SANGRARAM COMPADRE LOURO.
O sítio Vaca Brava, no município de Cedro – Ceará, era conhecido
na região como um lugar pra frente, as garotas eram avançadas ao ponto de gerarem conflitos com aqueles mais retrógrados.
O repentista Louro Branco, sempre fazia cantorias por lá e ficou bastante conhecido na região.
O promotor das cantorias tornou-se tão amigo do poeta, que chegou a convidá-lo para ser padrinho de um filho seu. O garoto foi crescendo e logo aprendeu a tocar viola. Talvez influenciado pelo pai e o padrinho, tornou-se um violeiro repentista.
Para a festa de 15 anos do garoto, o pai programou uma grande cantoria de padrinho e afilhado. Mandou anunciar nas cidades vizinhas e no dia do evento, abateu bois, porcos, carneiros e galinhas para os convidados.
A cantoria foi marcada para às 14:00 Horas, mas o padrinho atrasou e como os convidados estavam impacientes, o anfitrião mandou tocar um forró, enquanto o poeta chegava. E o forró truou na casa.
Por volta das 17:00 Horas, o promotor da cantoria ficou na calçada, preocupado com o atraso da grande atração da festa, De repente surgiu um Volkswagen na estrada e ele falou:
- É o carro de cumpade Louro !
E era mesmo. Louro Branco estacionou o carro no no terreiro e foi descendo vestido de terno branco e gravata vermelha. Como já estava escurecendo, o anfritião olhou assustado e gritou:
- Me valha meu Padim Ciço ! Sangraro cumpade Louro.
Louro Branco subiu a calçada com a viola já afinada e quando passava na janela, deu uma olhada disfarçada para o salão e balançou a cabeça de forma negativa. Naquela rápida olhada ele viu os casais soados e tão agarrados, que mais parecia um cadeado dentro de outro.
O dono da casa mandou fechar a harmônica e já mandou os violeiros começarem. É costume uma cantoria começar pelo poeta do lugar, mas como Louro Branco era o padrinho do garoto foi ele quem iniciou a cantoria.
Antes do garoto sentar Louro Branco começou com uma sextilha:
“ Vim cantar na Vaca Brava
Encontrei foi uma dança,
Rapaz com moça dançando
Ralando pança com pança,
Eu nunca vi Vaca Brava
Com tanta garrota mansa.
Fonte: Poeta Souza Sobrinho, de saudosa memória.