GALÊGO MATA
SETE.
No
ano de 1980, a minha empresa foi contratada para pintar um toldo na
churrascaria do Posto Bambu, Na Av.
Luciano Carneiro em Fortaleza. Entre os funcionários eu escalei Hélio Rolim,
porque sendo ele mais alto, tinha condição de fazer o trabalho apenas com
cavalete.
Quando
foi por volta das 14:00 Horas, Hélio me ligou pedindo material. Eu fui até o
posto, para levar o material e olhar o andamento do serviço. Chegando lá me
sentei numa mesa, pedi um refrigerante e fiquei conversando com ele que estava
no cavalete de frente do toldo. Do local onde eu estava só dava pra ver as
suas pernas do joelho pra baixo.
Hélio
usava um chinela japonesa mais encardida do que cordão de rosário, entre um
dedo e outro tinha mais sujeira do que na ficha de certos deputados.
Na
mesa vizinha tinha dois sujeitos bebendo e conversando. Um deles estava com um
cigarro aceso e falou para o outro:
-
Eu vou apagar esse cigarro nos pés daquele pintor.
Eu
para fazer a defesa do meu funcionário falei:
-
Se eu fosse você mudava de idéia. Você conhece ele?
-
Conheço não.
-
Pois ele é da família Rolim da Paraíba. É conhecido pelo apelido de; “ Galêgo
mata Sete “ Esse apelido ele arranjou depois de uma confusão que ele teve lá em
São Bento da Paraíba, onde matou dois e baleou quatro de uma família só. É por
isso que ele está foragido aqui no Ceará.
O
sujeito tinha acabado de apagar o cigarro no cinzeiro, quando Hélio desceu do
cavalete e levantou o toldo. Sem saber de nada Hélio olhava pra mim e para os
caras ao mesmo tempo.
Hélio
estava vermelho do sol, suado, cabelo assanhado e a barba mais fechada do que
maleta de freira. Para cuspir ele tinha que usar canudo.
O
sujeito do cigarro já viu em Hélio o pérfil do pistoleiro. Olhou para mim e pôs
o dedo indicador sobre os lábios, fazendo um sinal para que eu não falasse
nada. Eu fiz outro sinal confirmando e ele pediu a conta.Naquela hora eu falei
bem alto para Hélio:
-
Hélio. As balas que você pediu só vem mais tarde, o cara disse que só pode
entregar depóis das quatro horas.
Ouvino
aquilo o sujeito dispensou o troco e pegou o beco.
Depois
que ele saiu eu fui contar a história mas Hélio não gostou:
-
Mais homem. Você não era pra ter dito isso não. O cabra ficou sabendo que eu
estou sem bala, se ele resolver voltar o que é que eu faço?
-
Não precisa você fazer nada. Ele não volta tão cedo.