O meu avô materno João Alves Bezerra morava na Fazenda Lagoa dos Currais, município de Arneiroz, nos Inhamuns. Era casado com Conceição de Morais Feitosa. Homem experiente, trabalhador, honesto, cordato e sábio. Pai de 13 filhos sendo que os três mais velhos eram homens. Dentre os exemplos deixados encontramos a historia que se segue: Quando Alceu, Zezinho e André atingiram a idade adulta, cada um deles, tratou de seguir os seus caminhos, iniciar os seus negócios.
Então Jose Raimundo Duarte, conhecido por Zé Bilé, primo e cunhado do meu avô, aconselhou a liberar parte de seus bens para os filhos, visto que eram pessoas inteligentes, honestas e precisavam de ajuda naquela fase inicial da vida. O meu avô não concordou e entre as razões para sua tese estava um fato ocorrido nos tempos de menino.
Dizia que quando adolescente pegou três “campinas novos” e os prendeu numa gaiola e, todo dia o campina velho vinha colocar água e comida no bico dos filhos. Quando os filhotes cresceram ele inverteu, fez a troca – soltou os novos e prendeu o velho. Os filhotes foram embora e o velho morreu de sede e fome.
Sabedoria antiga, assim conta a historia do “Couro de Boi” no vídeo a seguir. Zezinho, o filho mais velho, se deslocou para cidade de Rondom, no Paraná, e depois foi levando os irmãos um a um, e hoje em dia, quase a totalidade da família vive por terras paranaenses, levando sua contribuição e trabalho, inclusive com um neto chegando ao alto posto de chefe do executivo do município. A grande sabedoria do meu avô mostra que não se valorizam as facilidades.
Conheço um velho ditado, que é do tempo dos agáis.
Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai.
Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar,
o velho, peão estradeiro, com seu filho foi morar.
O rapaz era casado e a mulher deu de implicar.
"Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá".
E o rapaz, de coração duro, com o velhinho foi falar:
Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir
Hoje aqui da minha casa o senhor tem que sair
Leve este couro de boi que eu acabei de curtir
Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir
O pobre velho, calado, pegou o couro e saiu
Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu
Correu atrás do avô, seu paletó sacudiu
Metade daquele couro, chorando ele pediu
O velhinho, comovido, pra não ver o neto chorando
Partiu o couro no meio e pro netinho foi dando
O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando.
Pra quê você quer este couro que seu avô ia levando
Disse o menino ao pai: um dia vou me casar
O senhor vai ficar velho e comigo vem morar
Pode ser que aconteça de nós não se combinar
Essa metade do couro vou dar pro senhor levar