E TU ACHA POUCO ZÉ?
Preconceito de cor é um mal que atinge o mundo todo. Mesmo com as campanhas educativas ainda não foi possível a erradicação total. Imaginem vocês numa cidade como V. Alegre no ano de 1953.
Pois foi justamente assim: Estava acontecendo uma queima de caieira na Varjota, onde estavam: Pedão de Clara, Vicente Arame, Zé Júlio e João Augusto. Eles estavam bebendo e contando piadas, quando de repente apareceu Zé de Chicão puxando fogo. Pedão olhou para Zé com uma cara antipática e falou:
- Você pode arribar daqui! qui quem gosta de nêgo é sabão da terra.
Zé de Chicão do alto da sua embriaguês respondeu:
- Eu num saio não! A caieira num é sua, é do véi Zé Augusto.
– Se você num pegar o beco dentro de dois minuto eu asso você na boca dessa caieira.
Vicente Arame sabendo que Pedão era violento e estava de fogo, aconselhou Zé para sair, porque podia haver uma confusão maior. De nada adiantou os conselhos, Zé ficou perturbando muita mais do que criança com apito na boca.
Pedão deu de garra de um tição de fogo aceso e acunhou no lombo de Zé e ainda saiu sapecando o coitado até o Roçado de Dentro. Quando chegaram na frente da casa de Antônio do Sapo os cachorros latiram e Pedão resolveu recuar, com medo dos cachorros e em respeito ao dono da casa. Com o barulho dos cachorros, Antônio do Sapo saiu na calçada na companhia de Dona Naninha e dos seus filhos Chiquinho e Raimundinho, para verem o que estava acontecendo. Quando botaram os pés na calçada depararam com os dois cachorros abocanhados nas pernas de Zé, assim como que querendo repartir uma pra cada. Tiraram os cachorros e levaram Zé para a sala da casa sem saberem do acontecimento anterior.
Vendo o estado de Zé, Antônio falou para os filhos:
- Amanhã eu não quero mais esses cachorros aqui não. Cachorro que ataca gente não me serve.
Entre um gemido e um ái Zé falou:
- Deixe os cachorro seu Otõe. Num tem cachorro no mundo qui seja mais cachorro do qui Pedão de Qilara.
Enquanto Raimundinho lavava o lombo de Zé com água de sal ele contava o que tinha acontecido e ainda rogava praga dizendo:
- Mais eu tem fé im meu São Binidito qui um pé de aroeira ainda ai de cair pru riba de Pedão de Quilara.
Raimundinho perguntou:
- Zé e porque foi que Pedão fez essa bagaceira com você?
- Por nada. Foi só rindade mermo. Ele só fez isso cum eu, pruque eu sou preto e pobe.
- E TU ACHA POUCO ZÉ?