A
SENTENÇA DE SÃO BRAZ
Os
católicos da terra do arroz passaram muitos anos adorando São Braz, pensando se
tratar de São Raimundo Nonato, padroeiro da cidade. Este engano serviu até de
inspiração para um dos contrastes de Várzea Alegre.
Com
a chegada de um padre novato foi reconhecido o engano, causando uma revolta nos
fiéis do padroeiro. Depois que a notícia espalhou-se São Braz ficou
mais
antipatizado do que parlamentar que recebeu o mensalão.
Um
grupo de católicos se dirigiu a casa paroquial para falar com o novo vigário,
a
fim de que ele tomasse uma providência para dar um fim no santo intrometido
e
que providenciasse imediatamente um verdadeiro São Raimundo.
O
líder do grupo chegou para o vigário falando:
-
Seu vigário. Esse tal de São Braz enganou a nossa boa fé, furtou as nossas
orações, fez pouco das nossas promessas e ainda surrupiou as nossas esmolas.
Vai ser preciso dar um corretivo nele e botar um São Raimundo no lugar.
O
vigário muito sereno respondeu:
-
Calma meu filho! Eu vou providenciar o verdadeiro padroeiro e transferir as
orações de vocês junto com o Senhor bispo no dia da benção. Mas São Braz
pode ficar, porque numa igreja pode ter vários
santos.
Os
fiéis saíram sem gostar nem um pouco da proposta do novo vigário e foram logo
tratando de desenvolver uma maneira de resgatar o santo impostor para
castigá-lo.
No
dia da chegada do padroeiro verdadeiro, a cidade fez uma festa, e como havia
sido combinado, o bispo do Crato veio para benzer a imagem. O Senhor bispo
estava preparando o cerimonial, quando chegou o grupo de revoltosos e pediu
para falar com ele, O bispo mandou que entrasse e o líder foi logo beijando a
mão dele e dizendo:
-
Senhor bispo. Nós estamos aqui em
comissão para pedir ao Senhor que deixe nós levar esse santo que tava no lugar
do nosso, para botar na capela do Socorro, que não tem nenhum. O bispo
concordou sem saber a intenção daqueles justiceiros. Eles saíram todos à
cavalos de frente da igreja, já levando o santo impostor na lua da cela do
líder do grupo, que já ia dando cocorote e dizendo:
-
Caba atrevido!
Quando
chegaram no sítio Brejo, julgaram e condenaram sumariamente o pobre santo a
pena de morte por apedrejamento, pelo crime de falsidade ideológica. Quebraram
o condenado em mais de vinte pedaços e jogaram no açude.
Depois
do CUMPRA-SE, um dos executores olhou
para as borbulhas na água e disse:
-
Tu tá vendo Braz? Isso daí é pra tu nunca mais querer passar Raimundão pra
trás.
Um
ano depois o bispo voltou à Várzea Alegre e comunicou aos fiéis que o santo que
estava como São Raimundo era o Santo Ambrósio.
O
mesmo grupo da execução dirigiu-se ao bispo e pediram para falar com ele.
O
bispo mandou que entrassem e o líder foi logo beijando a mão dele e falando:
-
Senhor bispo nós estamos aqui em comissão para pedir perdão pelo pecado que
cometemos.
-
E qual foi o pecado filho?
-
Nós queríamos castigar São Braz e matamos foi Santo Ambrósio. O Senhor bispo
perdoa nós.
Filho.
O pecado de vocês foi muito grave, mas eu posso transformar a pena em multa se
vocês trouxerem 30 quartas de arroz para o padroeiro.
Dizia
os mais velhos que o grupo foi perdoado mas ninguém sabia dizer se São Raimundo
comeu aquele arroz sozinho.