VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Vovó Biluca - Por Dr. José Bitu Moreno.

Da esquerda para direita: Ilka Bitu, Maria Bitu, Julio Bitu, Dr. Luis Bitu, Assis Bitu e a matriarca Dona Biluca na comemoração dos seus 92 anos.
Cronica do Dr. Jose Bitu Moreno.

Numa bela manhã de primavera, sento-me para sonhar. Abril se aproxima rápido, trazendo na sacola, mais um aniversário. Ah, esse tempo poderia ser mais lento!! Como na infância, em que as horas se espreguiçam na divertida vida, e assim demoram a passar. Talvez também seja assim na velhice, tal qual a idosa senhora que mora sozinha no andar de cima, que impossibilitada de vencer as escadas, escolheu a cozinha para passar os dias, e sua janela como o relógio da vida.

Mas nessa manhã, quero escolher as doces lembranças como um travesseiro, onde vou me afundar e sonhar de novo, como se a vida que já foi, pudesse novamente vir a ser. A vida que foi boa, posso contar pelas manhãs. As manhãs da infância com Vovó Biluca na sua casa branca. Após as noites de chuva, as manhãs claras e límpidas de Várzea-Alegre, com suas ruas de pedras, que o sol ajudava a polir. As manhãs de domingo em Fortaleza, onde a praia do Futuro nos preenchia de sol e mar, alimentando a alma de energia e beleza. A manhã em que cheguei em Marília, a cidade que do alto do espigão ainda se enrolava na névoa, espreguiçando-se...Bela Marília, linda menina, formosa senhora. Por suas ruas silenciosas, puxando as cortinas das tantas manhãs, eu e Natha nos dirigíamos para a FAMEMA, ouvindo no rádio os lamentos apaixonados das músicas de raízes. O Hospital de Clínicas aparecia muitas vezes como se assentado em nuvens, da névoa que subia dos vales, embranquecendo a cidade em clima de sonho.

Veneza se me surgiu numa manhã clara, após uma cansativa noite de trem, como a súbita revelação de um paraíso terreno, como uma bela jovem saída de um quadro renascentista, mostrando sua virginal nudez, e eu parasse estupefado frente a tanta beleza. Na ilha de Capri sentado no alto de uma escarpa, mirando o azul profundo do mar, sentindo as fragâncias de limões nos pomares, senti pela primeira vez que minha mulher era aquela ilha, era o meu sonho do distante, do belo, do indefinido... A poesia de meus melhores dias. E para que as manhãs se fizessem, foram necessários os galos e os pássaros. No tempo da casa branca, no Inharé, os galos se esgoelavam festejando o dia e espalhando orvalho. Mas aqui, na Alemanha, têm sido os pássaros...Fui com Anna Carolina para a escola e no caminho lhe lembrei de silenciar os outros barulhos do dia, para que ouvisse a algazarra dos pássaros. Quando levei André lhe falei baixinho de um passarinho que entre os galhos de uma árvore se escondia, chamando-o pelo nome. Meus dois filhos são dois pequenos passarinhos que enfeitam e fazem todas as manhãs dos meu dias.

E se apenas uma foto houvesse que recordasse ou resumisse todas as manhãs que tive, as minhas manhãs, uma existe em que estamos reunidos no clube recreativo de Várzea-Alegre, minha família, papai de chapéu de feltro, mamãe em vestido estampado de seda, as irmãs de saias brancas plinçadas e blusas azul-marinho, e os filhos homens em roupa domingueira, mas de calças curtas, botas e meias até metade das canelas . Estamos felizes e paira certa ingenuidade no ar, razões porque se tornou muito antiga a foto, utópica, etérea, totalmente deslocada pelo tempo. Mirávamos um futuro que nos desmentiria. Sonhávamos uma vida que jamais existiria. Fomos naquele instante, o que jamais tornaríamos a ser. Aquela manhã, jamais se repetiria. Mas o instantâneo do retrato, ficou para sempre.
Grande abraço,

José Bitu
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