VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Beatriz Jucá - Memoria Varzealegrense

TRANSFORMAÇÃO  EM  CORDEL Por Mundim do Vale e Beatriz Jucá.


É fácil consumir versos em cordel com uma rápida busca na internet, ao esforço de um clique
É bendizer da natureza do cordel adaptar-se. A literatura com versos metrificados e rimados é identificada, ao longo de sua história, nas manifestações orais, nos cadernos costurados à mão, nos folhetos impressos em máquinas a laser, nos meios de comunicação de massa. Acostumado a se apropriar dos assuntos do momento e das novidades comunicacionais, o cordel tem encontrado, nos últimos anos, uma importante vazão de conteúdos na internet.

Gênero atualizado

O olhar feminino da tradição

Seja nas despretensiosas redes sociais ou em blogs e portais específicos, são muitos os autores que têm ganhado visibilidade. Na rede, há espaço para todo mundo - do cordelista já consagrado pelos títulos impressos em folhetos àqueles que ainda estão iniciando na literatura de cordel. É consenso entre eles: a internet vem sendo uma importante aliada para divulgar tanto os autores quanto a própria literatura de cordel, que parece vir conquistando outros públicos com as novas ferramentas.

O novo suporte para publicação dos versos em cordel, no entanto, traz com ele especificidades da produção virtual. Há mudanças, por exemplo, em relação aos temas, tamanhos e ilustrações dos chamados "cibercordéis" - aqueles que são publicados apenas nas plataformas virtuais.
Essas transformações - de suporte e produção - ainda são passíveis de uma série de questionamentos no meio literário. Afinal, os novos meios virtuais atualizam ou descaracterizam a literatura de cordel? O que as novas plataformas oferecem para a tradição? De que forma os cordelistas vêm se adaptando aos novos formatos de publicação? É sob essas questões que o Caderno 3 se debruça na edição deste domingo.

Mudanças

O acesso à literatura de cordel não está necessariamente ligado ao ato de manusear o folheto, passando uma a uma suas páginas, sempre em múltiplo de quatro. Nem mesmo ao ato de observar com certa atenção a ilustração ou xilogravura da capa. Hoje, é fácil consumir versos em cordel com uma rápida busca na internet, ao esforço de um clique.
Tem se proliferado com certa rapidez o número de blogs, sites ou páginas de cordelistas nas redes sociais. Lá, eles publicam versos que poderiam ser editados sem problemas em folhetos, salvo algumas transformações estimuladas pela web. Os cibercordéis revelam liberdade maior.

Embora mantenham a rima e a métrica que caracterizam a poesia nos folhetos, a quantidade de versos ganha maleabilidade maior, tendo em vista que não mais é preciso preencher o espaço correspondente a um número específico de páginas. Os temas escolhidos para a web também se renovam. Para além de assuntos ligados ao sertão, os cibercordéis se ancoram em temas atuais e na própria internet.

"Para os versos na internet, a gente vai conforme as evidências. Entra o verso falando do governo, do carnaval, de uma coisa que esteja atual. No folheto em cordel, é mais a memória, o sertão", diz o cordelista Mudim do Vale. Autor de títulos em folheto como "João Grilo reencarnou", "A cara do sertão" e "A teima do Padre Vieira com o Poeta Zé Limeira", ele tem utilizado com frequência as redes sociais e um blog que mantém para dar vazão a versos menores em cordel.
"A internet é um espaço amplo. O cordelista passa a não depender de gráfica nem nada. Você fica à vontade ali. No meu caso, tenho mais de 800 amigos no Facebook que estende os comentários sobre a minha literatura. Minha obra ganhou o mundo. É uma vaidade que tenho já ter recebido até comentários internacionais", afirma Mundim do Vale.

Segundo ele, a internet é importante para divulgar a literatura de cordel, mas, nela, se perdem elementos importantes à tradição, como a capa ilustrada. "Não sei se posso chamar o que publico na internet de 'cordel', mas é literatura de cordel porque traz a métrica. Se for considerar só o que está escrito, é o cordel. Tem gente hoje que reproduz lá cordéis antigos, mas não a mesma coisa de pegar o folheto, é diferente. Essa sua pergunta me deixou embaraçado", diz Mundim.

Estranhamento

Para o cordelista e pesquisador Marco Haurélio, a internet mudou tudo o que se concebia acerca da arte, e com o cordel não foi diferente. "O maior estranhamento talvez resida na imagem antiquada que se tem do cordel e de seus criadores, quase uma ficção. Os temas são mais amplos, pois a própria internet tornou-se assunto corriqueiro dos poetas", considera o cordelista.
Marco Haurélio pontua que sites de relacionamento na internet, como o Facebook, trazem incentivos benéficos à literatura de cordel à medida que possibilitam que poetas travem pelejas, glosem motes ou construam um cordel coletivo com uma rapidez antes impensável. "O conceito de cordel também precisou passar por uma revisão, já que, na rede, não há a obrigatoriedade de seguir os tamanhos dos cordéis impressos em folhetos", assevera.

O cordelista Klévisson Viana concorda. Ele diz que, logo que a internet começou a se popularizar, na década de 1990, já surgiram as primeiras pelejas virtuais entre os cordelistas, que, ao longo da história, sempre estiveram antenados com os avanços tecnológicos. No auge do rádio ou mesmo do cinema, por exemplo, os cordelistas incluíram em suas produções novas características.

"A tecnologia está a serviço da tradição, é mais uma ferramenta. A internet é algo próximo da gente (cordelistas), e o cordel tem ganhado muito com ela. Isso é muito bom, porque a internet abriu muitas portas aos poetas. Eles hoje se apresentam no Brasil inteiro e viajam até mesmo ao exterior para divulgar sua obra", lembra Klévisson.

O autor destaca, também, a interatividade com o publico e o reconhecimento que recebem pela internet. "Recebo comentários do mundo todo, até daquele escritor Valter Hugo Mãe, esse 'caba que é ovacionado pela crítica literária, achou minha obra interessante. Botou no Instagram e tudo. Então acho que é um caminho interessante pra divulgar o cordel", diz.
Onde Encontrar

Mundo cordel
O cordelista fortalezense Marcos Mairton publica cordéis de sua lavra e de outros autores, produzidos especialmente para as plataformas digitais. Também digitaliza cordéis publicados originalmente em folhetos.

Cordel de saia
Blog voltado à literatura de folhetos, com atenção especial ao universo feminino

Maarco Haurélio
O cordelista mantém blog no qual publica cordéis e ensaios a respeito do tema. Também publica versos em cordel nas redes sociais

Klévisson Viana
Publica alguns cordéis digitalizados e o catálogo de livretos disponíveis na sua editora, a Tupynamquim:

Mudim do Vale
Publica versos em cordel por meio de blog (junto com fotografias e causos sertanejos) e das redes sociais

Transcrito do Diário do Nordeste da página 3. Arte da jornalista Beatriz Jucá.

Fonte: Diário do Nordeste
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