O FINADO ERA MAIOR.
Nosso
conterrâneo Vicente Nogueira, tinha uma certa simpatia por políticos, nunca foi
candidato a nada mas sempre procurava estar perto das autoridades políticas.
Num
ano de boa safra de arroz em Várzea Alegre-Ceará, a prefeitura municipal
preparava a festa do arroz. O convidado especial era o deputado Joaquim de
Figueredo Correia, que trazia outras autoridades estaduais.
Vicente
Nogueira comprou um corte de riscado na loja de Edvard Moreno e levou até a
alfaiataria de Mestre Vicente Salviano para fazer um paletó. Tirou as medidas e
ficou de voltar depois para a prova final.
Faltando
seis dias para o evento, foi a alfaiataria para fazer a prova. Vestiu o paletó
ainda alinhavado e já queria levar.
Mestre
Vicente perguntou se ele queria fazer alguma modificação e ele respondeu:
-
Não. Vicente. Aqui já tá no jeito. Eu só quero qui você mintregue un dia antes
da festa, pruque esse palitó eu vu vistir no dia da festa do arroz qui é prumode
eu cunversar cum meu amigo Juaquim Correia.
Vicente
Salviano notando a ingenuidade de Vicente falou:
-
Mas Vicente. é uma extravagância, você fazer uma despeza desta. Figueredo vai
vir acompanhado de várias autoridades e não vai poder lhe dar atenção.
-
Ele vai. Qui foi eu qui insinei a ele andar de cavalo, quando ele era minino lá
no Oi Dágua. E teve uma vez qui ele foi lá im casa cum Vicente Onoro e tumou
café mais eu.
-
Mas Vicente. Agora é diferente, você não vai conseguir chegar nem perto e ele
nem vai mais lhe conhecer.
-
Ora num vai. Eu vou le amostrar cuma ele vai.
Na
véspera da festa Vicente pegou o paletó e no outro dia veio com a esposa.
Quando
o casal chegou na rua Major Joaquim Alves, já encontrou a rua enfeitada de
faixas e bandeirolas. Figueredo estava no interior da casa de Zezim Costa e na
rua tinha mais de seis mil pessoas. Na grade da casa tinha três soldados, para
que só entrassem os convidados.
O
casal ficou na calçada da casa de Valdeliz, que foi o local que o casal achou
pra ficar mais perto.
Uma
hora lá Figueredo veio até a área para entregar um envelope a uma pessoa e
Vicente ficou na ponta dos pés, balançando os dois braços e gritando:
-
Juaquim! Juaquim! Juaquim!
Figueredo
retornou para o interior da casa e não voltou mais. Depois de mais de uma hora,
a mulher de Vicente já bastante cansada falou:
-
Vicente. Ramo simbora qui esse ome num vem falar cum tu não.
Vicente
já bastante convencido disse:
-
Vem mermo não. Ele tá muito acupado.
-
Apois ramo.
-
Ramo.
Dizendo
aquilo, Vicente pegou a rua na direção da praça dos motoristas.
A
mulher extranhando falou:
-
Ôxente. Vicente! Pra donde tu vai ome? Nóis num ramo né pru São Corme?
-
É. Mais é pruque antes de nóis ir eu priciso falar cum meste Vicente.
-
E tu num pagou o palitó não?
-
Paguei. Mais é pruque eu quero me vingar duma praga qui ele jogou im neu.
Chegou
na alfaiataria com o paletó ensopado de suor e ficou se abanando, quando Mestre
Vicente perguntou:
-
Como foi lá Vicente? Falou com Figueredo?
-
Falei. Mais foi Cuma você dixe. Tinha mei mundo de gente na calçada e tinha
tombém três sodado na grade, pra num deixar ninguém entrar. Mais Juaquim saiu
na aria e quando me viu mandou o motorista me chamar. Aí eu entrei e miassentei
junto cum ele e os camarada dele. Mais teve uma coisa lá qui eu num gostei.
-
E o que foi?
-
Foi pruque Palo de Dudu dixe uma pilera
cum eu.
E
o que foi que ele disse?
-Ele
pensava qui eu num tava iscutando, aí dixe a Dr. Daro: - Mais minino, esse palitó de Vicente
Nogueira tá muito mal feito. O FINADO
ERA MAIOR.