VINGANÇA DE PESCADOR.
No ano de 1955, nós morávamos no sítio Vazante, hoje um bairro nobre de Várzea Alegre, a cidade mais alegre do Brasil.
Vez por outra nós recebíamos a visita de uma senhora idosa de nome Aninha Marinheiro, que às vezes chegava a passar até dois meses. Além do incômodo, aquela senhora chegava a impor ordens e mudar os costumes como fizeram os portugueses com os indígenas no Brasil.
Um certo dia eu peguei um landuá e falei:
: Eu vou já pegar uns peixes na Lagoa do Arroz.
A nosso visitante gritou:
- Só se for tu mesmo. Os peixes que tu pegar eu asso na língua.
Eu fiquei revoltado mas fui até uma lagoa pequena para tentar pegar alguns peixes. Cheguei na lagoa e comecei a mergulhar o landuá e depois de muito esforço veio uma piaba. Com a piaba no landuá eu pensei comigo:
- Vou levar essa piaba para a velha assar na língua. Quando tentei segurara a piaba ela escapou. Eu passei mais de uma hora com o landuá no mesmo local e nada. Voltei contrariado, mas quando passava na casa de Zé Vicente me veio a idéia de preparar uma vingança para a nossa visitante.
Quando cheguei em casa, estava meu pai e minha mãe conversando com Aninha. Na hora que ela botou os olhos em mim foi logo dizendo:
- Cadê os peixes que tu ia pegar?
Eu falei:
- E quem foi que disse que eu não peguei? Eu peguei um piau e quatro curimatâs de palmo.
- E cadê?
- Eu vinha passando na casa de Zé Vicente e escutei Madalena dizendo que não tinha nada pra comer e eu então fiz a caridade de dar os peixes pra ela.
A velha me respondeu irritada:
- Eita menino maluvido. Pega os peixes quando acabar entrega para os outros, porque não trouxe pra casa?
- Pois é. Eu achei melhor dar os peixes pra ela, porque os peixes já são fedorentos e assados na língua de uma velha sebosa, vão ficar muito mais.
Depois que eu disse aquilo meu pai me deu uma dúzia de chineladas, mas eu fiquei satisfeito porque pratiquei a minha justa vingança.
Mundim do Vale.