VOCÊ ESTÁ
PERDOADO - Mundim do Vale
O
Coronel Antônio Correia e José Joaquim Vieira ( Joaquim Piau )
Eram
amigos e correligionários na política em Várzea Alegre-Ceará. Os dois também
faziam parte das campanhas de
arrecadações de fundos para a paróquia. Nas quermesses Joaquim Piau conduzia o
Partido azul e o coronel o encarnado.
Antônio
Correia era propritário de umas terras no pé da serra do Gravié, onde tinha uma
lagoa que era a menina dos seus olhos.
No
ano de 1935, um grupo de rendeiros procurou o coronel a fim de arrendarem as
suas terras para o plantío de arroz. Entre os rendeiros estava o meu avô
Joaquim Piau na posição de líder do grupo. Os outros eram os Joaquins, os Lobos
e os Marcianos da Unha de Gato.
Feito
a proposta ficou acordado que havendo a safra os rendeiros pagariam vinte por cento da produção, se não houvesse
inverno para segurar o legume todos perdiam. Fizeram as plantações em janeiro, as
chuvas vieram, a lagoa encheu e o arroz crescia mais do que os fuxicos da
Varzinha.
Quando
foi no final de abril o arroz já estava embuchando e faltaram as chuvas. Nós
sabemos que quando o arroz está embuchando, se a terra não estiver mollhada o caroço não enche e o prejuízo é certo.
Um
dia o líder Joaquim Piau recebeu a visita dos outros rendeiros, que traziam uma
idéia para salvar a safra. Um deles dirigiu-se ao meu avô e falou:
-
Cumpade. Se nóis num tumar uma providença, nóis ramo perder a safra.
-
E qual seria a providência?
-
É nóis falar cum o coroné pra ele arrumar água da lagoa prumode nóis aguar.
-
Eu acho muito difícil Antônio concordar. Há não ser que nós arrombe.
-
Mais omi, o coroné é valente e a casa dele é cheia de jagunço.
-
Mas ele não precisa saber. Nós vamos à meia noite, abre a parede, solta a água
e depois fecha novamente.
Assim
foi feito; O grupo foi à meia noite, formaram os baldes, fiseram as contenções
para que a água não saisse da roça, cortaram a parede e depois fecharam.
O
arroz segurou, mas os rendeiros ficaram inseguros, por conta do ódio explícito
do coronel, que dizia na rua:
-
Se eu descobrir quem foi que fez aquela desfeita,ele vai receber um castigo
para nunca mais desmoralizar um homem de bem.
Os
rendeiros pagaram a renda combinada, mas o coronel não se conformava, estava
sempre especulando para descobrir os malfeitores.
No
mês de agosto do mesmo ano, o coronel e Joaquim Piau foram para uma reunião na
paróquia, onde desenvolveram a estratégica da campanha para a festa do
padroeiro. Terminada a reunião, o meu avô colocou a mão no ombro do coronell e
falou:
-
Antônio. Eu tinha dois assuntos para falar hoje. Um nós já resolvemos e o outro
é sobre a lagoa.
-
E o que é que tem a lagoa?
-
Você não tá querendo saber quem foi que arrombou? Pois eu vou lhe diizer. Quem
arrombou a sua lagoa fui eu.
O
coronel afastou-se, arregalou os olhos, mordeu a língua e falou:
-
Joaquim Piau! Como foi que você teve coragem de fazer uma coisa dessa comigo?
Se você tivesse me pedido a água eu lhe dava até a lagoa toda para agoar o seu
arroz.
-
Eu sei Antônio, mas acontece que se eu lhe pedisse a água, eu segurava o meu,
mas o restos dos rendeiros perdiam os deles, você perdia a renda e São Raimundo
perdia a esmola. E eu sei que você não morreu de sede por cauza disso.
O
coronel aproximou-se novamente e disse:
-
Pois bem Joaquim. Já que a sua atitude foi em prol da comunidade. VOCÊ EST[Á
PERDOADO.
Fonte:
Paulão Piau.
Dedico
esse cauzo a Luís Carlos Correia.