Manuel Gonçalves de Lemos
Manoel Gonçalves de Lemos nasceu em 15 de janeiro de 1915, no Engenho Lages, Distrito de São José, no Município de Lavras da Mangabeira. Filho de Thomaz Gonçalves de Lemos e Maria Gonçalves Sobreira, veio de uma prole de vinte e nove filhos. Graduou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1945, passando no ano seguinte, a residir em Várzea Alegre, onde casou com Francisca Mirtes Bitu Lemos e constituiu família, composta de quatro filhos: Francisco Ney, Maria Linda Lemos Bezerra, Manoel Gonçalves de Lemos Filho e Edna Mirtes. Aí, viveu meio século, recebendo o título de cidadão varzealegrense.
Como médico – justiça se lhe faça – jamais desmereceu a ciência de Hipócrates. Profundamente cordato, não recusava no cumprimento do dever. O escritor Padre Antônio Vieira, prefaciando “Folhas Esparsas”, em 1993 afirma: “Dr. Lemos possui as qualidades mais nobilitantes da personalidade humana: delicadeza de trato, paciência beneditina, de atender os doentes, solicitude de se deslocar para onde quer que gemesse a dor, o infortúnio de um pobre doente, por longe e difíceis que fossem os caminhos, com aclives escorregadios e abruptos, terrenos lamacentos e pantanosos, rio a nado, ou as condições climáticas do tempo, chovesse ou fizesse sol, estivesse ou não preocupado com outros afazeres, porque ele não se pertencia. Viajava sempre a cavalo, de jumento e mesmo a pé, atendendo também os recantos mais inacessíveis não só de Várzea Alegre, mas também de Granjeiro, Caririaçu, Farias Brito e Cariús”.
Uma outra característica na personalidade do homenageado - o seu comportamento social de não ferir melindres de quem quer que fosse, de se desligar das tricas e micas de uma cidade pequena e interiorana, onde ninguém vive sem arranhões no amor próprio e na sensibilidade.
Diz ainda o Padre Vieira referindo-se ao comportamento do Dr. Lemos: “dele se poderia dizer que tão sublimado é o seu espírito de cordialidade e respeito aos outros, que jamais somaria 2 e 2 são 4 para não ferir a suscetibilidade do 1 e 3”.
Conta-se como fato folclórico que Dr. Lemos acabara de chegar de Fortaleza, trazendo Corcel novo. Enquanto retirava a bagagem, ouviu um crá-crá forte, na frente da sua residência. Ao chegar à calçada, deparou-se com um garoto, riscando a pintura do carro, com uma tampa de Coca Cola.
Aproximando-se, vagarosamente, do menino, calmo e delicadamente lhe pediu a tampinha e, olhando para o carro todo riscado, disse com um sorriso angelical: Meu filho, não faça isto no meu carro porque você está estragando a sua tampinha.
Na verdade todos estes valores, imanentes da sua personalidade, refletem-se nos seus escritos, sonetos, artigos, discursos, crônicas literárias ou noticiosas, a comprovar o que ensina.
Seis meses antes de sua aposentadoria, Dr. Lemos cedeu seu cargo, no posto de saúde onde trabalhara, passando a dar expediente na cidade de Cariús, evitando assim, a redução de seus proventos que seriam incorporados à aposentadoria que aproximava-se. A pobreza honrada em que viveu guardou até morrer, com inflexível tenacidade, nobreza do coração, pureza da consciência, integridade do caráter, sentimento da honra.
Homem reconhecidamente sereno, incapaz de uma violência, falava com carinho dos colegas de trabalho deixados para trás (Chico de Amadeu, “Comadre” Ceci de João Alves, “Comadre” Dulce de Nego de Aninha, Doca Dutra, Sr. Alcino e tantos outros), dos quais recebeu agradável visita surpresa, no dia de seu aniversário, gentileza retribuída com alegria, ao som da sua flauta doce.
Já aposentado, Dr. Lemos costumava tocar órgão, ler e escrever regularmente, publicando seus trabalhos nos Jornais “Diário do Nordeste” e “O Povo”. Publicou os livros: Sentimentos Íntimos (poesias, 1984) e Folhas Esparsas (crônicas, 1993), ambos ricamente elaborados, refletindo sua vasta cultura, amor à família, às origens, e maneira peculiar de ver a vida.
Faleceu em 09 de abril de 2001, sendo enterrado no Parque da Paz, em Fortaleza. Merecidamente, recebeu o título de “Sócio Honorário da ALMECE” na pessoa da viúva, Francisca Mirtes Bitu Lemos, entregue pelo Presidente, escritor e jornalista, Francisco Lima Freitas, a quem a família, reconhecidamente, agradece.
Fonte: Academia Varzealegrense de Letras