Chamá-la de minha Várzea Alegre seria muita prepotência. Ela é viva, pulsante, crescente e autônoma. Não pertence a ninguém.
Talvez devesse dizer que pertencemos a ela. Digo isso devido à mais pura percepção ocorrida nos dois corridos dias em que estivemos lá. Nada mudou. Há quem diga que mudou.
Cresceu, aumentaram ruas, mudaram casas, construíram prédios, asfaltaram ruas. Não. Nada mudou. Suas ruas embora mais iluminadas, cobertas por uma mortalha preta de asfalto ainda guardam os passos de algumas juventudes que lá ficaram.
O silêncio das noites mornas e secas trazem ainda silenciosamente os perfumes dos primeiros desejos, da juventude que surgia lentamente como um raiar de sol. Olhares, risos, beijos, cervejas, sonhos, sentimentos, tudo ficou guardado entre as frestas dos telhados que nos espiavam sorrateiramente nas madrugadas silenciosas.
Muitos prédios foram construídos, muitas pessoas mudaram, escolas, praças, calçadas, tudo parece diferente no primeiro instante em que se vê depois de uma longa ausência.
Mas aos poucos, olhos mais atentos conseguem ver a alegria do calçadão, onde adolescentes pensavam ter encontrado o amor de toda sua vida. Ouvidos atentos ainda ouvem ao longe os últimos sons que fugiam do Creva nas madrugadas, quando casais de namorados trocavam suas últimas e eternas promessas de amor, promessas que acabariam provavelmente no dia seguinte, antes do clarear do dia.
Passei solitariamente por tuas ruas, escondido no marasmo do entardecer e na escuridão da noite, não por decisão própria, mas por não encontrar nenhum companheiro daquela época e vi que nada mudou.
Prédios mudaram, cores, carros, barulhos, cheiros, mas lá dentro, em local que nem todos tem acesso tudo continuava igual. Gente que saiu e voltou, gente que não saiu, gente que ficou no lugar do pai, gente que ficou no lugar da mãe, gente que ficou em seu próprio lugar.
Verdadeiramente, você não mudou. Ainda guarda em seus becos mais escondidos os nossos sonhos de infância, os nossos amores em segredo, os nossos amigos eternos, os nossos abraços, os nossos olhares.
Mudamos nós.
Marcos Antônio Morais
Excelente texto. Parabéns para o autor.
ResponderExcluirParabéns por tão belo texto!!!
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