CABA FÍ DE CANCELA BATIDA - Mundim do vale
Meu conterrâneo e parente João André era compadre do meu pai Pedro Piau e assim sendo havia uma amizade entre as duas famílias. João tinha o apelido de Manga Murcha e ao contrário do que que pensava algumas pessoas, ele gostava de ser tratado pelo apelido, para ter a oportunidade de disparar uma bateria de palavrões contra aqueles que o apelidavam.
Depois de uma certa idade João André adotou um gato que era tratado com o mesmo carinho que ele dispensava aos filhos.
No ano de 1966, eu voltava do sítio Corujas e chegando na Betânia ví João André sentado num banco com a esposa e rodeado por cinco dos seus filhos na calçada. Dos cinco eu me lembro bem de; André, Joaquim e Elizeu.
Quando me aproximei da calçada deu para notar que ele passava a mão do lombo do gato. Eu dei boa tarde, subi a calçada e falei:
- Fala Manga Murcha!
Ele olhou pra mim e respondeu:
- Manga Murcha o que! Caba pequeno fí de quenga!
- Eu logo rebati:
- Deixe pra você ficar zangado depois, porque qualquer dia eu vou carregar esse gato para botar o couro dele na cuíca da Charanga.
Ele reagiu dizendo:
- Eu sei que você não tá com a gota. Vai ser da vez que um Piau vai ficar banido de peia.
- Por falar em peia, eu tou com vontade de lhe açoitar na frente dos seus filhos.
João levantou-se colocou a mão que passava no gato sobre o meu ombro e fechou os dedos com tanta violência, que eu fui arreando até ficar sentado todo mijado. Quando ele me liberou daquele castigo, eu desci os batentes em direção do terreiro e sabendo que não tinha condições dele em alcançar gritei:
- MANGA MURCHA!
João partiu na minha direção gritando:
- Esbarra aí FI DE CANCELA BATIDA!
Mas quando ele terminou de falar o “ Batida “ Eu já estava subindo a ladeira da Usina Diniz.
Depois daquela aventura eu passei seis anos sem andar na Betânia.