VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Causos lá de nós - Memória varzealegrense

APOSTA  CARA.- Mundim do Vale

No ano de 1988, nós passávamos uma semana santa no Pecém e para passar o tempo, João Morais inventou um jogo de dominó. Ele dizia que  para levar o jogo a sério teria que ser apostando, a metade dos jogadores rejeitaram a ideia da aposta, mas João Morais muito mala, disse:
- É uma aposta simbólica, nós vamos apostar moedas, não vale cédulas e as moedas terão um valor único.
Os jogadores eram; Eu, Morais, Cascudo e Paulo, os perus eram; Sérgio, Joaquim, Marcos e Ozanam.
Eu tinha poucas moedas e perdia muito, foi preciso arrumar umas medalhas para não ficar fora do jogo. Quem ganhava mais era Morais e Cascudo.
Quando Cascudo batia uma parada dizia:
- Isso aqui é para completar o leite das crianças.
Morais quando ganhava dizia:
- Isso aqui é para completar o pagamento da camionete de tração que eu vou comprar pra nós ir pra festa de agosto em Várzea Alegre. Na cabine vai; Eu, Marta, Fátima e as crianças. Na carroceria vai; Sérgio, Joaquim, Ozanam,Cascudo e Militão. Nanum vai no Santo Antônio.
Naquele momento Paulo falou:
- Eu também vou em cima.
Morais não concordou:
- Vai não senhor. Você faz muita confusão, pode descer.
Continuaram o jogo Morais bateu outra parada e quando recolheu as moedas falou:
- Arre égua! Já tão casando é com moeda de São José. Mas não tem nada não, ela vai servir para proteger a nossa viagem.
Terminado o jogo Cascudo foi conferir o seu ganho, dava para comprar dois litros de leite de cabra.
Morais foi conferir o dele, dava para comprar meio litro de óleo.
Terminou a folia do jogo Paulo falou:
- Eita que essa viagem vai ser boa de mais, eu vou daqui até Várzea Alegre, apostando jumento com Nanum.
Eu respondi:
- Mas Paulo, você não tem vergonha mesmo não.
- Porque?
- Porque não faz nem uma hora que o homem botou você pra descer do carro dele e você já tá abigorando pra pegar um bigu.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Causos lá de nós - Memória Varzealegrense

UM  FENÔMENO  NA  VARJOTA - Mundim do Vale

Certo dia em Várzea Alegre – Ceará, estavam reunidos no salão da Casa das Máquinas; Acelino Leandro, Luís Bezerra, Fatico Fiúza, Otacílio Correia e Vicente Cesário. De repente apareceu Chico Danga curtido uma ressaca aliada a uma embriaguez.
Fatico Fiúza falava de inverno. Chuvas, Trovões e relâmpagos. Uma hora  ele falou em fenômeno e Chico Danga entrou no salão tremendo mais do que vibrador de viúva. Chico Sentou-se entre Fatico e Vicente Cesário e foi logo perguntando:
- Seu Fatico o qui é fenomo?
Fatico com aquela paciência que era possuidor tentou explicar:
- Chico, fenômeno é um acontecimento difícil de uma explicação correta.
Chico Danga se achando contemplado com a resposta de Fatico completou:
- Apois ontom-se acunteceu um fenomo cum eu essa noite. Eu tava bebendo cachaça no frejo aí quando deu meia noite eu dici sozim. Quando eu cheguei na frente da cruz de Valdizo Corrêa, um bicho siatravessou na minha frente. Ele tinha quatro braço, quatro perna e duas cabeça, uma cabeluda e a outra careca, ele foi chegando perto deu e preguntou:
- Cadê Chaga Chibata?
- Eu num sei de Chaga Chibata, não.
- Você sabe, diga logo qui eu vou levar ele.
- Eu num vivo apregado im Chaga, não.
- Apois eu vou levar você qui é pra num perder a viaje. Ele partiu pra riba deu e eu neguei o coipo de banda, mais cum aquele tanto de braço e de perna, ele agarrou eu e ficou safanano. Teve uma hora qui ele tava arrastando eu no chão aí eu peguei um cano e taquei na cabeça careca dele. Ele deu um grito tão medõe qui os cachorro da vajota latiro. Depois ele ficou arrotano fogo, aí eu quis dá ôta tacada nele, mais ele se virou num mucêgo e arribou no rumo do Roçado de Dento, qui paricia uma lamparina avuando.
Naquele momento Fatico quebrou o silêncio:
- Pois é  Chico, você entendeu perfeitamente o que é um fenômeno.
Logo depois Chico foi até onde estava Otacílio e pediu:
- Seu Otacilo me arrume um trocado prumode eu tumar uma cachaça lá no bar de André.
Vicente Cesário respondeu por Otacílio:
- Não tem futuro você beber mais não Chico, se você beber o bicho volta e leva você no lugar de Chagas Chibata.

Talento Esquecido - Por Mundim do Vale

TALENTO  ESQUECIDO

Nós temos notado ao longo desse tempo que  o Memória Varzealegrense vem citando os artistas da nossa terra. Mas pouco se falou de Rômulo Gonçalves Cassundé. Ele que é professor de música, compositor e poeta.

O Blog Memória Varzealegrense pede perdão ao músico Rômulo Casssundé e faz um apelo a ele ou aos seus familiares para mandarem fotos e alguns dos seus trabalhos para que sejam publicados, fazendo assim com que o poeta fique nivelado aos demais artistas conterrâneos.

Nós do Memória Varzealegrense admitimos a nossa omissão e aguardamos a oportunidade de corrigir a nossa falha.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Causos lá de nós - Memória varealegrense

CABA  FÍ  DE  CANCELA  BATIDA - Mundim do vale

Meu conterrâneo e parente João André era compadre do meu pai Pedro Piau e assim sendo havia uma amizade entre as duas famílias. João tinha o apelido de Manga Murcha e ao contrário do que que pensava algumas pessoas, ele gostava de ser tratado pelo apelido, para ter a oportunidade de disparar uma bateria de palavrões contra aqueles que o apelidavam.
Depois de uma certa idade João André adotou um gato que era tratado com o mesmo carinho que ele dispensava aos filhos.
No ano de 1966, eu voltava do sítio Corujas e chegando na Betânia ví João André sentado num banco com a esposa e rodeado por cinco dos seus filhos na calçada. Dos cinco eu me lembro bem de; André, Joaquim e Elizeu.
Quando me aproximei da calçada deu para notar que ele passava a mão do lombo do gato. Eu dei boa tarde, subi a calçada e falei:
- Fala Manga Murcha!
Ele olhou pra mim e respondeu:
- Manga Murcha o que! Caba pequeno fí de quenga!
- Eu logo rebati:
- Deixe pra você ficar zangado depois, porque qualquer dia eu vou carregar esse gato para botar o couro dele na cuíca da Charanga.
Ele reagiu dizendo:
- Eu sei que você não tá com a gota. Vai ser da vez que um Piau vai ficar banido de peia.
- Por falar em peia, eu tou com vontade de lhe açoitar na frente dos seus filhos.
João levantou-se colocou a mão que passava no gato sobre o meu ombro e fechou os dedos com tanta violência, que eu fui arreando até ficar sentado todo mijado. Quando ele me liberou daquele castigo, eu desci os batentes em direção do terreiro e sabendo que não tinha condições dele em alcançar gritei:
- MANGA  MURCHA!
João partiu na minha direção gritando:
- Esbarra aí FI  DE  CANCELA  BATIDA!
Mas quando ele terminou de falar o “ Batida “ Eu já estava subindo a ladeira da Usina Diniz.

Depois daquela aventura eu passei seis anos sem andar na Betânia.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Causos lá de nós - Memória Varzealegrense

TOMAR  ONDE? - Mundim dom Vale

No início dos anos 70, Várzea Alegre Ceará, tomou um impulso na sua economia, com a chegada do Terceiro Batalhão de Engenharia, para construção da rodovia Transamazônica, naquela cidade.
O comércio de bebidas foi o que mais cresceu. Foram aberto vários bares e lanchonetes, para atender os jovens da cidade e os funcionários do batalhão. Os mais bem frequentados eram; Bar dos Cuné, Lanchonete Ponto Frio e Lanchonete Bola Preta, onde a sua clientela era formada por jovens; Os namorados, os noivos e aqueles que ainda estavam nas paqueras em busca de arranjar namorados (as).
Certo dia estava um grupo de garotas na praça, quando uma delas falou:
- Negrada. Vamos tomar umas por aí enquanto começa a tertúlia.
Uma das garotas perguntou:
- Onde é que nós vamos tomar mulher?
Outra garota também perguntou:
- Vamos tomar nos CUNÉ?
Outra garota rebateu:
- Não Negrinha. Vamos tomar na BOLA PRETA, que é no centro.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense

GAROTO  PROPAGANDA.

Não ganhei nenhum presente
Na passagem do natal,
Porque Noel não é gente
É um boneco virtual.
Fui dormir na esperança
De ganhar uma lembrança
Mas perdi a minha fé.
Na hora que acordei,
Na  meia só encontrei
O  mal cheiro de chulé.

Fiquei mais contrariado
Porque um vizinho meu
Mostrou um carro importado
Que papai Noel lhe deu.
Será que o bom velhinho,
Enxergou só meu vizinho
Porque anda caducando?
Ou será por preconceito,
Que ele age desse jeito
Só de rico se lembrando?

Já perdi a esperança
Nesse Noel trapaceiro
Que só visita criança
Se o pai tiver dinheiro.
Pois eu lhe digo, Noel:
- Eu tenho um pai lá no céu
Que não gosta, disso não.
Quando seu filho nasceu,
Foi pobre assim como eu
Mas deixou uma lição.

Você com o seu saco cheio
E a bengala na mão
Onde tiver aperreio
Não passa por perto não.
Não conhece favelado,
Filho de desempregado
Subproduto de gente.
Porém  a casa bonita,
No natal você visita
Para deixar o presente.

Será se você existe
Ou não existe sou eu?
Eu tou aqui muito triste
Por conta do jeito seu.
Passou cantando: - Ou, ou, ou....
Mas comigo não deixou
Nem um pequeno peão.
Ficou seco, o saco seu,
Mas você encheu o meu
De revolta e exclusão.

Você só não sabe disto
Porque é um boneco mal
Mas é para Jesus Cristo
Toda festa de natal.
Você só gosta do cobre,
Não anda em casa de pobre
Porque a mídia não manda.
É uma peça do mercado,
Que foi muito bem treinado
Pra garoto propaganda..

Mundim  do   Vale.
Várzea  Alegre-Ce

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Contos de nossa memória - Memória Varzealegrense

QUEM ME DERA ELE VOLTASSE! - João Bitu


JOSÉ ALVES BITU nasceu no sítio CARNAÚBAS em 1906, no município de Várzea-Alegre. o terceiro dos seis filhos de JOÃO ALVES FEITOSA BITU e Dona EUFRÁSIA (Frasinha) como era conhecida carinhosamente naquelas cercanias do caudaloso Riacho do Machado.
 
Exceto Expedito, que faleceu ainda muito jovem, conheci os demais, a saber: Nonõe, Iza, Teresinha, Afonso e Expedito. Ele, ZÉ BITU, logo bem cedo, fez ver sua inteligência, sabedoria, desenvoltura e aptidão em torno de assuntos concernentes aos rumos da família, mostrando um alto espírito de liderança e bom senso.

Como agricultor e pequeno criador, foi acumulando aos poucos, uma relativa estabilidade econômica, graças naturalmente ao fato de não ser portador de qualquer vício como alcoolismo, tabagismo ou outros costumes desaconselháveis e dispendiosos, alem de nocivos à saúde. Não recebeu, necessariamente, uma assistência escolar total dada a inexistência de meios na localidade naqueles tempos. Tudo era bem mais difícil ou quase impossível.

Por algum tempo, entretanto, esteve acontecendo na cidade, oportunidade em que foi coroinha na Igreja de São Raimundo Nonato, sob os auspícios e comando de Padre Lima, vigário da comarca, com absoluto apego aos caminhos religiosos. Todavia, por vontade pessoal, optou por deixar a batina não muito tempo depois.

Conheceu para felicidade sua e de nós outros, no sítio FORQUILHA que não distava muito das Carnaúbas, senão poucos quilômetros, a linda senhorita VICENTINA de invejável beleza física e altos predicados domésticas, neta afortunada da Velha Chicô Pereira, bem muito conceituada e esperta nos negócios a que se dedicava. Foram felizes, muito felizes por 53 anos quanto durou o seu matrimônio, gerando o nascimento de 13 filhos. Coisas de DEUS!

ZÉ BITU ao final da década de quarenta radicou-se na cidade. Comprou um pequeno estabelecimento comercial num prédio que já era de sua propriedade, situado à Rua Major Joaquim Alves, esquina com a entrada para a Praça Santo Antonio onde está o cemitério da Saudade. Sempre que por ali passava um cortejo fúnebre, a porta do estabelecimento era fechada em reverência ao falecido.

Homem sábio, inteligente, honesto e desembaraçado em tudo quanto lhe dizia respeito. Foi promotor adjunto, vereador pela legenda do antigo PSD, católico praticante, apadrinhou centenas de crianças na pia batismal, merecedor do mais alto respeito e consideração em torno de si. Era ponto de referência para a correspondência entre pessoas que moravam em outros centros, como São Paulo, Rio, Mato Grosso e outras partes para onde se deslocava aquela gente do município. As cartas e encomendas não vinham dirigidas para “CAIXAS POSTAIS”, mas aos cuidados de ZÉ BITU, o que significava garantia. Sucesso e urgência na entrega.

Era portador de um brilhante senso de humor, todavia, não se dava ao hábito de contar anedotas corriqueiramente, limitando-se, isto sim. a aparecer com repentes os mais engraçados possíveis, quando menos se esperava.

“Em certa ocasião um de seus netos perguntou se era” verdade que a cobra só picava sua vítima quando estava com raiva, ao que ele respondeu: Não sei dizer. portanto, é melhor você não mexer com ela, pois nunca se sabe se está com raiva ou não!

Outra vez estava acontecendo enorme calor, semelhante ao de hoje e alguém lhe perguntou: “Compadre isto será chuva e ele respondeu com aquele seu leve sorriso no canto da boca. Eu acho mais parecido é com calor”.

Gostaria de ter diante de mim ainda hoje, o meu Velho Pai e o nosso Pompílio Velho, meus mestres de outrora de quem herdo modestos conhecimentos gerais e a alegria de saber falar e escrever aLgumas coisas de proveito na vida.

Quem teve a felicidade de conhecer meu estimado Pai em seus tempos de existência sadia e gloriosa sabedoria, sabe muito bem reconhecer seus valores intelectuais e humorísticos que a tantos causou benefícios e muita alegria. Esposo, pai e amigo extremoso, possuidor de um coração puro que só amor tinha para dar.

DEUS o tenha lá no paraíso celestial!

Mundim Do Vale - MEL COM FARINHA (comentário do Mundim)

O meu pai Pedro Piau chegou certo dia na casa dos seus compadres Zé Bitu e Vicentina e foi servido de um mel de engenho. Ele pediu um pouco de farinha e ficou tentando unir os compostos com uma certa dificuldade. Quando perdeu a paciência, coisa que ainda hoje ele tem bastante. Olhou Para Zé Bitu e falou:
- Compadre! Tem coisa no mundo mais trabalhosa, do que misturar mel com farinha?
- Tem compadre. É separar depois de misturado.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Nossa Memória - Memória Varzealegrense

Várzea Alegre - Luzia Gregório Oliveira



VÁRZEA ALEGRE

NESSAS RUAS FUI CRIANÇA, PÉS DESCALÇOS, LIBERDADE A FLOR DA PELE, NÃO EXISTIA MEDIDAS PARA OS SONHOS E NEM O MEDO DE SONHAR.  

ANDAVA NAS RUAS DONA DOS BECOS CONHECEDORA DA PAZ QUE ALI HAVIA, HAVIA DIFICULDADES FINANCEIRAS MAS TINHA O MUNDO NAS NOSSAS MÃOS, E COMO ERA BOM SER CRIANÇA TRAZENDO O SOL NA CARA CADA VEZ O QUE O DIA AMANHECIA E A RUA CHAMAVA PRA SER FELIZ, SINTO SAUDADES DOS MEUS SONHOS QUE DEIXEI NESSAS RUAS, NA LUA E HOJE OLHO UMA FOTO AMARELADA PELO TEMPO E UMA PONTADA DE  SAUDADE BATE, BATE ME CHAMANDO PRA VOAR NO TEMPO

LUZIA

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Poema da Memória Varzealegrense

POEMA  DA  MEMÓRIA VARZEALEGRENSE - Por João Bitu.


O CASARÃO DA RUA MAJOR JOAQUIM ALVES

Casarão amado as tuas lembranças
Reacendem em nós tantas emoções!
Rememoram em nossos corações
A saudade, sem quaisquer esperanças
De retornar aos tempos de crianças.
De Zebitu, nós os descendentes, 
Convivemos radiantes e contentes
Com harmonia e paz verdadeiras
Dele recebemos as lições primeiras
Sob a égide de nossos ascendentes

A casa velha era mesmo um primor:
Duas salas, cozinha e a despensa
E na frente uma área imensa
Três quartos que davam ao corredor
Forrado de madeira com vigor
Encimado por um sótão assaz seguro.
Atrás um degrau de cimento puro
Um banheiro bastante espaçoso
Todo equipado e maravilhoso
E por fim o porão aberto ao muro

Em frente pela rua principal
A Major Joaquim Alves de outrora
Com outra denominação agora
Por força de Lei Municipal,
Ali ainda está a bela Catedral
Porquanto em pé se impôs a fundo
A bonita Igreja de São Raimundo
Uma das coisas que ainda existe
E que com todo esplendor subsiste
Como a mais bonita deste mundo!

O porão que dava acesso ao quintal
Visualizava bem perto a imagem
Duma doce e verdejante paisagem,
Era a vazante ampla e magistral
De beleza alegre e sem igual.
Habitada por marrecas e patos
Jaçanãs e outras aves do mato.
Por alguns bairros era cercada
Muito alegre e sempre admirada
LAGOA de São Raimundo Nonato.

O coração desta terra tão amada
É a nossa monumental igreja 
Em qualquer parte que a gente esteja
Pode-se vê-la bem firme e intocada
Em nenhuma coisa foi modificada.
Sua torre nos chama a atenção
Lá no alto em plena concentração
Num silêncio puro e profundo
Está a estátua de São Raimundo
A olhar para o que foi o nosso CASARÃO !...

João Bitu

Como era o Natal !! - Memória Varzealegrense

COMO ERA ALEGRE O NATAL - Mundim do Vale


Nossa Várzea Alegre tinha
Num certo tempo passado,
Jesus Cristo na lapinha
Com Maria do seu lado.
Seu Amadeu arrumava,
Dona santa ajudava
Junta com Dona Andradina.
Depois que o padre benzia,
Vinha aquela romaria
Para a festa natalina.

A criança não sabia
Quem era papai Noel,
Pra ele só existia
O Menino Deus, no céu.
A festa era de acolhida,
Com toda família unida
Na igreja ou na capela.
Quem sofria era o peru,
Que o último gulu-gu-gu
Era perto da panela.

Na casa da minha avó
No natal tinha um estilo,
De se fazer pão-de-ló
Manzape, broa e sequilo.
A meninada comia,
Quando era no outro dia
Abarcava o que sobrou.
De toda essa verdade,
Eu me lembro da metade
E O RESTO MEU PAI CONTOU.

Hoje os netos de vovó
Não praticam o mesmo estilo,
Já não fazem pão-de-ló
Nem apreciam sequilo.
O peru já foi trocado,
Pelo um chest congelado
Do tamanho de um tetéu.
A casa é cheia de luz,
Mas esqueceram Jesus
Pensando em papai Noel.


É triste como essa gente
Faz do natal um mercado,
Só pensa em ganhar presente
E deixa Jesus de lado.
Essa nova geração,
Não mantém a tradição
De alguns anos atrás.
É o mal da juventude,
Que não conserva a virtude
E os costumes dos pais.

Quando a virgem deu a luz
A família era carente,
E o menino Jesus
Não ganhou nem um presente.
Hoje em dia a mídia manda,
A fé do povo desanda
E o natal perde seu brilho.
Como tudo já mudou,
O que meu pai me contou
NÃO VOU CONTAR A MEU FILHO.

Mundim do Vale.

Versos do Cariri - Memória Varzealegrense

VERSOS DO CARIRI - Por José Hélder França (Dedé França)


PAPAI   NOEL   DE   MENTIRA

MENINO:
- Minha mãe onipotente
Minha mãe, mãe de Jesus
Porque não ganho presente?
Daqueles que o pai conduz.
Eu sei que sou muito fraco,
Mas devia ter no saco
Que ele traz lá do céu,
Um presente pequinino
Para esse pobre menino
Que ama Papai Noel!

NOSSA SENHORA:
- Meu filho não se aborreça
Por você ser esquecido,
Aconteça o que aconteça
Você é filho querido.
Não ande pro lado mal,
Polis a festa de natal
Nesse momento lhe explico:
Do céu não recebe luz,
Não foi feita por Jesus
É brincadeira de rico!

MENINO:
- E quem é papai Noel
Aquele velho barbudo?
Pensei que era do céu
E que de lá vinha tudo!
NOSSA SENHORA:
- É preciso que aprenda
Papai Noel é uma lenda
Que criou a humanidade.
Entre mil sons e lampejos
Para atender os lampejos
Da rica sociedade.

- Mas minha mãe de Deus
Que apaga a dor e a ira,
Porque deixa os filhos seus
Criarem tanta mentira.
Acuda ao pobre menino
Faça badalar o sino
Para a pobreza cruel.
E peça ao pai mesmo assim,
Que tenha pena de mim
Seja meu Papai Noel.

NOSSA SENHORA:
- Agora filhinho escuta
O que vou lhe dizer mais,
Jesus nasceu numa gruta
Há dois mil anos atrás.
A confraternização
Do natal faz alusão
Mas só que bem diferente.
Não foi só na estribaria,
Jesus nasce todo dia
Dentro do peito da gente.

De autoria do meu professor poético José Hélde França (Dedé de Zeba)
Mundim do Vale
Dedicamos a todos aqueles resistentes, que ainda acreditam que o natal é uma festa cristã e não comercial

Causos lá de nós - Memória varzealegrense

Tempo Limpo - Mundim do Vale


No ano de 1966, São Pedro parece que estava preocupado com a copa do mundo e esqueceu de mandar chuva para o Ceará. Passou janeiro, fevereiro e já passava do dia 19 de março e nada. Parece que São José também estava envolvido com a copa.
Era um calor tão intenso que o pessoal de Várzea Alegre procurava ficar embaixo das marquises, para aliviar o calor.
No dia 26 de março, estavam embaixo da marquise da loja de Luís Proto, nossos conterrâneos a saber; Chagas Taveira, Seu Tõe de Cota, Boris Gibão, O motorista Torrão, Zé Athaide, Miúdo de Vicente Grande e Nicolau Inácio.
Um momento lá Seu Tõe de Cota quebrou o silêncio:
- Eita. Qui o negoço tá é rim !
- Chagas Taveira completou:
- É mermo. Vai ser priciso o aparei da Funcema fazer chuver.
- Boris Gibão perguntou curioso:
- E qui aparei é esse?
Nicolau Inácio explicou:
- É um aparelho que joga gelo nas nuvens e faz chuver.
Zé Athaide perguntou:
- E Cuma é qui vão fazer gelo sem ter água?
Miúdo Grande disse:
- Só se for o próprio aparei.
O motorista Torrão olhou para o alto e completou:
- Apois vai ser priciso o aparei fazer as nuve tombém. Pruque eu ispiei pra riba agora e o tempo tá mais limpo do que o palitó de Juciê de Seu Totô.

Versos lá de nós - Memória Varzealegrense

A  BRIGA  DOS  TRÊS  JOÃOS - Mundim do Vale

Literatura de cordel.

João grilo tava teimando
Com Joãozinho Bonequeiro,
Foi chegando João Sem Braço
Que andava sem dinheiro.
Meteu-se na confusão
Dizendo: - Onde tem dois João
É preciso um João terceiro.

Joaõ Grilo disse: - Eu sou João
Aqui e na caixa prego
Já quebrei um santuáriio
Já mandei prender um cego.
Botei o cão pra correr
E agora quero saber
Esse chifre a quem entrego.

Joãozinho disse:- Eu também
Sou o João de Damião
Moro com o Cláudio Souza
Mas não respeito, ele não.
Uma vez no São Caetano
Eu me juntei com um cigano
Pra roubar o sacristão.

João Sem Braço disse:- Vixe!
É muito João delinquente
Já pedí até esmola
Como um deficiente.
Se o Brasil não se cuidar
Eu vou me candidatar
Para ser o presidente.

João Grilo:
Vamos formar nosso trío
Pra fazer e acontecer
No Alto do Colorau
Vamos dançar e beber.
Joãozinho vai pra janela
Pra ficar de sentinela
Se o Cláudio aparecer.

João Sem Braço:
Eu fico cobrando a cota
Depois divido o dinheiro
Tiro cinquenta pra mim
E dou dez ao sanfoneiro
Depois nós vamos gastar
Bebendo de bar em bar
Com Cláudio e Sávio Pinheiro.

Joãozinho:
Eu não confío em você
Fazendo arrecadação
Se não tivermos cuidado
Não vai sobrar um tostão.
Sei que tu só tem um braço
Mas é facil dar um traço
Levar tudo pro Gibão.

João Grilo:
Eu também não acredito
Nesse cabra do Gibão
O Giovane já me disse
Que ele é um fino ladrão.
Se o cabra vacilar
Ele leva o celular
Mesmo só tendo uma mão.

As ofensas foram a deixa
Pra começar a arenga
João Grilo apanhou tanto
Que ficou até capenga.
Joãozinho disse: Tou Brabo!
Eu agora arranco o rabo
Desse mói de fí de quenga

Foi chegando um soldado
Disse:- A justiça não tarda
Vocês respeitem a polícia
Que eu estou aqui de guarda.
Fizeram foi achar graça
Bateram tanto no praça
Que rasgou-se até a farda.

Eu digo agora ao leitor
Que o cordel é verdadeiro
Foi lá no bar de Alberto
Nesse mês de fevereiro.
É uma história fiel
A fonte desse cordel
Foi Dr. Sávio Pinheiro.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Versos lá de nós - Memória Varzealegresne

MEMÓRIA  DO  NOSSO  FUTEBOL - Mundim do Vale
A pedido da amiga Fransquinha Batista 

VI  PERNA SANTA SENTADO
NO  CAPÔ DO  CAMINHÃO.

Eu era ainda criança
Quando vi um futebol
Naquela tarde de sol
Que guardo como lembrança.
Meu povo com esperança
Ajudava a seleção
Torcendo com exaltação
Para um bom resultado.
VI PERNA SANTA SENTADO
NO  CAPÔ   DO CAMINHÃO.

O Cedro veio Jogar
No campo do Juremal
Mas o time se deu mal
Não deu nem para empatar.
Dois a zero no placar
Para a nossa emoção
E o grito de campeão
Do meu povo emocionado.
VI PERNA SANTA DEITADO
NO CAPÔ DO CAMINHÃO.

Depois do apito final
Vi Carlito Cassundé
Abraçar Sílvio Teté
Com Mascote e Bacabal.
Saíram do Juremal
Com Nego Índio e Tinteiro
E na Rua do Juazeiro
Vei a grande multidão.
Fazendo a recepção
Para o time consagrado.
VI PERNA SANTA DEITADO
NO CAPÔ DO CAMINHÃO.

A bandinha da cidade
Tocou aquela alegria
Dentro da sorveteria
Do Senhor Natércio Andrade.
Eu tive muita vontade
De entrar na animação
Mas pra minha frustração
Fui ficar do outro lado.
VI PERNA SANTA SENTADO
NO CAPÔ  DO  CAMINHÃO.

Do beco de Zé Ginu
Avistei sinhá Diniz
Gritando muito feliz
Com Vanda de Seu Dudu.
Avistei Luiz Bitu
Com a bandeira na mão
Vi também Quincô Gibão
No caminhão pendurado.
VI PERNA SANTA DEITADO
NO CAPÔ  DO CAMINHÃO.

Eu nunca vou esquecer
Meus eternos jogadores,
Bandeirinhas, treinadores
Fazendo o time vencer.
Eu já cheguei a fazer
Na minha imaginação
Meu time de campeão
Que me alegrou no passado.
VI PERNA SANTA DEITADO
NO CAPÔ DO CAMINHÃO.

Mote: Fransquinha Batista.
Composição poética: Mundim do Vale.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Causos lá de nós - Memória Varzealegrense

VEM CHUVA GROSSA - Mundim do Vale


Meu conterrâneo Mundim da Varjota, tinha umas respostas parecidas com as de Seu Lunga. Mundim e a sua esposa Cecília, tinham um canteiro de verduras e um pequeno jardim num quintal perto de casa. O marido cuidava da aguação e a esposa da venda das verduras.
Uma vez Cecília foi ao Crato e trouxe quatro mudas de tuia para plantar no jardim. As cinco horas da tarde, estavam os dois plantando as mudas, quando Cecília disse:
- Mundim eu tenho uma recomendação pra fazer. Esse tipo de planta tem que ser aguada só na raiz, não pode molhar os galhos nem as folhas, porque se molhar ela morre.
Mundim olhou para o nascente e falou:
- Apois então vá correndo lá na loja de Raimundo Teixeira e compre quatro guarda-chuvas pra elas, que vem chuva grossa.

Causos lá de nós - Memória varzealegrense

QUERENDO E SEM QUERER

Acontecia a festa de São Raimundo Nonato em Várzea Alegre e a cidade já estava cheia. Eram: Jogadores, prostitutas, fotógrafos, descuidistas e outros mais. Paralelo a festa chegou na cidade um novo destacamento vindo de Juazeiro, tendo como comandante o capitão Nonato, que também era chegado a uma aguardente, mesmo estando de serviço.
Na tarde do último dia de festa, José Querendo bebia na feira, quando não sei porque cismou com um dos policiais novatos. Murro vai murro vem e uma hora lá, Zé desceu uma banda de cambito na cabeça do policial. Mas pra que ele foi fazer aquilo? Foi mesmo que assanhar um boca torta, chegou mais de dez soldados para vingar o companheiro, Zé apanhou mais do que enteado e ainda foi preso. Ou família grande e unida só é a de soldado.
Depois da prisão de Zé Querendo, um irmão e o pai dele ficaram boatando na cidade , dizendo que se mais alguma coisa acontecesse com zé eles acabariam com a raça.
O pai dizia:
- Se eles tornar a açoitar Zé meu, eu faço do mermo jeito qui os galego de Quilarafizero cum os ôtos.
O irmão dizia:
-Eles num tão nem cum a gota prumode querer bater mais im Zé meu irmão. Se Zé aparecer cum um biliscão, num vai sobrar mais nem um sordado.
Quando eles faziam esse comentário, o motorista Misquece ouviu a conversa e foi correndo dizer ao capitão:
- Seu capitão, seu capitão! Tem dois Querendo bebendo ali no bar de Alberto e tão dizendo que vão botar a polícia pra correr, se não soltarem Zé Querendo.
O capitão juntou a tropa, quando chegaram no bar, não deu nem tempo dos dois cuspirem, depois de alguns sopapos estavam os três Querendos juntos na cadeia.
O capitão olhou para Zé e disse:
- Pronto Zé. Nós trouxemos seu pai e seu irmão para lhe fazer companhia. Família unida permanece unida.
Quando foi a noite a polícia foi chamada no Ingém Véi, onde tinha um cabra da Paraíba, com um chapéu de couro, sem querer deixar o pessoal dançar a gafieira que Bié tocava. O moço estava mais alterado do que petista fora do primeiro escalão do governo. O policiamento chegou, o sujeito quis correr mas não deu tempo. Só ficou inteiro o chapéu de couro e um santinho de um candidato a vereador, que ele tinha no bolso. Depois do elemento imobilizado
O capitão colocou o chapéu numa mesa e falou:
- Pode tocar a gafieira Seu Bié. Se algum engraçadinho colocar esse chapéu na cabeça, vai passar o resto da festa do padroeiro no xadrez.
A festa continuou e algumas pessoas que não sabiam do acontecido, foram chegando e botando o chapéu na cabeça. Depois disto o capitão lotou duas viaturas de presos.
Na manhã seguinte o carcereiro Luís Miguel chegou com uma quartinha de água para os presos, quando o dono do chapéu perguntou:
- E aí Seu Luís. Como é que vai ficar? Eu vim lá da Paraíba só pagar uma promessa a São Raimundo e tou preso.
O carcereiro respondeu:
- Se preocupe não, meu rapaz. Você não vai ficar devendo nada a São Raimundo. Não tem promessa no mundo que maltrate mais um cristão do que a mão de peia que você levou esta noite.
Depois disso Mundola que era o comprador oficial de cigarros dos presos desceu o alto da cadeia gritando.
- Eita! Qui a cadeia tá isborrotando de preso,.Eu contei quinze. Tem três Querendo e doze sem querer.

Memórias rimadas - Memória Varzealegrense

RABISCOS DE SAUDADES - João Bitu

Ao fim dos meses de junho e dezembro
Quando se me abriam as portas das férias
Era como se todas as coisas sérias
Como de fevereiro a maio, lembro,
Igualmente de agosto a novembro
Todo e qualquer ônus se acabasse
A canseira Colegial me atirasse
Aos braços agradáveis do repouso
Dum ano letivo árduo e custoso
E que nada mais enfim importasse

Deslumbrante alegria me assiste
Antes mesmo que a paz me integre
Com esmero às delícias de Várzea Alegre
Quando tão só alegria ali existe
E por todas as férias subsiste.
Parecia um paraíso de fato
Paz, sossego e muito aparato
No meio de meus prezados amigos.
Uma só coisinha mexia comigo
A indisfarçável lembrança de Crato!

Como era bom estar em nossa terra
E sentir o seu natural perfume
Reassumir com afeto os seus costumes
Rever suas árvores por entre as serras
Até onde minha vista encerra.
Assim foi em minha adolescência
De que guardo até hoje sua essência
Com ternura, amor e muita emoção
Bem no íntimo de meu coração
Como o ápice de minha existência
Furtivas serestas feitas com amor
Sem o conhecimento de meus velhos
Que não obstante ouvir seus conselhos
Fazia ouvido de mercador
E as realizava sem temor.
Depois dumas doses de Paraty.
Tarde Fria e a Pérola e o Ruby
Naquela época as mais solicitadas
Eram as canções então mais cantadas
Na voz inconfundível de Cauby 
Igualmente também encantadora
De Capiba um autor de primeira
Tocava quase a noite inteira
Nos auto falantes da Amplificadora
Diversão a mais comovedora.
Era duma audiência tamanha
De causar uma sensação estranha.
Enchia a todos de ansiedade
Proporcionando perplexidade
-Com a música Maria Betânia

Quantas saudades agora eu tenho
Daquelas impensadas aventuras
Que pra mim eram meras bravuras
Cujas praticava sem nenhum empenho!
Que hoje, entretanto muito desdenho,
As noitadas as mais inconseqüentes!
Afora isto, falo francamente
Sinto agora uma saudade danada.
-Como queria em minha terra amada
Gozar boas férias novamente!

João Bitu.

Causos da província - Memória varzealegrense

Nós pode ser contador - Flor das Bravas

Em Várzea Alegre, nos anos 70, não havia oportunidade para estudar além do curso Normal (Formação de professor ou professora).
Dr. Iran, Diretor do Colégio São Raimundo Nonato, resolve criar o curso de Contabilidade. Convida a mim (que trabalha na Casa de Saúde S. Raimundo Nonato e ele também) e as minhas amigas: Fátima, Graça e Socorro Cosme, para retornarmos ao Colégio e completarmos a turma que ele formaria. Voltamos aos estudos.
Um grupo alegre, extrovertido, muito brincalhão quase entra numa fria por causa da irreverência e das brincadeiras inocentes, essas quatro adolescentes.
Escrevemos certo dia, digo, certa noite, pois o curso era à noite, no quadro negro, que já era verde, mas tudo bem, a frase: “nós pode ser contador, mas nós num sabe de nada!”
Referíamo-nos a nós, porém uma coordenadora do Colégio não entendeu assim. Resolveu julgar a sua maneira que se tratava de uma ofensa ao Professor Aflaudísio. Que saudade!
Professor Aflaudísio era formado em Contabilidade e trabalhava no Escritório de Seu Joaquim Diniz. A carência de profissionais era tanta que, qualquer quem tivesse o segundo grau poderia lecionar. Não julgo o mérito, tampouco a capacidade de nenhum. A turma gostava do Professor Aflaudísio e não tinha motivos para agredi-lo.
A produção textual foi nossa e somente nossa e para nós.
Não sei se minhas amigas pegaram seus canudos.
Eu, não. Não sou contadora. Só se for de lorota!

Sou Professora...

Memória Confusa - Mundim do Vale

MEMÓRIA  CONFUSA.

Na última vez que eu visitei minha Várzea Alegre, eu pude presenciar umas mudanças, que me deixou um tanto confuso;
Passando pela rua Major Joaquim Alves, eu verifiquei as placas com outro nome.
Ainda na rua Major Joaquim Alves, não encontrei a Usina Diniz e nem o casarão do Coronel Dirceu Pimpim.
Chegando onde era  o colégio Presidente Castelo, também pude observar que mudou de nome.
No tempo que eu morava por lá, os presépios de natal e a decoração da cidade eram cuidados e vigiados. Hoje eu fiquei sabendo  que uma decoração natalina no bairro Riachinho, foi destruída por vândalos.

Várzea Alegre, tu se cuida! Porque do contrário tu será sempre a terra dos contrastes.


Mundim do Vale.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Versos lá de nós - memória Varzealegrense

TRÊS  MENSAGEIROS  DA  PAZ - Mundim do Vale

Esse cordel Popular
Uma referência faz,
A grandeza e a caridade
De gente que foi capaz,
Onde os personagens foram
Três condutores da paz.

Mahatma Gandhi um deles
Lá num país indiano,
Irmã Dulce a segunda
Caridosa sem engano
E o Chico Xavier
Entre o espírito e o humano.

Religiões divergentes
Não alterou a rotina,
Foram guiados por Deus
Na fé e na disciplina,
Feliz é o cidadão
Que adota uma doutrina.

Os três anjos receberam
Cada qual sua missão
Pra fazer a caridade
Levada do coração,
Só divergiram num ponto
Que foi a religião.

Três pessoas caridosas
Três almas em orações,
Três condutores da paz
Três anjos para missões,
O que faltou de aparência
Sobrou nas boas ações.

Ninguém faz nada no mundo
Sem Deus ter determinado,
Irmã Dulce deu seqüência
Ao mandamento sagrado,
E o Chico Xavier
Foi por Deus um enviado.

Mahatma Gandhi pregou
A paz pelo oriente
Levou a palavra santa
Onde a paz era carente,
A mensagem foi aceita
Por toda aquela gente.

Irmã Dulce ao nascer
Teve o nome de Maria,
Aos treze anos de idade
Acompanhou-se com a tia,
Visitou áreas carentes
E semeou simpatia.

Com seus dezenove anos
Já professora formada
Entrou pra congregação
Das irmãs  imaculada.
Com vinte anos de idade
Em freira foi ordenada.

João Paulo veio ao Brasil
Naquele segundo evento
Fez questão de visitar
Irmã Dulce num convento,
Ela bem debilitada
Mas não mostrou sofrimento.

Hoje o nome de irmã Dulce
Está em várias cidades
Abrigos, creches, hospitais
E casas de caridades,
Partiu em noventa e dois
Deixando muitas saudades.

O  título, serva de Deus
Ganhou no ano dois mil,
O papa Paulo Segundo
Foi generoso e gentil,
Só falta beatificar
O “ Anjo Bom “ do Brasil.

Tinha estatura pequena
Mas tinha alta a bondade,
Fundou vários hospitais
Com base na caridade,
Irmã Dulce nos deixou
O exemplo da humildade.

Chico Xavier nasceu
Tendo certo o seu destino
Começou o seu trabalho
Quando ainda era menino,
Emanuel lhe indicou
Mensageiro do divino.

Repassou sua mensagem
Da forma mais natural
Ficando assim conhecido
Como médium universal,
Dedicou a sua vida
A fé espiritual.

No estado de Goiás
Tinha um jovem detido,
Acusado de um crime
Que não tinha cometido.
Chico levou a mensagem
E ele foi absolvido.

Chico não tinha interesse
Em coisas materiais,
Não acumulava renda
Não pediu nada demais
Aplicou o que ganhou
Nas creches e nos hospitais

Investiu na caridade
O dinheiro que ganhou,
Os direitos autorais
Em cartório registrou.
Faltou um certo conforto
Mas o equilíbrio sobrou.

Nosso Lar, de André Luiz
Chico psicografou,
A  Globo mudou o nome
E na tela apresentou,
A “ Viajem “ fez sucesso
E o Brasil apreciou.

Uma empresa americana
Produziu o “ Nosso lar,“
Com o título original
Sem deixar nada faltar
O filme está em cartaz
O difícil é um lugar.

Dois filmes foram exibidos
Por tudo quanto é lugar
Livros psicografados
Não param de editar,
Entre os melhores estão
Pai Nosso e Jesus no Lar.

Cidadão uberabense
Esse título recebeu,
Mas Chico sem vaidade
Perguntou se mereceu,
Mais vaidoso ficou
O vereador que deu.

Chico pregou a doutrina
Como uma grande missão,
Cada encontro era um amigo
Cada amigo era um irmão,
Levando sempre a mensagem
Do seu anjo guardião.

Foi o mineiro do século
Num pleito bem concorrido,
Hoje Minas  Gerais diz
Que o título foi merecido.
Um certificado justo
De um povo reconhecido.

Mahatma Gandhi nasceu
Pra formar opiniões,
Fazia greve de fome
E conquistava adesões,
Implantou suas idéias
Sem fazer revoluções.

Ghandi como advogado
Atuou com devoção,
Defendeu os operários
Das garras da opressão,
Da vez que foi espancado
Perdoou a agressão.

Pregou numa convenção
O amor universal,
Para que qualquer nação
Tivesse o direito igual,
Era proposta de Gandhi
Que a paz fosse mundial.

Tinha grandeza de alma
Mas estatura pequena,
Foi muito discriminado
Pela sua cor morena,
Mas reagiu aos insultos
Da maneira mais serena.

Gandhi foi assassinado
Por um dos amigos seus,
Mas deixou recado ao mundo
Naquele penoso adeus,
Com o seu último suspiro
Cantou o nome de Deus.

Vamos voltar ao Brasil
Que teve anjos também,
Irmã Dulce e Xavier
Dois mensageiros do bem,
Hoje estão no lar eterno
Com os anjos dizendo amém.

Que Deus acompanhe os três
No jardim celestial,
Que a mensagem que deixaram
Tenha proveito total.
Que o leitor desse cordel
Tenha um feliz natal.

Tema: Raimundo Diniz
Composição poética: Mundim do Vale.
02 – 10 - 2010

sábado, 14 de dezembro de 2013

Quando acaba o carnaval - Mundim do Vale


QUANDO  ACABA  O  CARNAVAL 

 Quando acaba a brincadeira
O marido chega em casa
E a esposa lhe arrasa
Perguntando pela feira.
Ele acha que é brincadeira
Mas ela acha normal
E assim aquele casal,
Vai desgastando o prestígio
E gera mais um litígio,
QUANDO ACABA O CARNAVAL.

Por conta da bebedeira
Um folião deprimido,
Escuta no pé do ouvido
A marcha do Zé Pereira.
Quando chega quarta feira
Esse Fulano de Tal,
Já fica passando mal
Lembrando a conta do bar,
Sem saber como pagar
QUANDO ACABA O CARNAVAL.

Chega um cara na esquina
De bermuda e paletó,
Com inhaca de loló,
Enganchado em serpentina.
Pega o rumo da usina
Tombando pra lateral
E pergunta a Juvenal
Onde fica a micareta.
Sai igual a carrapeta
QUANDO ACABA O CARNAVAL.

Um cidadão ressacado
Com a fantasia estendida,
Um mal cheiro de bebida
E perfume impregnado.
Papel de luz atrasado,
A conta da água igual
E até um quilo de sal
Não há ninguém que forneça.
É uma dor de cabeça
QUANDO ACABA O CARNAVAL.

Uma garota avançada
Com quinze anos de idade,
Perde a sua virgindade
Como se não fosse nada.
Diz que está dominada,
Que a parada é legal,
Que hoje em dia é natural
Bucho sem ser esperado
E é esse o resultado
QUANDO ACABA O CARNAVAL.

É um garoto sumido,
É um namoro acabado,
Um automóvel amassado
E um marido traído.
Um cachaceiro atrevido
Procurando um sonrisal,
Sem ter mais, nem um real
E ainda faz confusão
E termina na prisão
QUANDO ACABA O CARNAVAL.

Quem tava na brincadeira
Achou aquilo um pecado um pecado,
Vê um homem maquiado
Por conta da bebedeira.
Mas quando é na quarta feira
O cabra cai na real
E diz para o pessoal:
- Deus me livre da folia
Até papa renuncia
QUANDO  ACABA  O CARNAVAL.

Mundim do Vale arranjou
Uma morena comprida
Mas não fez a despedida
Na hora que viajou.
A morena se zangou
Foi bater no Juremal
E lá disse ao pessoal:
- Só pode ser um feitiço
Pra Mundim levar sumiço
QUANDO  ACABA  O  CARNAVAL.

Mundim do Vale
V. Alegre – Ce.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Nossa Memória - Memória Varzealegrense

OCORRÊNCIAS E FATOS - João Bitu

PAUSA PARA MEDITAÇÃO
João Bitu

É deveras impressionante como a ação dos tempos impõe modificações nos hábitos e costumes das pessoas, contribuindo para transformar e, por vezes, aprimorar o relacionamento entre jovens e adultos, notadamente, à proporção em que no dia a dia os fatos vão ocorrendo alheios às nossas pretensões. Tudo se modifica ao mesmo tempo em que nos transformamos também, à mercê de comportamentos indiferentes aos princípios de nossa origem de vida, tais como nos foram legados por nossos ancestrais. É como se tudo precisasse ser mudado e uma atualização se fizesse necessária em nossa existência. Só que, entendo serem estas atualizações procedidas de maneira um tanto precipitada.
Não atentamos para determinadas atitudes ousadas no tratamento que dispensamos aos nossos semelhantes de idades mais avançadas. As pessoas mais idosas perdem gradativamente o direito de serem respeitadas como tais. A juventude não tem sido preparada por seus superiores para conservar o respeito e a obediência a quem de direito. As coisas, em geral, não são mais como antigamente.
Será que tudo o que acontece é para melhorar a vida gente? A modernização que se opera em nosso cotidiano será mesmo um corretivo ou estímulo para aperfeiçoar os atuais usos e costumes? Tudo mesmo?
Certo é que há uma enorme diferença entre a atualidade e o passado. Estamos completamente diferentes de outrora, na maneira de vestir, na forma de como nos comunicar com o próximo, em como conquistar amizades e saber conservá-las e, como já fiz referência acima, dispensar o respeito e admiração aos nossos concidadãos que alcançaram a honrosa terceira idade com sacrifício, com luta e com amor. Alias, dizia-me um amigo, “ficar velho até que é muito bom, difícil mesmo é ser velho”. Todos nós sonhamos e almejamos viver bastante, assistir o nascimento e crescimento de filhos, netos, bisnetos e mais aderentes na plenitude de nossa saúde e bem estar. Mas “caducar” não... só se for no sentido de brincar, acariciar e bajular os descendentes.
Entre os doze e vinte anos de idade, no ápice da adolescência, experimentei uma fase de acentuada timidez, ao ponto de me tornar portador de enorme complexo de inferioridade. Tudo era belo ao meu redor, menos eu. Todos mereciam afeição, admiração, cobiça pessoal, menos eu. Custei a superar certos preconceitos, enfim consegui quase totalmente, graças a repetidos acontecimentos merecedores de uma melhor análise e reflexão. Os tempos se encarregaram, realmente, de nos transformar a qualquer custo.
Lentamente fui amadurecendo e enriquecendo meus propósitos de vida, alterando idéias e pretensões pessoais. Começava a surgir uma nova perspectiva e razão de ser. Comecei a aprender com os próprios erros cometidos ao longo da existência. E como aprendi?
Recentemente, por telefone, conversava com uma de minhas melhores amigas, daquele saudoso e longínquo passado e lembrava que a nossa amizade fora imensa, altamente saudável e duradoura” e acrescentava: Só não fomos namorados porque eu achava que você não me queria, ao que ela respondeu: Porque é que você achava assim?.
Ora, diante de minha timidez e como nos comportávamos na ocasião, era assim que as coisas aconteciam. Faltava iniciativa entre os dois e mais que isto, receio, medo de levar uma mala. 
Quem sabe se um grande amor não existia e o temor e falta de coragem não o deixaram vingar? Tudo é possível,
Não teria sido melhor se tivesse havido ousadia e não timidez entre ambos?
DEUS o sabe e é por sua vontade permissiva que o tempo se encarrega de tudo, convenhamos. Deixemos as coisas acontecerem como ELE o desejar.
Tudo passa sobre a Terra – disse José de Alencar.

João Bitu

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Versos da província - Memória Varzealegrense

EU E MINHAS SAUDADES - João Bitu

Eu nasci lá nas Lagoas
Do Coronel Zé Vitorino
No sítio Carnaúbas
Meu paraíso Divino
Nossa casa era ao lado
Do Riacho do Machado
Em clima ameno e junino!

Na frente do casarão
Tinha uma árvore que só
De lembrá-la a emoção
Na garganta dá-me um nó
Meu peito ainda se agita
Com aquela coisa bonita
O frondoso “Pau Mocó”

Bem próximo do quintal
Tinha um pé de sabonete
Que sombreava o curral.
Para o gado em deleite
Onde se via cabisbaixa
Nossa vaca “Ponta Baixa”
Da família – A Mãe de Leite

O Luar das Carnaúbas
É mais belo que o da cidade
Nenhum prédio lhe ofusca
A saudável claridade.
O luar do meu Sertão
Enobrece o coração
E o acalenta de verdade!

Quando chegava o verão
A cultura das sementes
E o transporte do algodão,
Bem no terreiro da frente
Os burros comiam feno:
Veneza, Mimoso e Moreno,
Melão, Dourada e Corrente!

Dessa tropa de animais
Posso esquecer, mas, não quero
De vê-la posta em currais
Sob os cuidados austeros
Porém corretos e ordeiros
Daqueles bravos tropeiros
JOSIAS E ZÉ SEVERO.

A minha humilde infância
Modesta sim, mas querida,
Num clima de tolerância
Sem luxúria foi vivida.
O sertão foi meu berçário
Onde cursei o primário
Com Zely e Margarida!

Não posso esquecer o Lopes
E da manga do Jaburú
Quando tirava a galope
Da cacimba ao Coaçu
E da escola – meu grupinho
Carlos, Lauro de Agostinho,
E Francisca de Pupu!

As quermesses do Juazeirinho
Tradição muito rica
Tinha milho bem verdinho
Muita pamonha e canjica
Na minha infância modesta
Nunca perdi uma festa
Do Velho Miguel Marica

Saudades bem verdadeiras
Daqueles pés de Juá
Que ficavam na ribeira
Nas terras do Jatobá.
Sinto um desejo medonho
De rever IRENE E ANTONIO
SEU MOISÉS, ROSA e o Tiá! 

NENEM DE ZÉ DE ISMAEL
Minha estimada comadre
BAÍA, CHICO E JOEL,
Muito mais do que compadres
Amigos até a morte.
E lá no sítio BOA SORTE
Dona Maria e Zé do Padre!

POMPÍLIO JOSÉ DUÓ
Criado com Zé Vitorino
Era pobre que nem Jó,
Mas decente e muito fino
UM AMIGO DE PRIMEIRA.
E a velha lavadeira
Madalena de Pinino!

Oh que saudades que eu tenho
Da gente lá do meu Centro
Das minhas idas ao engenho
Lá da Lagoa de Dentro
Dos jiraus que se montava
E que Mamãe aguava
“De cebolinha e coentro”!

Lembro a moita das galinhas
As touceiras de gitirana
As grandes safras de pinha
E dos pés de cajarana.
Lembro também no terreiro
De um enorme mamoeiro
De frutos tais mel de cana!

Das matas de marmeleiro
Jurema, sarça e Oití,
Mufumbo branco e pereiro
Mandacaru e Tingui
Malícia e Arapiraca,
Juazeiro e alfavaca
Nada disto há por aqui!

Hoje moro na cidade
Com minha alma dividida
Preso á doce mocidade
Sem poder mudar de vida
Por mais que ame o Sertão
É aqui que ganho o pão
-Apesar da vida sofrida!...

João Bitu.