POESIA DE JOAQUIM PIAU - Por Mundim do Vale
MOTE
Já fui querido e amado
Como cravo no craveiro
Hoje vivo desprezado
Como cisco no terreiro
Já fui menino e rapaz
Desfrutei a mocidade
Fiz coisas naquela idade
Que hoje não faço mais
Aqui uns anos atrás
Já fui cabra esbagaçado
Já fui vadio, fui sambado
Já namorei quanto quis
Já amei já fui feliz
Já fui querido e amado
Na zona onde eu brincava
Pra tocar eu fui um bamba
Quando eu chegava no samba
O tocador se calava
O meu nome ali vibrava
Desde a cozinha ao terreiro
Meu lugar era o primeiro
E todos me rodiavam
As moças me admiravam
Como cravo no craveiro
Quando eu caí na idade
Fui logo considerando
Que devia ir deixando
As coisas da mocidade
Namoro, samba, vaidade
Tudo isso eu pus de lado
Eu fui ficando encostado
Até que o mundo me deixou
Nunca mais me procurou
Hoje eu vivo desprezado.
De viver já estou cansado
Pois não tenho mais futuro
Meu presente é obscuro
E só me resta o passado
Tempo velho, idolatrado
Feliz, risonho e fagueiro
Que passou muito ligeiro
Não volta mais e portanto
Eu considero ele tanto
Como cisco no terreiro.