DOSE DUPLA
Meus irmãos Marcos e Ricardo, o primeiro com sete anos e o segundo com seis, além da grande semelhança, tinham a mesma
altura. Uma vez eles contraíram aquelas doenças de crianças e a minha mãe consultou o Dr. José Iran Costa que prescreveu um medicamento injetável para os dois.
Para aplicar veio Seu Nelinho que conhecia os dois, mas já estava com a visão desgastada. Os meninos já foram ficando um pouco desconfiados, Marcos que era mais esperto tratou logo de fugir enquanto o enfermeiro desinfetava a seringa. Quando terminou o seu trabalho, Seu Nelinho foi até Ricardo e começou a fazer aquele ritual de tortura expulsando aquelas duas gotinhas da siringa.( Que pra mim maltrata mais do que a picada ) Em seguida aplicou a injeção e Ricardo foi chorar em outro cômodo da casa.
Seu Nelinho preparou o material para a segunda injeção e saiu a procura de Marcos que já devia tá do Sanharol pra lá, como não encontrou o menino foi voltando quando viu Ricardo chorando falou:
- Deixe de ser mole, cabra frouxo! O outro já tomou a dele e nem chorou, já ganhou foi o mundo.
Fez o mesmo ritual e aplicou a injeção em Ricardo no mesmo braço.
Depois dessa, toda vez que Ricardo via Seu Nelinho apontar na esquina, com aquela maletinha de metal, corria gritando:
- NÃO. DE NOVO, NÃO!