VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Saudades do meu pai... - Dr. José Bitu Moreno

Saudades do meu pai... - Do livro "Camisa nova, seu doutor "

"Manhãs...

Eu sempre as vejo da varanda das lembranças. A minha infância está impregnada de manhãs frescas e cheias de claridade. Minha alma quando se isola de mim e se recolhe ao labirinto, faz com freqüência nas manhãs, após noites mal-dormidas.

Pode ser o jeito como o sol nasce, entre nuvens, no contexto do céu. Ou a textura da brisa, o perfume que traz, a forma como me acaricia. Ou mesmo o canto do pássaro, ou a tristeza que se me enrosca como um gato, buscando conforto...Vejo-me então transpondo o portão, como o de Alice, e reencontrando esboços de sensações que um dia tive.

As manhãs me lembram o verde que nasce, após noite de chuvas e tempestades. As manhãs são as crianças despertas, a adolescente que se olha ao espelho, sacudindo os cabelos e decifrando o eterno, são os rastros dos amores noturnos no corpo redivivo, nos lençóis desarrumados, é a nudez do corpo feminino saindo do banho fresco e perfumado.

Elas nascem diferentes quando são os galos que as acordam, elas são puras e angelicais quando banhadas pelo orvalho, ou quando nas invernadas brotam da terra fertilizada, da terra agradecida.
Sentam-se na rede de sol a sol, serra a serra, balançando-se ao sabor do vento, tocando nuvens...convidando-nos a nada ser, a nada fazer...

Fui envolvido pelas luminosas manhãs do sertão, coloridas de branco, azul e dourado, que preencheram minh’alma. Depois, fui abandonado pelas mesmas manhãs, quando o sol do meio-dia as afugentou. Chorei quando as busquei e não as encontrei nas tardes vastas, nos solitários crepúsculos, nas incontáveis noites que se sucederam como uma corrente de dores e de alegrias, cujos elos lembravam o relógio que não parava, a areia se derramando na ampulheta do tempo, as gotas se sucedendo na torneira aberta da vida.

Significou que fui, uma vez na vida, de forma plena? Significou que a partir de então foi em suma a caminhada de perdas? A vida seria assim, alçada do céu e rolando pela encosta de encontro ao nada absoluto, ao último minuto em que já estaríamos despidos de tudo? Desmanchados? Nus?

Encontrei o meu pai na laje fria do necrotério, reconheci o sapato simples, a roupa lisa, um tanto frouxa, parecia ainda menor do que era, naquele recinto apertado e sem vida. Hoje, acordei pensando nele, ou talvez tenha sido a manhã de luz que o trouxe. Chegou pela estradinha branca, eu pude vê-lo desde que emergiu ao pé da ladeira de muitas árvores, e se aproximou a trote no cavalo castanho. Carregava chapéu de feltro e vestia-se em terno branco, de brim. Como era bonito o meu pai! Sentamo-nos na varanda de sombra fresca e carinhoso vento e miramos as plantações em silêncio. Estava triste, como sempre, mas somente um tantinho assim, que não lhe apagava o brilho...

Um carro passa súbito e me arranca dos devaneios. Sorrio agradecido para o vento e para a manhã que já se adianta. Outras virão e trarão de novo o meu pai.

(José Bitu Moreno)

Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Postar um comentário