PROSA DE
COMPADRES - MUNDIM DO VALE
Chico
Bento:
Buá
noite cumpade Zé
Cuma
vai cumade Bia?
Onde
anda a tua fia
Qui
morava im Canindé?
Já
se casou cum Mané
Ou ainda
tá sortêra?
Eu
arrumei im Portêra
Um
trabai pela fazê.
Mais
ela tem qui aprendê
Cua
as ôta muié rendêra.
Zé
Rubão:
Meu
cumpade, minha Bia
Só
veve agora é doente,
É
friêra, é dô de dente
Diarréa
e agonia.
A
minha fia Luzia
Num
tá sirvindo pra nada,
Já
tá inté imbuchada
Dum
vendeão de panela.
O
bucho tá na guela
E o
vendeão num dá nada.
Chico
Bento:
Cumpade
cadê Orlando
Quie
era meu afiado?
Prudonde
ele tem andado
Ainda
tá istudando?
Ou
num tá nem trabaiando?
Sele
quiser um trabai
Eu
arrumo um quebra gái
Pele
trabaiar na fêra,
Só
pra vendê macachêra
Pimenta,
cebola e ái.
Zé
Rubão.
Cumpade,
seu afiado
É
uma coisa sem lei,
Tá
bulindo no alei
Robando
e dando coidado.
Isturdia
o delegado
Butô
ele na cadêa,
Ele
levô tanta pêa
Qui
foi pru pronto-socorro.
Quando
eu oiei quage morro
Nunca
ví coisa tão fêa.
Chico
Bento:
E
seu sogro Juvená
Miorô
do coração?
Já
vortô pru Riachão
Ô
inda tá no hospitá?
Já tá
pudendo falá
Comê,
mijá e bebê?
Num dêxe
o veim morrê.
Prua
falta de assistença.
Qui
ele ainda tem vivença
Prumode
dá e vendê.
Zé
Rubão:
Cumpade,
o véi Juvená
Já
tá pra lá do além,
E a
véa dele tombém
Já
tá pras banda de lá.
Nóis
num pudemo pagá
Aquela
despeza cara,
Pruque
o pau de arara
Num
tem uma renda boa.
Aí
só deu prus coroa
Qui intregaro
o couro as vara.
Chico
Bento:
Cumpade
e a miunçada
Tá
na creche do estado?
Eles
tão alimentado
Ou é
cunveça fiada?
Dizem
qui num farta nada
Qui serve
café cum pão,
Mei
dia carne e feijão
E
merenda duas hora.
De
noite vem sem demora
A
sôpa de macarrão.
Zé
Rubão:
Meu
cumpade, a mininada
De
dia é jogando bola
De
noite cherando cola
E
drumindo nas calçada.
A
creche é só de fachada
A merenda iscafedeu,
Creche
pra minino meu
Num
tem vaga pra ficá.
E a
tá merenda iscolá
Um
diputado cumeu.
Chico
Bento:
Cumpade
e o viriadô
Qui
você tinha votado?
Vá
cassar o condenado
E
diga Cuma ficô.
Peça
a ele prefessô
Peça
tombém punição,
Pru
diputado ladrão
Nunca
mais querê robá.
Se
qué merenda iscolá
Vá
merendá na prisão.
Zé
Rubão:
Chico
Bento, eu fui atráis
Mais
num decharo eu falá,
Mais
quando eles torná
Eu
mermo num voto mais.
Quando
é prus rico eles fáis
E
pra nóis pobe é negado,
Mais
voto num é maicado
Já
tumei a dicisão.
Quando
for na inleição
Meu
tito vai tá rasgado.
Mundim
do vale
V.
Alegre- Ceará.