SANTO ANTÔNIO
DO BURACO.
No
ano de 1957, tinha no então distrito de Maracanau, uma localidade com o nome de
Santo Antônio do Buraco. No local tinha um prédio do governo para recolher
menores infratores, crianças abandonadas e ainda aquelas que os seus pais não
tinham controle sobre elas. O nosso amigo e conterrâneo Waldefrance Correia,
passou uma temporada interno por lá, até o dia que fugiu pelo banheiro e foi à
pé até Fortaleza.
Eram
constantes as ameaças dos pais de mandarem seus filhos danados para o Santo
Antônio. Eu escutei muito à fraze:
-
Raimundo. Você tenha cuidado. Se não eu lhe mando para o Santo Antônio do
Buraco.
Certo
dia meu pai me mandou comprar uma garrafa de manteiga da terra, na casa de
Beliza. Quando eu vinha de volta, que passava na calçada de dona Vicência
Primo, Liziê estava na janela e foi logo dizendo:
-
Eita. Raimundim! Tu vai passear não é?
-
Não tou sabendo não.
-
Pois vai. Essa manteiga é pra tu levar.
-
E pra onde é que eu vou?
-
É para o Santo Antônio do Buraco.
Depois
que ela disse aquilo, eu não quis mais conversa, me sentei no batente da porta
e fui tratando de desenvolver uma ideia para bloquear aquela viagem. De repente
me estalou a ideia de quebrar a garrafa da manteiga, fui até o calçamento,
joguei a garrafa uns dois metros para cima, para ter a certeza de que ela não
ficaria inteira. O pedaço maior que ficou cabia numa tampa de garrafa. Fui para
casa já ensaiando um chouro e o discurso.
Meu pai quando me viu chorando perguntou:
-
Que chouro é esse, Raimundo.
-
É porque quando eu vinha passando na casa de Dona Vicência, a calçada estava
molhada, eu escorreguei e quebrei a garrafa.
-
Pois não precisa chorar não. Pegue esse dinheiro e vá comprar outra.
-
Mas papai. Liziê me disse que tá todo mundo comentanto, que a manteiga de
Beliza é rançosa.
-
Pois sendo assim esqueça a manteiga e vá lá na bodega de Zé Augusto e compre um
quilo de queijo do Inhamuns.
-
E papai não tá sabendo não?
-
Sabendo de que?
-
O queijo de Seu Zé Augusto tá envenenando o povo. Já envenou a Família de Seu
nelim e a De Seu Mundim Tibúrcio.
-
Então esqueça o queijo também.
Dedicado
aos meus amigos; Carlos de Beliza e Alberto Siebra.