A EXTREMA-UNÇÃO
DE LILA.
Luís
Salviano Macedo ( Lila ) Gostava de dizer que era valente e contava histórias
de valentia. Mas todos sabiam que Luís não era muito disposto para bigas.
Certa
vez o Padre Antônio Vieira, veio passar um final de semana com os seus pais no
Cristo Rei e trouxe com eles um grupo de seminaristas que eram seus alunos.
No
sábado à noite vinha uns amigos da carrapateira para visitar o padre e na passagem
da Extrema Luís perguntou:
-
Pra onde vão?
- Zé
de Mariinha respondeu:
- Vamos
visitar o padre Vieira lá no Cristo Rei.
-
Apois eu vou também.
Chegaram
no Cristo Rei conversaram com o padre e os alunos e quando foi por volta das
22:00 Horas o padre entrou com os seminaristas.
Facaram
conversando na calçada; Vicente Vieira Lila e os Soares da Carrapateira. Foi
naquele momento que Luís se danou a contar as histórias das valentias dele:
-
Uma vez eu tava numa bodega lá no São José e tinha uns amargoso dizendo piada
cumigo. Eu peguei um facão rabo de galo que tinha detrás do balcão, mas num
ficou nem um, correu tudo.
Vicente
Vieira disse:
- Luís.
Eles correram porque pensavam que tu ia cortar lenha e queria chamar eles para
ajudar. Aquilo é o povo mais preguiçoso do mundo.
Outra
vez eu tava dento da minha casa na Extrema, já era tarde da noite, quando eu iscutei
uns assobí. Aí eu dixe a Ester, aquilo é ladrão. Eu escorei a ispingarda na
ginela e gritei:
Tão
cum vontade de morrer? Pode vim. Depois que eu falei eu vi dois vuto pulando a
cerca e quebrando o mato.
Vicennte
falou novamente:
Luís.
Aquilo era os cabras do Fundão atrás daquela cabrocha, que trabalha lá em tua
casa.
Quando
foi uma hora Luís saiu para esvaziar a bexiga e os amigos combinaram com
Vicente para fazer um medo a ele.
Um
deles falou:
Vicente
quando Luís voltar você entrete ele lá po dentro, que nós vamos ficar escondido
lá atrás da capela para ver se ele tem coragem de voltar sozinho.
Assim
fizeram. Quando Lila retornou um dos amigos pediu água e vicente entrou para
pegar, chegando lá ele pediu a dona Senhorinha para servir um prato de coalhada
para luís.
Quando
o amigo tomou a água vicente disse:
-
Luís vá deixar o copo lá na conzinha que a sua tia quer falar com você
Quando
Luís voltou que não viu os companheiros já perguntou preocupado:
- Cadê
os caba?
- Já foram.
- Já foram.
-
Foro não qui eles num ia deixar eu voltar sozim.
Mas
eles foram, porque deram boa noite e saíram.
Luís
começou a ficar aperriado e inventou logo uma dor no peito:
- E
agora, Vicente? Eu não posso ir só não, qui dispois da cuiada me deu uma dor no
peito e pode ser qui eu sinta alguma coisa no camim.
-
Você não tá sentindo nada não,
É porque
qualhada de noite dar uma reação mas logo passa.
-
Mais eu tou sintindo! Vá logo chamao o pade pra fazer a estremunção qui eu vou
morrer.
-
Mas ele já está dormindo.
-
Apois então vai ser priciso eu durmir por aqui, porque qalquer coisa o pade tá
aí pra incumendar a minha alma.
-
Não dar certo não Luís. Antônio trouxe esse povo e a casa tá cheia.
-
Apois eu vou pegar aquela esteira e me deitar no pé da porta, se eu gritar você
venha viu?
Luís
já estava gemendo na esteira quando os amigos voltaram. Ele teve uma melhora
repentina e disse:
- Eu
pensei qui vocês já tinha ido.
Zé
de Mariinha falou:
- É
nós já ia mesmo, Mas quando chegamos ali na frente tinha uns cabras do Junco
puxando fogo e nós achamos melhor voltar, porque se eles quiserem bigar tem você para enfrentar.
Vicente
interrompeu:
-
Mas Luís está doente, não pode brigar não.
Luís
levantou-se deu um pulo e falou:
-
Pois eu já fiquei bom. Mais eu acho mais mior nóis passar o resto da noite aqui
na calçada, porque se os caba for inventar de mexer cum nóis, vai ser priciso
eu fazer uma besteira.