VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

VERSOS LÁ DE NÓS - Por Mundim do Vale.

O BARRACÃO É NOSSO.

Barracão “ Souza Sobrinho “
Homenagem merecida
Para quem deu sua vida
A cultura com carinho.
Souza fez o seu caminho
Com microfone na mão
Nas quadrilhas de São João
E onde houvesse um festival.
É UM DESCASO CULTURAL
EXTINGUIR  O  BARRACÃO.

Falou uma criatura
Não sei se por brincadeira,
Mas disse que é uma feira
O Barracão da Cultura.
Eu sei que a essa altura
Tem muita especulação,
Mas quem resolve a questão
É a gestão municipal.
É UM DESCASO CULTURAL
EXTINGUIR  O  BARRACÃO.

Queria que fosse engano
Essa absurda proposta,
Acho que Giovani Costa
Tá errado no seu plano.
O Barracão todo ano
Faz aquela animação,
Numa determinação
E o povo dar o aval.
É UM DESCASO CULTURAL
EXTINGUIR  O  BARRACÃO.

Não consigo acreditar
Na falta daquele espaço
E o apelo que faço
É manter e conservar.
O Barracão é  o lugar
De mostrar o artesão,
O artista da região
No setor artesanal.
È UM DESCASO CULTURAL
EXTINGUIR  O  BARRACÃO.

Na festa do padroeiro
O Barracão tá presente
Com a turma de penitente
E dupla de violeiro.
Festival de sanfoneiro
Na disputa do baião
É o motivo e a razão
Para ser fundamental.
É UM DESCASO CULTURAL
EXTINGUIR  O  BARRACÃO.

A dupla que toma conta
É Cláudio e Carlos Maurício,
Eles fazem um sacrifício
Para a festa ficar pronta.
Eu acho até uma afronta
De quem fala em extinção,
Ou que faz comparação
Com o recreio Social.
É UM DESCASO CULTURAL
EXTINGUIR   O  BARRACÃO.

Mundim do Vale.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Raimundo Lucas - Ana Camila (neta)

Raimundo Lucas - Ana Camila (neta)

Só tenho a agradecer por ter tido a oportunidade de conviver com alguém que apesar do pouco estudo era dotado de um inteligência absurda e escrevia de uma forma da qual jamais conseguirei me igualar. Foi trabalhador rural, sindicalista, poeta, violeiro, pai, amigo, MEU AVÔ, um ser humano que mesmo com todos e tudo contra nunca deixou de lutar em favor dos ruralistas. Homem íntegro que se hoje vivo fosse estaria completando 100 anos de idade.
Contemplo-vos com uma das muitas poesias escritas por ele:

Percorri alguns Estados
Municípios e Distritos
Vi muitos velhos aflitos
Do povão desamparados
Além de faltar calçados
Faltava roupa e comida
Cabelo e barba crescida
Cheios de constragimentos,
Foi um dos meus sentimentos
Nas voltas da minha vida

Com outros a mim iguais
Pensei nos santos princípios
De criar nos municípios
Os sindicatos rurais.
Eu aqui sofri demais 
não sei nem como escapei
Na vida me perturbei
Em diversos sacrifícios,
Pra defender meus patrícios
Muito trabalho encontrei

Já hoje eu vejo o velhinho
Com o seu dia marcado
Pra receber seu trocado 
Embora seja pouquinho
Mas para o velho sozinho
Sobra da roupa e comida
Eu nada ganhei na vida
Por tudo aquilo que fiz
Mas irei morrer feliz,
Agradeço a Deus a lida

Na dimensão fundiária
Quem tinha um palmo de terra
Contra mim fazia guerra
Devido a reforma agrária
Nesta tese doutrinária
Escrevi e propaguei 
E aos sem terra cheguei
Na última etapa da vida
Agradeço a Deus a lida
Pois a lida é minha lei.

Raimundo Lucas Bidinho 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

NOSSA RUA INESQUECÍVEL PASSEANDO NO MEMÓRIA - Por João Bitu.


NOSSA RUA INESQUECÍVEL


A Rua Major Joaquim Alves em Várzea-Alegre, tinha início junto à Usina Primo na entrada da estrada que leva ao curso do Machado, conduzindo aos Grossos através de um longo e estreito corredor alagado durante o período chuvoso, ladeado por cercas de arame farpado. À esquerda fica a Praça Santo Antônio e ao lado direito a Bethânia, por cujo bairro acessa a cidade toda aquela gente procedente das Carnaúbas e de tantos outros sítios ao leste do Município.
A rua ali começava e numa ligeira subida até a bodega famosa de ZEBITU, tinha pela frente um monte não muito grande chamado Alto dos Silvas, pequeno trecho de rua onde foi construída a Capelinha de São Francisco, habitado em sua maior parte pela família Frutuoso, gente bastante estimada na localidade.

A Major Joaquim Alves tendo de em lado a Usina Diniz e do outro a renomada Mercearia de Zebitu, prosseguia rumo ao Centro, em perfeito alinhamento, abrigando famílias ilustres e bem relacionadas. A majestosa Igreja de São Raimundo Nonato, tinha em frente uma pracinha simples, cuja beleza natural era ofuscada pelo esplendor da Igreja Matriz. A casa Paroquial era situada na esquina da praça que por uma estreita rua ia findar na Lagôa de São Raimundo Nonato, próxima ao bairro Vazante de saudosa recordação.

Reiniciava-se o trajeto e sempre portando belas residências ia parar junto à Praça Velha, cortada pelo Beco de Gobira ( hoje ZÉ Clementino merecidamente), tendo em frente um antigo prédio onde funcionaram os estúdios da Amplificadora “A VOZ DE VÁRZEA ALEGRE”, órgão de reconhecida utilidade pública, notadamente, para a nossa juventude. Este lado da Rua prosseguia até a loja de Natanael Moreno e, consequentemente, a Praça Nova, hoje conhecida por Praça dos Motoristas. No lado oposto havia em grande escala a existência de Lojas de Tecidos. Desde Zé Rolim até Vicente Moreno e Casa ABC e depois a Farmácia de Hamilton Correia. Aí findava nossa rua. Começavam a Rua do Juazeiro e a Duque de Caxias, também com outras denominações atualmente.

A praça Nova era o ponto de encontro da Juventude, que passeava à noitinha ao som das mais lindas músicas e onde tiveram início grandes romances. Pode-se dizer que aquele local poderia ser chamado o coração da doce terra!

Enfim, ao término da citada rua. estavam as residências do industrial Joaquim Diniz e a do Famacêutico Hamilton Correia, que foi por várias vezes Prefeito da cidade.
Salve Várzea-Alegre, salve nossas pracinhas, salve o lugar que foi o berço de nossas existências. Muita coisa poderá ser mudada, mas não mudará jamais o nosso amor por aquelas plagas abençoadas, donde ausentes estamos por força do destino, mas apenas fisicamente, porquanto, os nossos corações alí permanecem para sempre fincados.
DEUS assim nos conservará!

João Bitu

sábado, 19 de julho de 2014

2014 - CENTENÁRIO DO POETA “BIDIM” - Liduína Sousa

2014 - CENTENÁRIO DO POETA “BIDIM”

LIDUINA DE SOUSA (Academia Varzealegrense de Letras)
PRESTA UMA HOMENAGEM AO PATRONO DA CADEIRA - Nº 03 

Ao meu patrono, eu dedico
Com carinho, honra e tudo
Pois escolhi, entre muitos
Para fazer meu estudo
Lendo a obra, já gostei
E por isso a organizei
Em forma de um escudo

Apresentarei uns versos
Bagunçando gestos meus
Fazendo a literatura
Com ilustres traços seus
Quem dera ser comparados
Uns versos tão mal rimados
Quando se trata dos meus.

Faço valer minha história
Consagrada em homenagem
Que tento fazer agora
Com as letras da imagem
Desenhadas no papel
De antologia e pincel
Com ousadia e coragem

É ousadia e coragem
Eu querer rimar assim
Fazendo uma poesia
Pro meu patrono Bidim
Que tão bem deixou a rima
Metrificada em cima
De cada verso “certim”

Quando se explora a cultura
Eu vejo que é infinita
Pois Bidim tratou a rima
De forma bem erudita
E fez verso em perfeição
Tendo escolarização
Apenas na forma escrita.

Nascido no sitio Chico
E trabalhando na roça
Bidim se fez consagrar
De forma tão clamorosa
Que sua literatura
Não se tornou imatura
Ficando até bem famosa

Um tributo a Bidinho
Faço-o com muito apreço
Embora não tenha tido
Convívio, só endereço
Mas ao ouvir falar
Dele eu me fiz gostar
E por isso, eu agradeço

Vindo de família humilde
Começa a biografia
Postulado em sua fama
Crescendo dia após dia
Filho de agricultor
Fez-se gênio e doutor
No alvo da poesia

Agradeço a ocasião
Que tive para escrever
Sobre a biografia
De um ícone, a dizer
Nas páginas dessa cultura
Que se fez na criatura
De Bidim, até morrer

Até morrer, foi notável
E continua assim
Um simples vocabulário
Identifica Bidim
Consagrado na história
E registrado em memória
Um patrono para mim

É patrono para mim
Em amiúde e alegria
Pois com gesto, jeito e rima
Conquistou-me em simpatia
E agora com emoção
Vejo que minha atenção
É desmonte em poesia.

No cerne da poesia
Consagrou-se a perfeição
Ele fez versos rimados
Com a metrificação
Dando lição a poeta
Numa linguagem inquieta
É alvo de atenção.

Foi mestre dessa ação
Com pura simplicidade
Seu período de estudo
Não teve longevidade
Mas o pouco que estudou
A escrita o consagrou
E lhe deu posteridade

Embora sendo humilde
Muito fez a relutar
Com seu gesto de amor
Insistiu em trabalhar
E sua dignidade
Foi a maior vaidade
Que se ergueu no seu lar

Quão tamanha é minha honra
Em levantar a bandeira
Do meu ilustre poeta
Que fez versos de primeira
E deixou para a família
O posto na Academia
Por ser dono da Cadeira

sábado, 12 de julho de 2014

Versos Lá de Nós - Memória Varzealegrense

CONVERSANDO  NA  VAZANTE - MUNDIM DO VALE

Vazante bairro padrão
Referência da cidade,
Eu vim matar a saudade
Do Riacho do Feijão.
Vazante de Damião,
Zé Raimundo e dona Ana,
Do mel da italiana
Colhido nas capoeiras.
Vazante das brincadeiras
No tronco da cajarana.

Vazante que pastorei
Passarinho no Roçado,
Vazante que preaquei
No Riacho do Machado.
Vazante que fez reizado,
Fez queimada de caieira,
Batizado de fogueira
E terço de penitente.
Vazante que a sua gente
É católica verdadeira.

Vazante. Eu estou aqui
No lugar que me criei,
No teu riacho eu pesquei
Peixe espada e cangati.
Aqui na rua Iracy
Foi meu cantinho legal
E o lugar especial
Foi a calçada da fama,
Onde eu avistava a grama
Da Arena Juremal.

Mundim do Vale.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Estranha receita - Memória varzealegrense

Fonte: Diario do nordeste / caderno 3 - Batista de Lima
Estranha receita

Dr. Lemos se formara em Medicina na Bahia. No Ceará, não formavam ainda médicos. Só criaram o curso na década de 1950. Persistente, no entanto, o velho Tomaz de Lemos, seu pai, botou na cabeça que tinha que formar um filho na ciência de Hipócrates. E lá vai o rebento se largar da vilazinha, ruída pelo esquecimento, distrito de Lavras, em busca de estudos em Salvador. E se foi, e se formou. Voltou à sua São José que depois virou Mangabeira, com um anel no dedo e montado em sonhos de salvar vidas. Foi o primeiro médico do lugar. Coisa de deixar muitos de queixo caído.
Todos os fazendeiros da região queriam ver uma filha casada com aquele bom partido. Ele, no entanto, foi se engraçar de moça da cidade vizinha, Várzea Alegre. Moça bonita, prendada, logo, logo, São Raimundo, padroeiro, estava purificando o enlace. Foi assim que o novo médico, guiado pelo amor, viajou com malas e cuias os 20 quilômetros que separam as duas comunas e botou consultório na vizinha cidade. Por lá, ficou a vida toda em salvação de doentes e construindo exemplar família.
Clínico geral, Dr. Lemos curava de espinhela caída a constipação, de ferida braba a úlcera estomacal, sem contar centenas e centenas de partos assistidos e alguns cesarianos quando outro jeito não havia. Ficou quase tão famoso quanto o santo padroeiro, a tal ponto de ser assediado pelo olho grande da política, coisa que rejeitou em nome da salvação dos corpos e lenitivo das almas. Era médico para todas as situações e o povo passou a ter São Raimundo na matriz e Dr. Lemos na receita.
Gostava de fazer seus passeios pela manhã, a pé, em nome da saúde e da saudade, a observar aqueles baixios de arroz que circundavam a cidadezinha. Também apreciava o canto dos passarinhos, que de tão forte, deu nome à cidade, Várzea, dos arrozais; Alegre, dos passarinhos. Nessas andanças matutinas, dava conselhos de saúde, aconselhava dietas e até recomendava visitas a seu consultório quando o caso era grave. O povo do lugar tinha certa veneração pelo seu trabalho.
Numa certa manhã, ao passar frente à casa de pequeno agricultor, foi interpelado pelo morador cuja mulher padecia de moléstia que as meizinhas não tinham resolvido. Antes de ver a doente que estava ainda se compondo no quarto do casal, foi presenteado com um jerimum vingado no quintal e uma xícara de precioso moca pilado na rapadura e acrescido de algumas sementes de manjerioba nascida no terreiro. Aquele café pretíssimo, forte e fumegante foi ingerido pelo médico muito mais por educação.
Finalmente liberada a alcova para ingresso e vistoria da doente, verificou-se que o caso era de gravidade. Não adiantava mais chá de quebra-pedra, casca de aroeira, nem gemada de ovo de galinha do terreiro. Era caso urgente de medicamento de farmácia. Era caso que ainda tinha jeito. Difícil, no entanto, era levantar aquela senhora de sua cama e levá-la ao pequeno posto de saúde do lugar. Tinha que salvá-la ali mesmo, com medicamentos fortes.
Dr. Lemos como andava desprevenido de papel e lápis, pediu ao marido da doente que lhe fornecesse material para que fosse lavrada a receita. Pediu o papel, mas não havia papel naquela casa. Também não havia lápis nem caneta. Difícil estava de escrever uma receita para que o marido fosse comprar o remédio na farmácia. Diante de tão constrangedora situação, já com o dono da casa devidamente encabulado, o nosso médico teve inusitada ideia.
Havia uma janela encostada à parede, pronta para ser posta no seu lugar, coisa que estava sendo feita pelo dono da casa na chegada do médico. Dr. Lemos vendo aquela janela nova e plana, pediu ao seu anfitrião um pedaço de carvão do seu fogão a lenha, o que foi providenciado com rapidez. O médico inclinou-se, e ali mesmo, na frente da família, escreveu, nas tábuas, sua receita, para ser levada ao farmacêutico. Daí a pouco o dono da casa sai em busca do centro da cidade com a janela na cabeça à procura do milagroso remédio.
Na farmácia, mesmo assombrado, o balconista só aceitou aquela extravagante receita, porque reconheceu a assinatura do médico. O remédio foi vendido, a janela foi devolvida ao proprietário, e pregada na sua casa, e a mulher escapou da doença. Consta ainda hoje nas memórias da região que aquele foi o único caso de uma receita escrita nas tábuas de uma janela.