VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

segunda-feira, 25 de março de 2013

004 - Do Tempo do Bumba! - Memória Varzealegrense

COÇANDO  O  SACO - Por Mundim do Vale

No ano de 1969, havia umas encrencas entre as famílias Mandu e Inácio no sítio Saco. Um dia estava havendo uma festa de casamento, quando os Mandus deram umas pancadas em Raimundo Inácio. Para completar a peia mandaram prender Raimundo e ingressaram com uma ação criminal.
O processo foi remetido para o judiciário e na tramitação foi distribuído um mandado para que eu citasse Raimundo. Eu fui até o sítio Saco para cumprir a determinação de sua excelência o juiz de direito. Como eu não conhecia o Raimundo, passei primeiro na casa de João Mandu para pegar informações.
João Mandu me passou as seguintes informações:
- Ele é moreno, de altura média, costuma usar botas, camisa de pano passado e usa uma caneta com a metade do lado de fora do bolso. Onde ele estiver tem um bocado de gente besta por perto, porque ele inventa um palavreado bonito e o povo fica perto pra escutar.
Eu perguntei onde era que eu podia encontrá-lo.
Tem uma bodega ali perto da casa de Manoel Moisés que ele passa o dia bebendo cachaça lá. É só a coisa que ele faz. Porque ele nunca deu um murro numa broa.
Segui para o local indicado e lá estava a figura, pelas referências eu não tive dúvida. Passei pelo meio do grupo, dei um bom dia e entrei na bodega onde fiz uma pequena compra e fui até a calçada onde escutei uma parte do discurso que Raimundo fazia.
Ele dizia para os outros:
-Negada. É priciso nóis tumar umas providença aqui no Saco. Nóis tem qui arrumar as coisa pra butar aqui dento do Saco. O prefeito fica passando as mão nos oto sítio e num passa a mão no Saco. Isturdia eu vi o trator da prefeitura danado cavando as terra de Luís Holanda prumode fazer um açude. E pra nóis aqui do Saco ele num manda nem um carro de mão. Impregaro o neto de Dona Sinhá, qui num sabe nem assentar o nome e num dero imprego a eu qui sou quage um doutor. Aí eu fico aqui só coçando o Saco.
Foi naquele momento que eu fiz a abordagem:
Sr. Raimundo. Eu sou oficial de justiça e trago aqui um mandado de citação para o Senhor. Eu vou ler o termo, o Senhor assina o ciente e comparece na data certa.
Aquando acabei de ler o termo ele ao o invés de assinar, elevou a voz e falou para o pessoal:
- Vocês tão vendo aqui? É ou não é o qui eu tava dizendo inda agora? Isso aqui é uma intimação. Vocês salembra daquele dia da festa do casamento, num salembra? Pois bem. Naquele dia os Mandu açoitaro eu até num querer mais e adispois dero parte e mandaro me butar na cadeia e ainda arrumaro esse processo pra eu. Cadê qui eles foro preso tombém? Foro não qui eles tem dinheiro e eu num tem. Mais eu vou construir um Doutor adevogado prumode ele rasgar o processo.
Um dos amigos que escutava o discurso dele perguntou:
- E vai pagar o doutor com que?
- É mermo né? Já sei, eu robo uma vaca de Zezim de João Alve,  vendo a Vicente Elias e pago o doutor.
Raimundo com aquela conversa bonita dele, ia saindo sem assinar o ciente. Foi quando eu falei sério:
- Ei, Raimundo. Não escapula não, você tem que  assinar o ciente !
- Pricisa não qui eu já sei qualé o dia.
- Precisa sim, porque eu tenho que certificar para juntar nos autos.
- E se eu num quiser assinar?
- Eu arranjo alguém para testemunhar que eu estive aqui. E o resto quem vai cuidar é a polícia.
- Apois decá esse papé.
Raimundo assinou com uma letra graúda e bem definida. Parecia mais com letra de presidente de sindicato.
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