Trazem gosto saudável, dão sabores.
Erva doce e hortelão imitam flores
Exalando fragrância verdadeira.

Chá de boldo, de flor de goiabeira
Levarão para longe maus odores.
E na lida diária, quantas dores
Passarão com folhas de laranjeira?

Garantida existe a inalação,
Que nos faz, no nariz, divina ação
Com gotículas pequenas de vapor.

Motivados e com efervescência
Revelamos com toda sapiência,
Que o milagre dos chás é o amor!


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


REFLEXO - Sávio Pinheiro


Se eu reflito sobre a reflexão
Jogo um feixe de luz em meu conflito
E ao sentir o reflexo, eu deixo aflito,
O pensar como forma de expressão.

O reflexo que eu vejo nesta ação
É o de espelho em espelho – eu admito!
Já que a imagem progride ao infinito
Refletida na imagem da ilusão.

A fusão do reflexo me fascina
A me ver refletido na retina
Da angélica expressão do teu olhar

E os teus olhos nos olhos da piscina,
Desencantam da noite, que alucina,
No reflexo sublime do luar.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


O ALEGRE REGRESSO - Por Mundim do Vale


Quem vive distante, da terra querida
Só pensa na vida
Em um dia voltar.
E assim vai pensando, o pobre imigrante
Que como um errante
Deixou seu lugar.

Aquele imigrante, fugiu da estiagem
Lavando coragem
Faltando alegria.
Levava na mente, saudade e lembrança
Com a firme esperança
De voltar um dia.

Chegando em São Paulo, começa o chamego
Procura um emprego
E não passa no teste.
Até que a indústria, enxerga o valor
De um lutador
Do seco nordeste.

Depois de empregado, ele sai da pendanga
E se livra da canga
Que prende o roceiro.
E o forte caboclo, pensando em voltar
Começa a guardar
Seu pouco dinheiro.

Escuta no rádio, notícia do Leste
Depois do Nordeste
E presta atenção.
O locutor fala, da chuva molhando
E o povo plantando
No verde sertão.

Naquele momento, o bom sertanejo
Sentiu o desejo
De não ficar lá.
Fez uma promessa, com Frei Damião
Para o mês de São João
No seu Ceará.

Juntou a família, E disse seguro:
- O nosso futuro
Não é mais aqui.
Já tem no sertão, legume nascendo
Nós vamos correndo
Para o Cariri.

Eu vendo o barraco,o rádio, o bujão,
A mesa e o fogão
Pra nós viajar.
Nós vamos de ônibus, Até Juazeiro
No dia primeiro
Nós vamos chegar.

A filha mais nova, pegou a falar:
- Eu quero aguar
Meu pé de roseira.
O filho mais velho, pulou de alegria
Dizendo que ia
Domingo pra feira.

Olhando a estrada, lembrou-se da ida
Da triste partida
Cantada em verso.
Chegando ao sertão, ele faz uma prece
E a Deus agradece
O alegre regresso.

Já no seu terreno, avista a casinha
E vê na cozinha
O carro de mão.
Na parede da sala, encontra pregado
O quadro arranhado
De Frei Damião.

Olhou para o quadro e fez um pedido:
- Meu santo querido!
Meu Frei Damião.
Dê fé e coragem, ao homem da roça
Para que ele possa
Viver no sertão.

O gato Mimi, do mato correu
Foi quem recebeu
A sua Cecília.
E a bela roseira, coberta de flor
Recebeu com amor
Aquela Familia.


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense

Sentidos - Alex Josberto


As mãos sobre a imensidão
Tateando os altos-relevos
Que mostram o segredo
Das chaves de uma prisão

Nas cores deste enredo
Seres de luz aguçam nossa visão,
Descortinam a fumaça dos medos
Não tememos a solidão

Entre tantos gostos e cheiros
Notas airosas e doces enlevos
Os sons que agora reverberam

Anunciando a nova primavera
Despertam outros sentidos

De que a vida é o que decidimos 


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Espaço postagem


Versos lá de nós - Memória Varzealegrense


Espaço postagem

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense





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