Em bons tempos, tinha sido um considerável garanhão, desses de causar sensação no rebanho. Mas o tempo fora passando com sua inexorabilidade e, a lei da gravidade, por fim, venceu. Tentara tudo: afrodisíacos, simpatias, promessas, macumba, mas o que caíra por terra não mais dava sinais de querer alçar vôo. Buscou, por último, mentir como os colegas que carregavam também sete décadas nos costados, mas terminara por se resignar, porque ninguém já mais acreditava nas peripécias sexuais que inventava, capazes de fazer inveja a um Don Juan ou a Giacomo Casanova. Semana passada, porém, estava numa bodega vizinho a sua casa, lá na Ponta da Serra, quando viu a promissora novidade pela televisão: já se estava vendendo na Farmácia a felicidade de botica, a alegria de velho, a ressurreição dos mortos: um tal de Viagra.
“Bobina” - assim o chamavam os amigos dando uma idéia de como aquela sua parte nobre se encontrava enrolada - pôs a melhor roupa, deu uma desculpa qualquer à mulher- mas já a olhando com um sorriso maroto - e pegou a “sopa” para o Crato, nervoso como se buscasse seu paraíso perdido , o Shan-gri-lá , ou sua terra prometida. Desceu na Praça Francisco Sá, tremendo como um adolescente que pela primeira vez adentra um bordel. Passou diante de algumas farmácias - tão abundantes na cidade, como a doença em seu povo - e saiu procurando pacientemente, como quem toma chegada para matar passarinho.
Finalmente, criou coragem e, escolhendo uma menos movimentada, entrou, procurou o balconista mais velho e sussurrou-lhe, nervoso, alguma coisa inaudível. Como o despachante o interrogasse sobre o que queria, disse que precisava de alguma coisa para o “palpite”. Não tendo o comerciante entendido o seu pedido, informou ao cliente que a Casa Lotérica era na outra esquina. “Bobina”se impacientou, teve vontade de desistir, mas a causa era nobre e, novamente, solicitou, agora com mais clareza: “Quero aquele remédio que faz velho virar moço, já tem aqui?”
Finalmente foi entendido e o moço, solícito e misterioso, lhe trouxe a maravilha do século, com o sigilo e o cuidado de quem transporta nitroglicerina. “Bobina” pagou satisfeito e saiu, guardando, rápido, o embrulho no bolso, como se temendo o SNI ou a Polícia Federal. Tomou o ônibus de volta, como um noivo que parte para noite de núpcias. Antes de perpetrar a segunda lua-de-mel, no entanto, preferiu comemorar a descoberta da fonte da juventude, no primeiro botequim que avistou no retorno a Ponta-da-Serra.
Tomou um pifão sensacional. O relato sobre o que aconteceu após o álcool, tivemos dos seus inseparáveis colegas. Voltou bêbado cambaleando para casa e, antes de entrar, ingeriu os quatro comprimidos azuis e mágicos, de uma só vez. Aí se deu a tragédia. Segundo os amigos , ele saiu “dispinguelado”: “ofendeu” três cabras e um pai de chiqueiro que estavam no terreiro, furou a jarra d’água da cozinha, tentou estuprar o papagaio que olhava desconfiado e temeroso da sua caqueira e só parou quando levou o maior coice do jumento de lote, quando assediava a jumenta na manga, a tratando intimamente por Carla Perez.
Quando pergunto como ele está agora, os colegas de bar fecham a conversa sorridentes: “Meu Senhor, foi Quilowatt demais na instalação e a Bobina pifou....”