ADJUNTOS DO MACHADO.
Não há quem possa negar
Como já foi o Machado
Com o povo interessado
Trabalhando sem parar
Gente de todo lugar
Tinha até do Arneiroz
A luta era feroz
Muitas vezes enlameado
Limpando arroz no Machado
E vivendo aqui mais nós.
Quando pegava a chover
Nós todos íamos plantar
Depois íamos pastorar
Prus passarinhos não comer
Depois do arroz nascer
Nós começávamos a limpar
E a lama sem secar
Só se ouvia nego dizendo
O meu mato está comendo
Acho que vou aceirar.
Quando clareava do dia
A gente se levantava
A merenda que pegava
Era a enxada e saia
E por lá passava o dia
Trabalhando sem parar
E pra poder acabar
Precisava ir tantas vezes
Com mais ou menos dois meses
Terminava de limpar.
Quando o arroz segurava
Só se ouvia o assunto
Gente fazendo adjunto
Juntando quando botava
E o povo se juntava
Era gente pra valer
Fazia gosto se ver
Um bando de cabra macho
Cortando cacho por cacho
Cantando sindô lelê
E agora está mudado
Ninguém quer se juntar mais
Tá indo tudo pra traz
Já nem parece o Machado
O Povo é desanimado
Não joga maneiro pau
E por isso o pessoal
Não conta com arroz doce
Tudo isso acabou-se
Mode o demónio do girau
Veja o tamanho da sujeira
Que tudo esculhambou
Eu não sei quem inventou
De cortar com roçadeira
Chega abarcando a touceira
Vai levando por igual
Depois outro pessoal
Pegando tudo que vê
Vai levando pra bater
No Satanás do girau.
Só pode ter sido um caé
Ou mesmo uma brocharia
E com essa putaria
Não tem quem queira um quicé
pode ser homem ou mulher
É todo o povo em geral
Que apoia esse bicho mal
Que fez toda maldição
Foi o maldito do cão
O criador do girau
Nada se pode fazer
Jeito ninguém tem pra dar
Precisa se acostumar
Com o que aparecer
Não tanto que nem você
Que foi lá pra capital
Hoje é um jovem legal
Que nem liga o Ceara
Tire um tempinho e venha cá
Pra eu lhe mostrar o girau
Meu caro amigo Zezinho
Colega mui verdadeiro
Quem informa é o Candeiro
O Poeta do Brejinho
A coisa aqui está assim
Não está bom pra viver
Só se planta pra perder
Dá só pra gente escapar
Contudo no Ceará
Só está faltando Você
Candeiro.
FALOU O POETA CANDEIRO.
Candeiro foi competente
Quando falou do passado,
Hoje o Vale do Machado
Ficou muito diferente.
Não se vê mais nossa gente
Nos adjuntos rurais
E não vamos vê jamais
Os cabras bom no quicé,
Como Oliveira e Tindé
Cada qual catando mais.
Mundim do Vale.
Fonte: Antônio Morais.