A pedido de um conterrãneo.
A REDE
VÉA.
O
musical REDE VÉA, de autoria do Coronel
Ludugero, fez muito sucesso no sertão e talvez tenha servido de consolo para
José de Lula Goteira ( Zé de Lula. )
Zé
casou-se com Luíza num tempo em que as coisas em Várzea Alegre-Ce estavam um
tanto difícil. Arranjaram para o casal uma casinha no sítio Sanharol, pouco
maior do que uma casa de botão, não tinha conforto, mas o casal não pagava
aluguel.
Um
dia seus amigos Luís Bitu e Demontier Freitas resolveram fazer uma visita ao casal.
Para tanto eles passaram no mercadinho de Luís Cavalcante e pediram para que
Luís preparasse uma cesta básica no capricho. Subiram para o Sanharol com a cesta,
quando chegaram no terreiro, já viram o retrato da pobreza. As portas e as janelas mais pareciam com gaiolas, quem
estivesse fora podia visualizar toda a movimentação da casa.
Os
visitantes entraram com a cesta e já viram que na sala não tinha nenhum móvel,
passaram por um corredor estreito até chegarem na cozinha. Lá eles encontraram
um pote com uma tabua na boca e na tabua uma lata de erviha seca, que servia
como copo, uma mesa de camaru com três tamboretes, um fogão de lenha apagado e
do lado do fogão um giral de varas, com panelas e pratos de barro. De uma porta
que dava acesso a um quarto, eles viram uma rede armada que só deu pra saber
que era uma rede, porque tinha os punhos, o resto era uma lona listrada mais
surrada do que bermuda de sapateiro. O piso de barro batido caracterizava o
estado de pobreza. Aquele casal estava distante de atingir a classe baixa,
porque ainda sobreviviam na classe da miséria.
Começaram
a conversar e Luíza foi desembalando a cesta, sem achar local para botar tantas
coisas. Quando pegou no café e no açúcar disse que ia fazer um café para as
visitas.
Zé
de Lula recomendou:
-
Luíza. Tenha coidado, bote pouco açúcar e pouco pó, pruque esse povo rico gosta
de tumar café é fraco e amaigoso.
Depois
do café pronto Luíza pegou um saco de pão bola e um pote de margarina, mas foi
interrompida pelo marido que disse:
-
Carece não, muié, esses caba num gosta de pão não, pruque tem massa e ingorda,
eles acha bom é fruita.
Nessa
hora do café Luís Bitu perguntou:
-
Zé. Porque você não arranja uma espingarda com Pinga Bitu e vai atrás dumas caças para a mistura?
-
É pruque eu num tem a munição. Ou será qui vocês butaram chumbo e póiva nessa
cexta?
-
Não, porque é proibido vender munição.
-
Se é proibido vender, tombém é proibido matar. É mais mió eu aimar fojo no pé
da serra prumode pegar preá, qui pelomeno ninguém vai iscutar tiro.
Depois
que tomaram o café Luíza saiu no terreiro para lavar umas coisas e Demontier
aproveitou pra falar também:
-
Zé, Eu não ví cama aqui na sua casa. Porque você não manda Zé Mouco fazer uma?
-
Pruque eu num pussui dinheiro.
-
E como é que tu presta conta com Luíza?
-
Ora mais tá ! É na rede véa qui nem Ludugero.
-
Mais homem, na rede não presta não, além de desconfortável ela pode rasgar.
-
Sela sirasgar nóis termina no chão.
Terminada
a visita os visitantes foram saindo quando Zé gritou:
-
Ei ! Isbarraí. Quando vocês quiser vim de novo, me avise qui é prumode eu pegar
uns preá, mais traga a cesta de novo e num sisqueça de trazer uma bermuta pra
eu e um corte de chita pra muié.