CARNAVAL DE 1963 - Edmilson Martins
Meados de 1962, Novembro ou Dezembro, não me lembro bem, um certo dia eu estava com Waldefrance Correia preparando os cartazes de um filme nacional, “Aviso Aos Navegantes, Carnaval no Fogo ou Garotas e Samba” bem, não importa, o fato é que era uma chanchada carnavalesca. Nesse momento chegam Murilo Teixeira Deassis de Nelim, Osmundo Fiuza e salvo engano Zé de Borgim.
Enquanto comentávamos o filme, me veio uma idéia: Ei, que tal a gente formar um bloco para o próximo carnaval? Imediatamente todos concordam com a ideia. E, se em vez de um, formássemos dois ? isso seria bom para estimular a concorrência, mas é claro , seria melhor ainda, eles concordaram por unanimidade. Bem, eu vou ficar encarregado de um, quem vai enfrentar o outro? Não me lembro se Deassis ou Murilo topou a parada, e foram logo dizendo que iam convidar a mulherada pra participar, o que foi uma excelente ideia.
Agora vamos pensar nos nomes. Alguém sugeriu que tal, Gregos e Troianos? Sei não, disse alguém, esse povo só vivia em guerra e nós queremos é paz e harmonia. Temos que pensar também nas fantasias, sugeri, não pode ser coisa muito complicada não. Sabe qual a fantasia que eu gostaria de desfilar ? Como um marajá daqueles países do oriente, e nasce ai “OS ORIENTAIS” Bom, falta agora o nome do outro bloco. Bem o nome do outro , vejamos, já descartamos Gregos e Troianos, que tal ESPARTANOS. Esse nome caiu como uma ducha. Nasce “OS ESPARTANOS. Tudo resolvido.
Nos dias que se seguiram partimos para os detalhes, convidar e reunir os participantes para:
- Criarmos os Estandartes.
- Criarmos os modelos para as fantasias.
- Formarmos a Banda e Bateria.
Os estandartes ficaram a cargo de Ildefonso que trabalhava na Farmácia de Seu Nelim e que nessa época já era um grande pintor.
As Fantasias, para isso nós fomos até à biblioteca de S. João Teireira, talvez a maior biblioteca de Varzea-Alegre, e, folheando as enciclopédias, achamos os modelos ideais para as fantasias, agora era só confecciona-las.
A Banda ou bateria, Convidamos Mestre Chagas e alguns músicos da Banda de Música local que aceitaram participar, tivemos também a ajuda de Pedro de Sousa que na época me ajudava nos programas de calouros do Odeon, nos ensinando a tocar pandeiro, tamborim, reco-reco, tambores, e até uma cuíca que ninguém conseguiu aprender a tocar direito aquele troço, assim mesmo formamos nossa “bateria” se é que se pode chamar aquilo de bateria.
Após longo preparativo com ensaios, coreografias e muito trabalho chega o grande dia:
Nervos à flor da pele pois sabíamos que fora criada uma comissão julgadora, cujo presidente era nada mais e nada menos do que o renomado comentarista da BBC de Londres, Joaquim Ferreira.
Primeiro Dia: A Rua Major Joaquim Alves apinhada de gente para ver o tão badalado desfile. Nós, os foliões dos ORIENTAIS dançávamos garbosamente ao som das marchinhas sob os aplausos da multidão, era uma apoteose! Em seguida, sob arrufos, delírio e suspiros da rapaziada e da multidão vinham OS ESPARTANOS jorrando beleza pois ali estavam desfilando o que Varzea- Alegre tinha de mais belo, era um colírio para os olhos da multidão que embevecida aplaudia.
Logo em seguida, aparece Matias de Souza acompanhado de um grupo do Roçado de Dentro com sua sanfona e vários outros instrumentos acompanhando o desfile, a eles se juntaram alguns “SUJOS”, foliões que fantasiados se juntavam ao grupo.
No segundo Dia, a mesma coisa, só que o bloco do roçado de Dentro apareceu maior e mais organizado arrancando risos da Multidão.
No terceiro dia, o desfile final tinha que ser histórico, pois o título estava em jogo. Por essa ocasião o bloco de Matias já era enorme e devido à grande diversidade de caracterizações e fantasias absurdas o povo delirava durante sua passagem pelas ruas da cidade. Nascia ali A ESCOLA DE SAMBA UNIDOS DO ROÇADO DE DENTRO que até hoje abrilhanta os carnavais de Varzea-Alegre.
No dia seguinte sai o resultado da apuração. OS ESPARTANOS foram merecidamente os Campeões.
Sei que muitos nomes não foram citados, talvez por esquecimento ou por eu querer falar apenas da minha participação nos eventos, sei também que nada disso teria sido feito sem a participação e colaboração direta dos meus amigos e de todos aqueles que de alguma forma participaram dos eventos aqui descritos.
A saudade que sinto daquela época é enorme e para todos aqueles que ainda estão entre nós e que participaram desses momentos da minha vida, um forte abraço e o meu muito obrigado!
Edmilson Martins
Juazeiro do Norte, 15 de Dezembro de 2014.