Dedicado ao primo Fernando Souza, que há tempo vem me cobrando a divulgaçao desse causo
INVASÃO DE DOMICÍLIO.
Todas
às vezes que nós íamos à Várzea Alegre-Ce. Pedro Souza programava umas
pescarias.
Era
festa do padroeiro e o cardume dos Piaus estava todo na cidade. Pedro marcou
uma pescaria para o domingo, na ponte dos Grossos. No sábado nós tomamos uma
cervejada nas barracas e completamos o tanque no CREVA – Clube Recreativo de
Várzea Alegre. No dia seguinte nós fomos para a Vazante, para pegar os
pescadores e o material de pescas. Na hora da saída Liêda olhou para Pedro e
perguntou:
-
Tu vai também Pedro?
-
Claro que vou. Fui eu que organizei a pescaria.
-
Ave Maria! Esse homem chegou ontem aqui quase morto. Parece que tomou todas as cervejas das barracas sozinho.
-
As que eu não bebi, Raimundim mais sérgio beberam.
Na
chegada do Riacho do Machado, João Piau, Vieira Neto, Nonato Souza, Fernando
Souza, e Luís Sérgio, já foram logo jogando tarrafas e metendo as mãos nas
locas atrás dos peixes.
Eu
me afastei um pouco do riacho e me deitei de baixo de uma moita de mufumbo e
comecei a cochilar. De repente escutei a voz de Pedro:
-
Ou de casa!
-
Ou de fora!
-
Ainda cabe um nesse apartamento?
-
É só um?
-
É.
-
Pois entre e ocupe aquele outro quarto.
Pedro
forrou a cabeça com um bornal e começou a cochilar também.
De
repente foi chegando Luís Sérgio, que estava com uma ressaca maior do que a
minha e a de Pedro juntas. Mas sendo ele mais novo, ainda estava aguentando
ficar de pé. O suposto inquilino foi querendo se acomodar, quando eu disse:
-
Ei Sérgio. Não cabe mais não. Pode arribar.
Ele
foi na direção de Pedro, quando começou a mexer na moita, Pedro gritou:
-
Tem gente!
Sérgio
zangou-se e falou:
-
Arre égua, que povo mais mal edudado, não sabem nem receber visitas.
Pedro
rebateu:
-
Que visita? Você não sabe nem se fica e já vai logo armando a rede. Isso aí é
INVAZÃO DE DOMICÍLIO. Vá ver se consegue
se agasalhar naquele quartinho que era de Antônio André.
Sérgio
desceu para o riacho, encheu uma garrafa de água, pegou um copo descartável e
subiu para uma moita, que ficava à seis metros do local onde nós estávamos. De
lá ele enchia o copo e jogava na nossa direção. Como o local que Pedro estava
era mais próximo, a água só chegava até ele.
Uma
hora lá Pedro sentou-se com a cara ruim e falou:
-
Ôxente, Raimundim. No teu quarto também tem goteiras?
-
Tem não. Não tá nem chovendo lá fora.
-
Pois no meu tem.
Vieira
Neto vinha subindo para pegar um landuá, Pedro chamou Vieira e ordenou:
-
Vieira. No dia que nós vier pescar de novo, você venha antes com Roberto e tire
as goteiras desse apartamento.
Vieira
Neto que estava de pé, olhou na direção norte e avistou Luís Sérgio com a
garrafa e o copo na mão. Notando a pegadinha de Sérgio falou:
-
Que goteira? Pai parece que tá é delirando. Olhem aí de onde é que estão vindo
as goteiras.
Quando
eu confirmei a brincadeira falei sério com Sérgio:
-
Sérgio. Você devia respeitar os mais velhos.
Sérgio
só fez dizer:
-
Vocês tem muito é sorte, porque a minha intenção era jogar mijo. Mas eu mijei
pouco e o jeito que teve foi misturar com água.
Para
completar o castigo de Pedro, Vieira ordenou:
-
Já que foi pai que inventou a pescaria, ali tem um baláio de peixes pra pai
tratar pra melhorar da ressaca.
Pedro
olhou pra mim e perguntou:
-
Tu vai me ajudar , Raimundim.
-
Vou não Pedro. O que eu podia fazer por você eu já fiz, que foi dividir o
apartamento.