Lembrando Alberto Siebra
O DESEJADO CRATO - Pedra de Clarianã
Arivaldo Siebra, primo de Alberto, morava no desenvolvido município do Crato, mas com freqüência passava as férias em Várzea Alegre, hospedando-se na casa dos tios Seu Zé Augusto e Dona Zulmira. Como havia nascido e se criado no progressista município caririense sempre trazia novidades e brincadeiras diferentes que deixavam os meninos Antônio Ulisses e Alberto boquiabertos.
Numa dessas vindas à “Terra do Arroz”. Arivaldo convidou seu primo Alberto para ir ao Cariri, conhecer as novidades e os progressos daquela região.
Antônio Ulisses, ouvindo atentamente o convite, desejou acompanhar seu amigo e vizinho na viagem. Porém, como não poderia, pediu a Alberto que, quando voltasse do passeio, lhe contasse detalhadamente como era o Crato. Alberto, muito sabido, asseverou que só contaria se o colega levasse sua mala até o caminhão misto de Seu Lourival Clementino, que partiria da frente da Prefeitura. Na época, não existiam as sofisticadas e leves malas de hoje. Estas eram feitas em madeira e pesavam bastante, mesmo quando ainda vazias.
Sem conseguir esconder a ansiedade, no dia marcado para o retorno, o garoto esperou o misto na entrada da cidade, onde é hoje o bairro Betânia, aproveitando pra pegar um “bigu”, pendurado na traseira do caminhão do Seu Lourival. Na boléia, cheio de pose, vinha o turista Alberto.
Ao chegar no ponto de desembarque, Alberto determinou que seu amigo apanhasse a mala na carroceria do caminhão e a levasse de volta pra casa. Em face das novidades trazidas do Cariri, a bagagem pareceu ainda mais pesada; contudo o carregador, desejoso de ouvir as histórias, cumpriu com muito esforço a tarefa de trazer a mala até o interior da residência do Sr. Zé Augusto. Ao chegar ao destino, ainda ofegante, disse:
— Pronto, Alberto, me conte agora como foi a viagem.
O amigo, com muita banca, afirmou que, por estar cansado, iria se deitar e, somente no dia seguinte, falaria sobre a viagem. Assim, Antônio Ulisses já amanheceu o dia debaixo do hoje sexagenário “Pé de Figo”.
Lá pelas tantas, finalmente, Alberto se acordou, e seu amigo passou a implorar pelas histórias prometidas. O pequeno turista disse que só contaria depois que merendasse. Ao findar o café da manhã, Alberto finalmente resolveu contar as novidades ao seu amigo.
Antônio Ulisses ouviu atentamente todas as histórias. Se, em Várzea Alegre, a água era trazida para as casas no lombo dos animais, dentro das ancoretas, no Crato, o precioso líquido jorrava de dentro das paredes das casas. Se aqui o velho motor gerador, de responsabilidade de Seu Julio e Zé Saldanha, só funcionava em parte da noite, no vizinho e à época distante município, a luz acendia de dia e de noite. Na capital do Cariri, havia gelo com gosto de goiaba, abacaxi e várias outras frutas. O nosso pobre menino não conhecia o delicioso picolé; só havia provado do gelo do bar do Seu Zé de Souza, que funcionava próximo do prédio onde hoje é o Armazém Progresso, de Seu Vandir Viana.
Alberto não esqueceu de contar que, na Serra de São Pedro, na ida e na volta, ficou impressionado com a denominada “curva da morte”. Antônio Ulisses exigiu detalhes daquele perigoso e comentado trecho da estrada. Alberto, sem medo de exagerar, contou que a curva era tão fechada que, no meio dela, da boléia, dava para ver a traseira e a placa do caminhão.
Por fim, Alberto disse que, no Cariri, havia o fascinante transporte ferroviário. O trem era uma fila de carros amarrados um no rabo do outro e o da frente dizendo:
— Café com pão, bolacha, não; café com pão, bolacha, não.
Em frente à estação ferroviária, havia uma bela praça e, naquele lugar, Alberto viu um galeguinho, parecidíssimo com o amigo de Várzea Alegre. Ouvindo calado e atento a todas essas maravilhosas histórias, Antônio Ulisses, com voz forte e suspirante, exclamou:
— Ah se fosse eu!
Fonte: Pedra de Clarianã
Extraído do livro: Conte Essa, Conte Aquela - História de Antônio Ulisses
Foto arquivo Memória
Foto arquivo Memória
Alberto sempre foi um dos principais personagens e colaboradores do blog Pedra de Clarianã. Eu não consumo bebida alcoólica há muito anos, mas nunca larguei o saudável vício do Bar de Alberto, no calçadão. Ali escutava e me divertia com as cômicas histórias contadas pelo simpático dono do bar. Todos nós, de várias gerações, vamos sentir muito sua falta, perdemos hoje sua presença material, física, mas jamais esqueceremos do agradável amigo Alberto Siebra. Vá em paz...
ResponderExcluirUma grande perda, a alegria daquele lugar se foi. Descase em Paz amigo. Sentiremos muito sua falta.
ResponderExcluirNós não perdemos o Alberto. Nós devolvemos para Deus.
ResponderExcluirTem também aquela do João Guimarães Rosa, lembram?
ResponderExcluirMeu tio querido, nossa grande alegria. Interessante é que ele não lembra a tristeza. Sua vida foi só alegria.
Deus sabe o que faz!