Da linha do tempo de: Tiburcio Bezerra De Morais Neto
QUEM FOI O PADRE JOSÉ DE PONTES PEREIRA?
O ano de 1852 aproximava-se do seu final, mas, antes que acabasse, aconteceu um episódio que merece registro. Em viagem pelo Assaré, o major Joaquim Alves Bezerra depara-se com um jovem padre secular, recém ordenado e que, ali, aguardava as ordens do bispado, naquela época com sede em Recife, para iniciar sua missão sacerdotal. Tratava-se do padre José de Pontes Pereira, filho daquela localidade.
Por estar temporariamente desocupado, o jovem presbítero acordou com o major sua vinda a Várzea Alegre, para uma curta temporada de quinze dias Na ocasião celebraria as santas missas do Natal, Ano Novo e Santos Reis. Aqui não existia sequer uma capela. Havia um espaço, intitulado de Quarto de Orações, onde o povo reunia-se para os cultos religiosos.
Várzea Alegre não passava de um simples povoado, ainda em fase embrionária.
Apesar de todas as dificuldades, chegou o padre, próximo ao Natal de 1852. Em poucos dias, demonstrando humildade e fervor, conquistou a simpatia de todos. Permaneceu até o Dia de Reis, ou seja, 6 de janeiro de 1853. Cumprida a primeira tarefa, retornaria à casa dos pais em Assaré. Em sua despedida, prometeu ao povo que voltaria a Várzea Alegre, desde que fosse construída uma capela e uma residência para o capelão.
Era tudo o que o povo queria. Nasceu aí um compromisso que todos levaram a sério. Depois de conseguirem permissão do bispado, três filhos e um genro de Papai Raimundo doaram um terreno de 200 braças em quadro, que seria o patrimônio de São Raimundo Nonato, já venerado no Quarto de Orações, por vontade de dona Tereza Maria de Jesus, primeira esposa do patriarca. Sem perda de tempo, iniciaram a construção da capela. No dia 2 de fevereiro de 1855, com a presença do padre Manoel Caetano, coadjutor da paróquia de Icó, e, cumprindo o ritual de praxe, a nova capela foi consagrada e nela entronizada a imagem de São Raimundo Nonato.
Para alegria dos fiéis, ali já estava, cumprindo o que havia prometido, o padre José de Pontes Pereira,
agora com a função de capelão, devidamente credenciado pelo bispado e instalado na casa que lhe foi reservada. Iniciou com bastante entusiasmo a sua missão presbiteral. Seu trabalho de pastor dedicado cativou tanto, que ninguém mais imaginava Várzea Alegre sem o padre Pontes, como passou a ser carinhosamente tratado.. Já era uma relação de tanta admiração e confiança mútuas, que a capelania prosperou e sua fama logo cresceu na região.
A vida porém é cheia de percalços. Chegou no Brasil o "colera morbus", isto em 1862, epidemia devastadora que fazia vítimas fatais aos milhares. O terrível mal atingiu Várzea Alegre e aqui não foi diferente. O padre demonstrava angústia diante daquele quadro. Os óbitos sucediam-se sem controle. Os mais antigos contavam e o fato nunca foi contradito. Padre Pontes, num dos seus arroubos de piedade, clamou a Deus para morrer, em lugar dos varzealegrenses. Por incrível que pareça, Deus atendeu ao seu apelo. Foi exatamente ele a última vítima fatal do "cólera-morbus" em Várzea Alegre. Morreu no dia 11 de maio de 1862.
Seu túmulo, ainda lembro-me, por muito tempo permaneceu de pé. Muito próximo à capela de Santo Antônio, foi destruído para dar passagem à rodovia CE-55. Por mais de 100 anos resistiu, enegrecido pela ação do tempo, abandonado e esquecido. Como esquecidos, também, permanecem muitos personagens que fizeram a nossa história.
O seu trabalho foi decisivo para o crescimento do povoado e para o surgimento do termo paroquial, criado pela Resolução Provincial nº 1.076, de 30 de novembro de 1863, um ano e meio após sua morte. Podemos considerá-lo pioneiro de movimentos que, depois, perpetuaram-se, como os festejos em homenagem ao padroeiro da cidade. A partir do padre Pontes, Várzea Alegre tanto desenvolveu-se, que logo conquistou o status de vila e conquistou a sua emancipação política, em 10 de outubro de 1870.
Não é possível escrever a história de Várzea Alegre sem dedicar um capítulo ao PADRE JOSÉ DE PONTES PEREIRA.