DIVISÃO FRATERNAL.
O ano de 1958, foi de uma seca terrível no Ceará. Os leitores sabem as dificuldades que os casais pobres tinham para criarem seus filhos, num tempo em que não havia os benefícios que o governo oferece hoje.
Eu fui testemunha ocular daquela miséria, vendo bem de perto o sufoco que passou meu tio Vicente Piau para alimentar sue filhos, que era seis. Três homens e três mulheres. O caçula deles era Ildefonso que ainda falava trocando as letras. Pinta ele falava punta,
Quinta ele falava qunta e o seu irmão Joaquim que a gente chamava Quinco ele chamava Cunco.
Sempre na hora do almoço a tia Toinha fazia uma divisão fraternal, para que os maiores não deixassem os menores sem o alimento. Cada concha de alimento que ela botava dizia:
- Taqui seu QUINHÃO ! Não deixe ninguém tirar. Mas sempre tinha um mais sabido do que os outros e aproveitava a situação por ser maior.
Um dia estavam todos almoçando na cozinha e o casal almoçava na sala.
De repente um grito de Ildefonso:
- Mãe ! Cunco tá mexendo no meu Cunhão.
Tio Vicente sem lembrar dos trocadilhos do filho gritou de lá:
- Defonso, acabe com esses nomes feios se não você vai almoçar é cinturão.
- Pai. Pois venha pra cá, pra Cunco num mexer mais no meu Cunhão.
Meu tio foi até a cozinha e naquele dia teve um quinhão de peia para Quinco e outro para Ildefonso.