ERA ASSIM MINHA MÃE - Por Flor das Bravas.
Não a conheci na sua adolescência porque quando nasci ela estava com trinta e cinco anos. Mas conheci o vigor da sua jovialidade na energia com que desenvolvia suas tarefas diárias. Mulher de pulso firme, corajosa e disposição em tudo que se propunha a fazer e a fazer bem feito. Na culinária, era especialista sem nunca ter frequentado uma escola. Não havia na região quem melhor cozinhasse do que ela. Era a “Chef” em festas de casamento. Da galinha cheia às almôndegas empanadas, popularmente chamadas de bolinhas de festa. Não havia festa sem essas bolinhas de carne batida, porque não havia a facilidade do frigorífico e suas carnes moídas. Por maior que fosse a panela de arroz não saía cru ou queimado. Sua fama de boa cozinheira ia de um recanto ao outro. Em casa não confiava suas panelas a ninguém. Só ela tinha o tempero perfeito, a mão boa. O queijo de coalho ou de manteiga. O doce leite ou de gergelim. O chouriço ou o arroz doce de rapadura com amendoim. Chapéu de couro, manzape. Doce de cajarana, canjica ou pamonha. O pão de arroz ou a tapioca. Tudo era perfeito. Baião de dois com queijo ou carne de porco. O capote ou a galinha. Feijão com pão ou mungunzá com nata de coalhada e jerimum de leite vermelhinho, sem água de capa rosa. Andava léguas por uma cabaça de água pura quando a sua cacimba contraía ou se contaminava com a bendita da capa rosa que deixava o feijão com uma cor escura. Era exigente em tudo que fazia. Seu crochê era perfeito. Não era de muito abraço, mas amava a cada um dos filhos como se fossem únicos e eram. Dando-lhes a atenção conforme a necessidade. Ao mais frágil, mais carinho, ao mais forte, o seu apoio. Mulher forte, de fibra e coragem. A nadadora em dia de enchente no rio das Bravas. Seu grito ainda ecoa quando o açude ou o riacho nos chamava para o banho que se tornava ainda melhor quando nos acompanhava nas tardes ensolaradas e de águas correntes num riacho alegre onde a sombra da Oiticica dos Araçás era o balneário. A roupa lavada sabão da terra que ela mesma produzia e anil que azulava o branco. O cheiro da roupa lavada era o perfume que exalava de suas mãos mágicas. Mulher que se condoía com as mazelas dos outros. Não era alegre ou triste. Era equilibrada. Conversava, cantava, rezava e ria. Uma novelinha no rádio. O pilão ou o moinho. Enfrentava inverno ou verão. Sonhava. Foi grande no seu silêncio, quando talvez, mais nos ensinou.
Falar de mãe é um ato
muito pessoal, cada um tem a sua visão com a qual traça o perfil de sua mãe com
as características que dela concebe que se espera que sejam boas porque não se
pode conceber que mãe alguma não seja boa. Quer pela força do nome ou dimensão
da missão, mãe é essência, ciência e sabedoria. Mãe não se fabrica, mas se
constrói na humildade e na ternura.
Era assim, a minha mãe!
ResponderExcluirPode jurar.
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