CHUTADO DA SECA.
Nasci no sítio Inharé
Bem perto de Herculano,
Eu plantava todo ano
Com disposição e fé.
Mas meu santo São José
Deixou a gente na mão
E eu que tinha precisão
Meti o pé na estrada.
UMA SECA CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.
Vê o gado passar fome
Quem é o homem que gosta?
Lá ficou Giovani Costa
Mas o gado dele come.
Esse pove que tem nome
Os políticos dão a mão,
Mas eu não tinha ração
E a palma tava queimada.
UMA SECA CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.
Eu vou dizer Seu Menino
Como é o nosso jogo,
Se num é seca, é fogo
Como diz Seu Neto Aquino.
Uma vez Seu Vitorino
Foi queimar a plantação
E o fogo sem contenção
Sapecou minha morada.
UMA SECA CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.
Aqui na grande cidade
O negócio é diferente,
Ninguém olha para a gente
E nem faz a caridade.
Quando um olha é com maldade
Pensando que sou ladrão,
Mas eu digo: - Meu patrão
Eu sou homem da enxada.
UMA SECA CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.
Quando alguém quer ajudar
Pergunta se eu sou doente,
Eu respondo: - Eu sou carente
De chuva no meu lugar.
Ele diz: - Vá trabalhar
E eu fico sem ação,
Pois só sei plantar feijão
E pegar boi na Chapada.
UMA SECA CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.
A vida aqui é sem graça
Por conta desse maltrato,
Falar fiado é pecado
Sujeito a penalidade.
No sertão compro à vontade
Sem possuir nem cartão,
Mas com medo de invasão
A venda ficou fechada.
UMA SECA CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.
Já rezei pro Papa novo
Que se chama de Francisco,
Pra me tirar desse risco
Me devolvendo ao meu povo.
Tou como pinto no ovo
Vivendo na opressão,
Sem encontrar solução
Pra rever a meninada.
UMA SECA CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.
Mas eu tenho muita fé
Que o inverna pai pegar,
Para um dia eu voltar
Para o meu sítio Inharé.
Eu sei que o bom São José
Meu Santo de devoção,
Vai olhar na direção
Daquela gente adorada.
UMA SECA CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.
Mundim do Vale.
Várzea Alegre Ce