UM CAUSO
SONHADO - MUNDIM DO VALE
Ontem
de noite eu sonhei que estava em Várzea Alegre, de saída para a quinta do Judas
no Sanharol, quando chegava Punduru numa bicicleta velha e me dizia:
-
Raimundim. Souza Sobrinho mandou eu lhe levar pru Bonizaro, para você ajudar a
ele na festa do Juda. A princípio, eu pensei em não atender, mas em virtude da
insistência resolví fazer aquela viagem. Quando nós chegamos eu avistei logo
duas tarefas de terreiro bem varrido e agoado, uma calçada alta e uma sala
grande onde tinha mais de vinte redes armadas.
Os
convidados;
-
Raimundo Leandro e dona Raquel. – Fatico, fihos e netos. – Maurício, filhos e
netos. – Osmar, Joaquim e Antônio de Sérgio. – Tito e Dedê. Pé Véi. – Veira. –
Neguinho das Gaiolas. – Luís Justino. – Raimundo de Durval. Zé de Totô. –
Cícero Moucho. –Antônio de Gabriel. – Luís, Divino e Zé Branco. – Zé, Chiquito,
Antônio e Renato Bilé. – Jerônimo Bilé. Telma Morais. – Cláudio Souza. –
Raimundo de Souzão e Teresinha. – Chico Primo e outros que não deu para
visualizar.
As
brincadeiras;
-
Testamento e enforcamento de Judas.
Quebra Pote. – Cai no Poço e outras mais.
Fui
recebido pelo poeta Souza Sobrinho que foi logo me dizendo:
-
Raimundim. Eu mandei lhe chamar para você me ajudar a fazer o testamento do
Judas.
Eu
ainda enfadado da viagem respondí:
-
Sousa. Eu escapei da viagem mas estou só o intertelo. E tem mais eu estava de
saída para a quinta do Sanharol.
-
Pois se deite naquela rede para descansar um pouco, que eu vou fazendo com o
Cláudio Sousa e depois eu lhe chamo.
Logo
que eu me deitei chegou Manchete com Ana Márcia e Ana logo perguntou:
-
Fia. Quem é aquele veim que tá naquela rede?
-
É Raimundim, Mas não mecha com ele não, se não ele vai bater no Sanharol e mais
tarde eu vou precisar dele para me ajudar.
-
Valha como Raimundim tá acabado! Tá a cara de seu Fábio Pimpim.
Próximo
de onde eu estava tinha um Judas sentado numa cadeira de balanço, fumando um
charuto Havana e lendo a revista Luluzinha. Souza chamou o Neguinho das Gaiolas
e recomendou:
-
Neguinho. Preste bem atenção! Você vai ficar aqui do lado do Judas, para não
deixar ninguém roubar, que mais tarde João Piau vem para filmar. Mas tenha
muito cuidado, que Raimundo de Durval, Luís Justino e Zé meu cunhado estão por
aqui. Eles já roubaram até moça, avali judas.
O
Neguinho já tinha tomado umas, mas tranquilizou Sousa:
-
Deixe cumiguel!
A
previsão do promotor da festa deu certo. Luís Justino embriagou o pastorador e
Raimundo junto com Zé surrupiaram o Judas. Quando Souza sentiu falta do Judas ficou peidado de
raiva e partiu para o pastorador:
-
Mas Neguinho. Tanto que eu recomendei e você deixou os cabras levarem o Judas.
-
Pois é. Eles me dero uma cachaça e parece qui tinha rapa de unha dento, pruque
eu me danei pra drumir,
-
Pois agora nós vamos lhe amarrar no poste e você vai ser o Judas.
-
Tá certo. Pode deixar cumiguel.
Amarraram
o Neguinho bem amarrado e ele terminou virando atração para as crianças, que
inventaram de jogar água e sabugos nele. Quando as crianças cansaram o Neguinho
pensava que ia ficar em paz, Mas de repente chegou Vitorino e Carlos Maurício,
cada um com um espeto, programando o castigo para o traidor de Jesus Cristo.
Vitorino Dizia:
-
Carlos Maurício. Você sabe o que é que nós vamos fazer com os espetos?
-
Sei nós vamos enfiar no anel do Judas.
Naquela
hora o neguinho aperriou-se e gritou logo para Raimundo Leandro:
-
Ei. Padim Raimundo! Disamarre eu aqui, qui eu num vou ser mais juda não.
Souza
foi chegando e perguntou:
-
O que foi que houve Neguinho? Você dise , pode deixar cumiguel e agora quer
abrir?
-
É pruque Viturino e Carmauriço chegaro aqui cum dois ispeto dizendo quera mode
infiar no meu caneco. Pode me tirar daqui.
-
É não Macho. É brincadeira deles.
-
Mais eu num cunfí não.
-
Que Judas frouxo é você? Que chora no pé da forca? O seu castigo vai ser só mais tarde, mas vai ser só a
metade do que Jesus sofreu na cruz.
Enquanto
rolava a confusão eu me preparei para fugir. Saí pela porta da cozinha com
muito cuidado, assim como quem procura pinico no escuro. Mas quando pulei no
terreiro. Me deparei com Raimundo de Souzão e Migel Mandu descascando cocos. Os
dois me seguraram e chamaram Souza. Diante do aperreio eu achei melhor me acordar
porque podia ser que o poeta Souza quisesse que eu fosse representar o Judas.
O
bom do meu sonho foi só rever os amigos que não estão mais presentes.