VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Causos lá de nós - Por Mundim do Vale.

A pedido de um conterrãneo.


REDE  VÉA.

O musical  REDE VÉA, de autoria do Coronel Ludugero, fez muito sucesso no sertão e talvez tenha servido de consolo para José de Lula Goteira ( Zé de Lula. )
Zé casou-se com Luíza num tempo em que as coisas em Várzea Alegre-Ce estavam um tanto difícil. Arranjaram para o casal uma casinha no sítio Sanharol, pouco maior do que uma casa de botão, não tinha conforto, mas o casal não pagava aluguel.
Um dia seus amigos Luís Bitu e Demontier Freitas resolveram fazer uma visita ao casal. Para tanto eles passaram no mercadinho de Luís Cavalcante e pediram para que Luís preparasse uma cesta básica no capricho. Subiram para o Sanharol com a cesta, quando chegaram no terreiro, já viram o retrato da pobreza. As portas e  as janelas mais pareciam com gaiolas, quem estivesse fora podia visualizar toda a movimentação da casa.
Os visitantes entraram com a cesta e já viram que na sala não tinha nenhum móvel, passaram por um corredor estreito até chegarem na cozinha. Lá eles encontraram um pote com uma tabua na boca e na tabua uma lata de erviha seca, que servia como copo, uma mesa de camaru com três tamboretes, um fogão de lenha apagado e do lado do fogão um giral de varas, com panelas e pratos de barro. De uma porta que dava acesso a um quarto, eles viram uma rede armada que só deu pra saber que era uma rede, porque tinha os punhos, o resto era uma lona listrada mais surrada do que bermuda de sapateiro. O piso de barro batido caracterizava o estado de pobreza. Aquele casal estava distante de atingir a classe baixa, porque ainda sobreviviam na classe da miséria.
Começaram a conversar e Luíza foi desembalando a cesta, sem achar local para botar tantas coisas. Quando pegou no café e no açúcar disse que ia fazer um café para as visitas.
Zé de Lula recomendou:
- Luíza. Tenha coidado, bote pouco açúcar e pouco pó, pruque esse povo rico gosta de tumar café é fraco e amaigoso.
Depois do café pronto Luíza pegou um saco de pão bola e um pote de margarina, mas foi interrompida pelo marido que disse:
- Carece não, muié, esses caba num gosta de pão não, pruque tem massa e ingorda, eles acha bom é fruita.
Nessa hora do café Luís Bitu perguntou:
- Zé. Porque você não arranja uma espingarda com Pinga Bitu  e vai atrás dumas caças para a mistura?
- É pruque eu num tem a munição. Ou será qui vocês butaram chumbo e póiva nessa cexta?
- Não, porque é proibido vender munição.
- Se é proibido vender, tombém é proibido matar. É mais mió eu aimar fojo no pé da serra prumode pegar preá, qui pelomeno ninguém vai iscutar tiro.
Depois que tomaram o café Luíza saiu no terreiro para lavar umas coisas e Demontier aproveitou pra falar também:
- Zé, Eu não ví cama aqui na sua casa. Porque você não manda Zé Mouco fazer uma?
- Pruque eu num pussui dinheiro.
- E como é que tu presta conta com Luíza?
- Ora mais tá ! É na rede véa qui nem Ludugero.
- Mais homem, na rede não presta não, além de desconfortável ela pode rasgar.
- Sela sirasgar nóis termina no chão.
Terminada a visita os visitantes foram saindo quando Zé gritou:
- Ei ! Isbarraí. Quando vocês quiser vim de novo, me avise qui é prumode eu pegar uns preá, mais traga a cesta de novo e num sisqueça de trazer uma bermuta pra eu e um corte de chita pra muié.


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