MEU AMIGO!
No Crato existiram muitos projetos com financiamento da Sudene. José Justino foi um dos beneficiados pelo Projeto Asimov e também dera entrada em projeto na Sudene. Mas o tempo passava e não obtinha nenhuma resposta. Certo dia, lamentando esse fato numa conversa na Praça Siqueira Campos, estava presente o varzealegrense Juvêncio Gonçalves Bezerra, o do pássaro de dois bicos, que gostava de contar muita mentira e não fazia segredo disso. Então disse:
“Mas Justino, por que você não me falou há mais tempo. Eu sou amigo de infância do João Gonçalves, o Superintendente da Sudene. Fomos criados juntos, em Lavras da Mangabeira. Tomei muito banho no riacho com o Gonçalves. Querendo, eu vou a Recife com você e prometo que a gente desencava esse projeto!”.
Mas o Justino pensou que fosse mais uma brincadeira do Juvêncio, uma das suas mentiras. Passados alguns dias tornaram a se encontrar e o Juvêncio voltou a insistir:
“Eu tenho que fazer um frete para Recife e você vai comigo, no meu caminhão!”
O Justino acabou aceitando a oferta. Ia arriscar! No entanto, foi pensando durante a viagem toda: “Eu vou passar é vergonha! Como é que o Juvêncio vai fazer esse homem tão importante lembrar dele quando ainda eram meninos?”. Chegando em Recife dirigiram-se para o prédio da Sudene. Ambos muito bem vestidos de paletó e gravata. Na ante-sala do Superintendente, o Juvêncio, com toda a intimidade, falando alto, foi logo dizendo que queria falar com o ‘Gonçalves’. A Secretária toda formal, folheando a agenda, perguntou:
“O Senhor marcou audiência?”
“Audiência coisa nenhuma, menina. Diz a ele que é o Juvêncio Bezerra que está aqui”.
O Justino tomou o maior susto! Abriu-se a porta do Gabinete do homem e ele saiu de lá, com os braços abertos e dizendo:
“Mas Juvêncio velho!!!! Meu amigo!!!”
Foi aquele abraço de quebrar costela.
A BRECHA
O Superintendente da Sudene, com o braço no ombro do Juvêncio, levando-o para o Gabinete e este, por sua vez, segurou pelo braço do Justino e o arrastou com ele. A Secretária não entendeu nada! Começaram a conversar sobre os tempos de menino. O Superintendente:
“Lembra quando a gente ia ‘brechar’ as meninas tomando banho nuas, no rio?”
“Lembro demais! Tinha até uma espera, para caçar avoante onde a gente se escondia e ia, um de cada vez, para apreciar as meninas!”
“Teve uma vez que o Zezinho foi o primeiro a olhar e disse que naquele dia não estava prestando e que ninguém precisava olhar. E eu fui olhar. Quando olhei, vi foi a irmã dele nuinha. Aí eu disse: Pra mim está especial!!!”
MENTIROSO?
Depois de muita conversa, muito riso, o Superintendente perguntou:
“Sim, e aí Juvêncio, você está precisando de alguma coisa de mim aqui na Sudene?”
Só então o Juvêncio apresentou o Justino e explicou o motivo da visita. De imediato, o Superintendente disse:
“Está vendo aquela mesa ali, cheia de projetos? É capaz do projeto dele estar lá. Dá uma olhada, Juvêncio”.
Não se fez de rogado. Procurou, mexeu, remexeu e encontrou o projeto do Justino. Desencavou mesmo. Entregou na mão do Dr. Gonçalves que deu uma folheada, fez algumas perguntas ao Justino e disse:
“Pode deixar, esta semana eu libero este projeto”.
De volta à Praça Siqueira Campos, o Justino passou a contar a história nos mínimos detalhes. E sentenciava:
“Mentiroso é quem diz que o Juvêncio é mentiroso!”
am
Juvencio foi um cidadão querido por seus amigos. Elevou muito o nome Varzea-Alegre por onde passou.
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