VÁRZEA ALEGRE TERRA DOS CONTRASTES - Mundim do Vale
Localizada no centro sul do estado do Ceará ficou conhecida no Brasil inteiro depois do musical Contrastes de Várzea Alegre, interpretado por Luiz Gonzaga e composto por Zé Clementino. Cidade que foi tema de um documentário da Rede Globo de Televisão, por ser uma cidade alegre, fazendo assim jus ao seu nome. Cidade que por brincadeira de um grupo de agricultores do sítio Roçado de Dentro, deu partida no samba, para ser hoje, com duas escolas, MIS e ESURD, detentora do melhor carnaval do interior cearense, atraindo turista do estado e do país. Cidade de um povo que transformas as adversidades em causos humorísticos. Cidade que Jesus foi intimado, que o padre era casado, que o sobrado é no oitão, que Telha Quebrada é filho de Zé Goteira e um cego da Boa Vista morreu afogado na Lagoa Seca. Cidade que aparece nos sonhos dos seus filhos que estão ausentes, mas não esquecem jamais. Várzea Alegre dos grandes adjuntos da colheita do arroz, animados pelo grupo de Maneiro Pau e a Banda Cabaçal. Várzea Alegre que quando os filhos que estão distantes se encontram dizem:
- Ou Várzea Alegre boa só é longe! Várzea Alegre que Manoel Cachacinha criou o slogan “Várzea Alegre é natureza! E para finalizar, Várzea alegre é a cidade que só nos deixa tristes quando estamos distantes.

sábado, 30 de março de 2013

029 - Nossas Histórias - Memória varzealegrense.


Em 1914, quando a coisa descambou para a anarquia e desordem, no cariri, os fazendeiros tiveram que abandonar suas propriedades e procurar abrigo noutras regiões. Gabriel de Morais Rego e o seu genro Macário Vieira de Brito foram para Várzea-Alegre e se arrancharam na casa de minha besavó Isabel de Morais Rego, irmã de Gabriel. José Augusto de Lima Siebra ficou na Malhada, mas quando a coisa apertou de tudo, resolveu ir também para Várzea-Alegre na companhia da família e de um amigo conhecido por Mariano.
Na hora da partida, o poeta fez esta quadrinha:

Mariano, corre na frente
Que eu corro logo atrás,
Corremos Mariano!
Assim é que os homens faz.

Os homens em referencia eram Gabriel e Macário que há tempos haviam arribado. Quando voltou a normalidade todos retornaram as suas fazendas e as encontraram destruídas, queimadas e saqueadas. Certo dia receberam um bilhete do Padre Cícero convidando-os para uma conversa. Em lá chegando Padre Cícero pediu que levantassem os prejuízos para serem ressarcidos. 

Gabriel de Morais Rego era destemido, homem de fibra, e, no ato respondeu: o Senhor não pode ressarcir nossos prejuízos, mesmo que queira, porque a coisa de maior valor que perdemos foi a criada Teresa morta e queimada pelos jagunços. O padre Cícero se limitou a dizer: quem fez isto será amaldiçoado até a décima geração. Gabriel de Morais Rego morreu em 1919 em Crato, sem antes deixar de pedir aos seus descendentes que batizassem uma filha com o nome de Teresa em homenagem a Dona Teresa, morta de forma cruel na invasão da fazenda. Gabriel foi sepultado no Cemitério Nossa Senhora da Piedade.

sexta-feira, 29 de março de 2013

006 - Do Tempo do Bumba! - Memória Varzealegrense


JUDAS  TROCADO - MUNDIM DO VALE

Em Várzea Alegre-Ceará, o pessoal costumava malhar o Judas ao invés de queimar como acontece em outros lugares.
Era sábado de aleluia do ano de 1965. Toim de mestre Horácio estava com Geraldo e Raimundo Leandro, bebendo cachaça e vinho Jurubeba no bairro Betânia. Lá uma hora Toim falou para os colegas:
- Eu vou já maiar o Juda.
Geraldo que estava um pouco melhor de que Toim falou:
- Bebo do jeito qui tu tá?
- E o que qui tem? O Juda tem qui pagar o qui ele fez cum Jisus Cristo.
Toim estava vestido numa calça e uma blusa de mescla de mangas longas, que de tão velhas já estavam cinzentas, um chapéu de palha que tinha pouca coisa além da aba. E um par de botas cano longo.  Saiu tombando e em cada bodega que encontrava pelo caminho, tomava mais umas duas ou três cachaças. As últimas foram na bodega de Zé Bitu onde ele fez o seguinte comentário:
- Seu zé, eu vou maiar o Juda e tem uma coisa. Os pedaço maior qui vai ficar dele é os pioi.
Zé Bitu com a presença de espírito que possuía respondeu:
- Tenha cuidado, Toim. Judas fez o que fez com Jesus Cristo. Imagine lhe pegando nesse estado.
Toim saiu da bodega, pela rua Major Joaquim Alves como quem estava fazendo prova de trânsito para moto. Ia de uma calçada a outra tombando. Quando passava em frente a igreja de São Raimundo, encontrou com Sá Nem que lhe perguntou:
- Pra onde tu vai bebo desse jeito, Toim.
- Ôxente coroa ! E eu num vou maiar o Juda.
- Do jeito que tu vai, É mais fácil tu ser malhado.
- Aí dento !
Sá Nem falava pela boca de um anjo.
Toim só aguentou até a frente da casa de Edvard Moreno. Lá ele deitou-se no tronco do benjamim, estirou as pernas e cobriu a cara com o chapéu. Não precisou ninguém cantar “ Boi da cara preta “ Toim já caiu no sono da embriaguez.
Logo depois passava uns meninos do Alto da Prefeitura caracterizados de penitentes, para pedir o que eles chamavam de jejum, de casa em casa. Um dos garotos viu Toim naquela posição e falou para os outros:
- Ei negada, óia ali onde tem um Juda, ramo maiar ele.
Os outro gritaram:
- Boooooora !
Cairam de pau em cima de Toim foi com vontade. A sorte de Toim foi Carlitos Cassundé que passava na hora e reconheceu. Tomou Toim das mão dos justiceiros já sem a blusa, as botas e sem mais nem um cabelo na cabeça.
No dia seguinte o pessoal que visitava toim, quando comentava lamentando ele dizia:
- Foi caboge qui Sá Nem botou im neu.



028 - Nossas Histórias - Memória varzealegrense.


Amigos!

Vamos resgatar os diálogos, as falas dos bonecos de Damião no Casimiro Coco. Solicito aos internautas que assistiram ao espetáculo que contem alguma coisa que os bonecos falavam. Com certeza Mundim do Vale sabe muito, Israel deve saber, o Geovani Costa e o Flavin já começaram a fazer na postagem do dia 06 de Setembro 2010.
Cláudio José de Sousa.
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Comentário do Blog do Sanharol.

A sugestão do Cláudio Sousa é muito consistente, valiosa e acima de tudo oportuna. Damião dos bonecos, a alegria da criançada, merece. Nossa historia merece, nossa gente também. Da minha parte vou me integrar na ideia do Cláudio e onde encontrar qualquer coisa que faça parte da historia do Damião farei o resgate. Para começar leiam a historia abaixo, acontecida na Fazenda Canastra nos velhos tempos do Coronel Mario da Silva Leal.
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Vejam:

A cultura e a historia de Várzea-Alegre são ricas e muito devem ao Damião Carlos, o saudoso Damião dos Bonecos, a alegria da criançada. Como todo varzealegrense, o Damião era inteligente e competente no que fazia. Um dia contratou uma apresentação bonequeira prus lados da Fazenda Canastra dos familiares do Coronel Mário Leal. Por lá, a volta era dura, escreveu não leu, por nada a peia cantava. Damião chegou mais ou menos as nove horas da manha e encontrou a casa toda arrumada, barraca montada, terreiros limpos, os foguetões encabados e o mais importante: uma galinha caipira cozida ao molho pardo para o almoço.

Depois de encher a pança, Damião se acomodou numa rede alva e cheirosa para tirar um deforete e preparar as ideias. Nesse momento chega um sujeito montado num alazão e pergunta: O que vai haver aqui hoje? Que tá tudo tão arrumadim! O dono da casa respondeu: Um artista da Rajalegre vai fazer uma apresentação dos bonecas e dizem que é muito engraçada.

Então o caboclo completou: Avise pra ele que eu venho assistir e se não achar graça eu vou fazê-lo engolir os bonecos. Damião ouviu a promessa e dez minutos mais tarde, se mexeu na rede, se espreguiçou, e perguntou: de quem era aquele cavalo tão troteiro que passou? De Moacir Leal, responderam-no.

Damião se levantou e foi ao mato aliviar a descarga. De lá arribou pra casa deixando os bonecos de herança para Cláudio José de Souza. Quando se perguntava: Damião porque você foi embora? Ele respondia rindo: Eu lá sabia se Moacir Leal achava graça com qualquer besteira. Na duvida arribei.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Bife na Quinta - Feira Santa


Manuel de Antonio Leandro do Sanharol, resolveu ir para São Bernardo por volta da decada de 1960. Já estavam por lá varios de seus irmãos, Benedito, Jose, Chagas, Nonato, Giovani.

O Manuel levou um certo azar. Chegou em um momento em que não estava facil encontrar emprego. Passou dez dias na casa de um irmão, outros dez na casa de outro e assim ia levando a vida. Um belo dia teve noticias de um expresa em Osasco precisando de mão de obra e Manuel seguiu prá lá.

Foi facil, na mesma semana já estava trabalhando. Na Quinta-feira maior, quando chegou a hora do almoço, o Manuel chegando no refeitorio apanhou uma bandeija com o bife pesando umas tresentas gramas e começou a degustar. Um conterraneo olhou para Manuel e disse: Manuel, como é que voce come carne na quinta-feira maior? Manuel respondeu: eu como que o padre Mota não está vendo.


027 - Nossas Histórias - Memória varzealegrense.


Antônio e Ribamar de seu José Budu, na seca de 1958 resolveram viajar em busca de socorro, de melhorias, visto que não colheram nada das lavouras plantadas na Serra da Macambira e, não lhes restavam outras opções. 

Venderam os últimos terém, e, com os parcos recursos conseguidos partiram no rumo da venta a procura de trabalho e salvação. 

Quando chegaram em terras do Pará o dinheiro acabou, a necessidade aumentou e a saudade de casa também, visto nunca haverem arredado os pés da terrinha.

Cada dia que passava era um suplicio. Lisos, sem perspectiva de arranjar emprego nem esperança de voltar para o seio da família. Um dia, chegou um circo na cidade em que se encontravam. Antônio, o mais velho, chamou o irmão e foram procurar emprego no circo. 

Em vão, o dono do circo dizia que já tinha a equipe completa. Ofereceram-se para trabalharem pela bóia e, pela carona nos deslocamentos do circo mundo a fora, quem sabe, um dia chegariam a Várzea-Alegre. 

Por fim foram aceitos, e, o dono do circo entregou uns tornos de ferro e uma marreta e mandou que fossem enfiando para depois amarrarem as cordas da empanada do circo.

Ribamar segurava o torno e Antônio batia batia com a marreta. Determinado momento, o dono do circo foi olhar se o serviço estava saindo a contento. 

Encontrou Ribamar dando pulos mortais pra diante e pra traz. Admirado com a habilidade artística disse: rapaz, você não é pra trabalhar aí não, você é um artista, você deve trabalhar no picadeiro! 

Antônio Budu explicou as razões dos pinotes de Ribamar dizendo: Seu Zé, é que a marreta escapuliu do cabo e acertou no saco dele.

quarta-feira, 27 de março de 2013

CAUSOS LÁ DE NÓS - Por Mundim do Vale.

DOSE  DUPLA

Meus   irmãos  Marcos  e  Ricardo, o  primeiro  com  sete  anos  e o segundo  com  seis, além da  grande semelhança, tinham a mesma
altura.  Uma  vez  eles  contraíram aquelas doenças de crianças e a minha  mãe  consultou  o  Dr. José Iran  Costa  que  prescreveu  um medicamento injetável para os dois.
Para  aplicar  veio  Seu Nelinho que conhecia os dois, mas já estava com  a  visão  desgastada. Os  meninos já  foram ficando um pouco desconfiados,  Marcos  que  era  mais  esperto  tratou  logo  de fugir enquanto o enfermeiro  desinfetava  a  seringa. Quando  terminou o seu trabalho, Seu  Nelinho foi até Ricardo e começou a fazer aquele ritual  de  tortura  expulsando aquelas duas gotinhas da siringa.( Que pra mim maltrata mais do que a picada ) Em  seguida  aplicou  a injeção e Ricardo foi chorar em outro cômodo da casa.
Seu  Nelinho  preparou  o  material  para a segunda injeção e saiu a procura  de  Marcos  que  já  devia  tá do Sanharol pra lá, como não encontrou o menino foi voltando quando viu Ricardo chorando falou:
- Deixe  de  ser  mole,  cabra   frouxo!  O outro já tomou a dele e nem chorou,  já   ganhou  foi  o  mundo.  
Fez  o mesmo ritual e aplicou a injeção em Ricardo no mesmo braço.
Depois  dessa,  toda  vez  que  Ricardo via  Seu  Nelinho apontar na esquina, com aquela maletinha de metal, corria gritando:
- NÃO. DE NOVO, NÃO!

026 - Nossas Histórias - Memória varzealegrense.

UM VARZEALEGRENSE QUE TEVE SAUDADE E NÃO VOLTOU - Por Antonio Gonçalo de Sousa.

Em 1993 meu pai, Mundinho Gonçalo, encontrava-se de passeio na cidade de Quixadá  no Sertão Central do Ceará, onde eu e minha família morávamos. Pela manhã costumava dar umas voltas pela praça central  daquela cidade e um dia ouviu uma longínqua gargalhada  muito espalhafatosa e que lhe pareceu familiar. Em função da distância, não tinha a certeza de  quem seria o autor, portanto,  resolveu aproximar-se do personagem e não teve dúvidas. aquele sujeito esguio, moreno,  muito alegre, apesar da idade e dos cabelos brancos,   no meio de uma roda de amigos,  era Manoel de Venâncio. Aproximou-se mais ainda do mesmo, puxou conversa para se cerificar melhor através do tom de voz e, por fim, proferiu a sublime indagação: Você é o Manoel de Venâncio?   Ele de pronto respondeu. Sim, e o Senhor quem é? Meu pai respondeu:  eu sou Mundinho Gonçalo, do Sanharol em Várzea Alegre,  aquele que viajava com você, tangendo burros com meu pai Antonio Gonçalo Araripe nas décadas de 1930 e 1940. O encontro depois de 40 anos foi uma surpresa para os dois.  Abraçaram-se, conversaram, relembraram coisas... causos..., perguntas, respostas. Por fim,  despediram-se,  com  o compromisso de voltarem a se encontrar na mesma praça para outras conversas e mais fofocas.

Chegando em casa, meu pai  contou-me  o ocorrido e eu logo me prontifiquei de visitar a casa do Sr. Manoel, como de fato o fiz. Não foi muito difícil encontrar a casa humilde num dos arredores da cidade. Conhecemos a sua humilde família e tivemos um ligeiro panorama de como teria sido sua trajetória, desde que saíra  de Várzea Alegre, no início da década de 40 do século passado, para nunca mais voltar. Daquele dia em diante, com a  presença do meu pai ou do meu sogro, que também era de Várzea Alegre,  voltei por diversas vezes à casa do  Sr. Manoel de Venâncio, que na cidade era conhecido por “Bigode”, em função do seu vasto conjunto de pelos faciais.  Tive a oportunidade de colher dele uma vasta e dramática história, que vou tentar resumi-la:

Manoel de Venâncio tinha origem em uma família humilde do Sítio Inharé – Várzea Alegre – CE  e na juventude  viajara auxiliando meu avô Antonio Gonçalo Araripe com tropas de burros pelas bandas de Crato, Farias Brito, Campos Sales, Cedro e Iguatu.  Meu pai e outros irmãos, à época com idades equivalentes à do companheiro, também participavam dessas viagens que, embora cansativas e demoradas,  eram recheadas de  comentários, brincadeiras, conversas, etc.  O Manoel de Venâncio tinha uma característica ímpar entre os demais, por proferir uma  gargalhada espalhafatosa e característica. Além de muito magrelo, era só o que tinha de diferente. Era extremamente tímido e não se ouvia falar de quaisquer desvirtuamentos ou até mesmo de cobiças por parte do referido personagem. 

De repente, Manoel passou  a trabalhar como ajudante de carretos (carreteiro) na cidade de Várzea Alegre e, em um dos seus primeiros trabalhos nessa atividade, surgiu logo um comentário um tanto escabroso pela cidade e circunvizinhanças:  “O Manoel de Venâncio estava sendo acusado por um determinado comerciante da cidade”.  Supostamente havia dado “sumiço” a um saco de açúcar. Ele, como sempre, foi o  último a saber da estória.  Decepcionado e, por não ter meios  de fazer frente ao que lhe estavam acusando,  resolveu ir embora. Aproveitou uma viagem no carro do patrão para a vizinha cidade de Cedro e, chegando lá,  avisou ao motorista que não mais voltaria a Várzea Alegre.  O companheiro ainda tentou intervir, inclusive, passando-lhe um agrado que o patrão havia lhe entregue, para ajudar no restante da viagem.  O Manoel de Venâncio recusou a oferenda. Falou que não precisava. Iria embora praticamente com a roupa do corpo e uns poucos trocados no bolso. Foi a Recife; voltou ao Ceará para alistar-se em uma frente de serviço em Banabuiú, que à época era distrito de Quixadá, onde trabalhou até a conclusão do grande açude público, que hoje dá nome a cidade que se originou da antiga vila. Depois foi morar em Quixadá – CE, onde voltou à atividade de carreteiro junto às usinas de beneficiamento de algodão.

Nos contatos que tive com o Sr. Manoel  sempre indagava se o mesmo não tinha interesse de voltar a Várzea Alegre. Procurando  incentivá-lo, comentava que muitos de seus amigos  e parentes o aguardavam por lá, dentre eles, personagens como Barela, Chico de Negão, Chico de Jorvino, Zé de Martins, entre outros.    Ele, com o olhar distante, demonstrava ansiedade, mas, sempre relutante, afirmava não ser interessante, pelo fato de ter perdido o contato com familiares e também porque muitos deles, inclusive sua mãe, já não existiam mais. Mas no seu semblante sempre me foi passado a verdadeira causa de não ter desejo de voltar a sua terra natal: A amargura e a falta de oportunidade de passar às pessoas o que verdadeiramente ocorreu naquele episódio  em que lhe foi imputada a responsabilidade pelo desaparecimento de um saco de cereal em um armazém onde trabalhava como carreteiro.

VERSO LÁ DE NÓS - Por Mundim do Vale.

TESTAMENTO DO JUDAS DO SANHAROL

Reprisado a pedido de um herdeiro.

Seu doutor tabelião
Eu quero nesse momento,
Pedir a sua atenção
Pra fazer meu testamento.

Pra meu sobrinho Morais
Que cuida bem de valor,
Eu deixo os trinta reais
Que vendi Nosso Senhor.

Para Cláudio eu vou deixar
Mil latas de leite ninho,
Que é pra ele alimentar
O  meu netinho Joãozinho.

Não nego nada a herdeiro
Minha herança tá exposta,
Vou deixar meu tabaqueiro
Nas mãos de Giovâni Costa.

A forca é o meu destino
É essa a realidade,
Mas contrato Neto Aquino
Para contabilidade.

O Augusto vai ficar
Com a casa do Inharé,
Um bom lugar pra morar
Sem dar trabalho a Mazé.

O que mais tenho cuidado
É com o maneiro pau,
Quero que fique guardado
Com o mano Pedro Piau.

Pra Moacir vou deixar
Uma touceira de cana,
Para ele se lembrar
Do avô José de Ana.

Meu livro de poesia
Que eu ganhei de Bidim,
Guardei até hoje em dia
Pra deixar com o Mundim.

Meu violão afinado
Pra mim é a melhor coisa,
Quero que fique guardado
Com Sheila e Fernado Souza.

A minha bíblia sagrada
Vai ficar com Manoel,
E o cachorro de caçada
Com Patrícia e Samoel.

Dakson Aquino não, quer não
Por ser ele boa gente,
Mas pra sua coleção
Deixo um tonel de aguardente.

Testamento é complicado
Mas eu faço mesmo assim,
Deixo o rifle carregado
Pros meninos de Padim.

O que mais levo saudade
É da vazante e a lagoa,
Mas vai ficar na verdade
Com o primo Luís Lisboa.

Meu cachimbo de fumar
É meu maior patrimônio,
Eu só confio deixar
Com meu neto Chico Antônio.

As coisas andam de Ré
Quem fala assim não é gago,
Vou deixar o Gravié
Pra Vicente Santiago.

João Pedro meu secretário
Vai ficar com a tarefa,
De conservar o rosário
Que foi de Madrinha Zefa.

Para Nicolau Sabino
Vou deixar de coração,
A calça boca de Sino
O anel e o medalhão.

Buzuga eu deixo de graça
A bodega que eu gostei,
Pra ele vender cachaça
A João Sem Braço e Micrey.

Vou deixar no Sanharol
A minha boa piscina,
Para nos dias de sol
Artur brincar com Marina.

A minha vaca malhada
Era a melhor que eu tinha,
Mas já ficou separada
Para o Doutor Feitosinha.

Ali perto de Iremar
Eu tenho um grande terreno,
Mas já mandei registrar
Para Zé Bitu Moreno.

Eu comprei por aventura
Uma casa na Taíba,
Mas passei a escritura
Para Pinga e Tuíba.

Toda herança traz intriga
Tem sempre um é, mais não é,
Meu velho galo de briga
Fica pra Raimundo André.

Magnólia vai herdar
Meu roçado de feijão,
Pra todo dia almoçar
Aquele feijão com pão.

Doutor Sávio é de outro lado
Perto do sítio Traíras,
Mas não fica deserdado
Ganha a sexta das mentiras.

Meu  Jesus peço perdão
Por meu erro cometido,
Pois eu estava perdido
No momento da traição.
Eu sei que botei a mão
Naqueles sujos dinheiros
E aqueles trinta cruzeiros
Foram a causa do pecado.
Mas eu peço ajoelhado,
Proteja esses meus herdeiros.

Mundim do Sanharol.

005 - Do Tempo do Bumba! - Memória Varzealegrense

BURRO  DADO  NÂO  SE  OLHA  OS  DENTES - Por Mundim do Vale

O  Sr.  Pedro  Mendes  precisando  fazer  uma  viajem  de Várzea Alegre  a  Cariús,  pediu um burro emprestado ao  Sr. Pedro Beca.  Para não abusar foi pedir a cela ao  Sr. Matias  que era irmão de  Pedro Beca mas que não havia um relacionamento amistoso entre os dois.
Retornado  da  viajem  Pedro Mendes foi devolver primeiro a cela ao  Sr. Matias.  Quando  desafivelava  a  cela  e  agradecia, o Sr. Matias perguntou:
- De quem é o burro?
- É de Pedro Beca.
O Sr. Matias com a voz trêmula disse:
- Pois  vá  devolver com cela e tudo. Porque cela minha não anda em burro de Pedro Beca não.
Pedro  Mendes  dirigiu-se  a  casa de Pedro Beca para devolver o burro quando tirava a cela e agradecia, Pedro Beca perguntou:
- De quem é a cela?
- É de Matias!
Pedro beca com ódio explícito disse:
- Pois  devolva com burro e tudo. Porque burro meu não calça cela de Matias não.
Pedro Mendes  ficou  com  o  burro e a  cela para não ser mais um  burro nesse causo. 

terça-feira, 26 de março de 2013

025 - Nossas Histórias - Memória varzealegrense.

Antônio André 

Esta historia aconteceu em Várzea-Alegre. Não vou revelar o nome do nobre advogado para não melindrar, mas falarei dos demais personagens da historia ocorrida nas décadas de 1960.

Nesta época o Antônio André do Roçado Dentro ficou doido barrido. Enquanto a família construía um local para prendê-lo, Antônio foi recolhido a cadeia publica do município por alguns dias. Poucos dias, não mais que cinco.

Logo no primeiro dia, Antônio observou um advogado recém formado, passando pela janela do presídio, onde ficava seu aposento. Antônio André era engenhoso, astucioso e preparou um meio para zuar com o doutor. Disse para o advogado ouvir: eu não sou doido não. O meu irmão é muito sabido, o meu pai morreu e deixou muitos bens e ele pra se apoderar sozinho me mandou prender aqui dizendo que eu sou louco. Mas, se um dia eu encontrar um advogado bom, que interessar, eu contrato nem que eu tenha que lhe pagar metade do que me pertence. 

O advogado se aproximou da janela e pediu para Antônio repetir a historia. Repetiu a sua proeza o advogado disse que aceitava a causa no ato.

Então, Antônio André colocou as duas mãos para fora da grade da janela pegou o advogado pelo colarinho e sapecou: Isso é que é gostar de uma confusão!


segunda-feira, 25 de março de 2013

004 - Do Tempo do Bumba! - Memória Varzealegrense

COÇANDO  O  SACO - Por Mundim do Vale

No ano de 1969, havia umas encrencas entre as famílias Mandu e Inácio no sítio Saco. Um dia estava havendo uma festa de casamento, quando os Mandus deram umas pancadas em Raimundo Inácio. Para completar a peia mandaram prender Raimundo e ingressaram com uma ação criminal.
O processo foi remetido para o judiciário e na tramitação foi distribuído um mandado para que eu citasse Raimundo. Eu fui até o sítio Saco para cumprir a determinação de sua excelência o juiz de direito. Como eu não conhecia o Raimundo, passei primeiro na casa de João Mandu para pegar informações.
João Mandu me passou as seguintes informações:
- Ele é moreno, de altura média, costuma usar botas, camisa de pano passado e usa uma caneta com a metade do lado de fora do bolso. Onde ele estiver tem um bocado de gente besta por perto, porque ele inventa um palavreado bonito e o povo fica perto pra escutar.
Eu perguntei onde era que eu podia encontrá-lo.
Tem uma bodega ali perto da casa de Manoel Moisés que ele passa o dia bebendo cachaça lá. É só a coisa que ele faz. Porque ele nunca deu um murro numa broa.
Segui para o local indicado e lá estava a figura, pelas referências eu não tive dúvida. Passei pelo meio do grupo, dei um bom dia e entrei na bodega onde fiz uma pequena compra e fui até a calçada onde escutei uma parte do discurso que Raimundo fazia.
Ele dizia para os outros:
-Negada. É priciso nóis tumar umas providença aqui no Saco. Nóis tem qui arrumar as coisa pra butar aqui dento do Saco. O prefeito fica passando as mão nos oto sítio e num passa a mão no Saco. Isturdia eu vi o trator da prefeitura danado cavando as terra de Luís Holanda prumode fazer um açude. E pra nóis aqui do Saco ele num manda nem um carro de mão. Impregaro o neto de Dona Sinhá, qui num sabe nem assentar o nome e num dero imprego a eu qui sou quage um doutor. Aí eu fico aqui só coçando o Saco.
Foi naquele momento que eu fiz a abordagem:
Sr. Raimundo. Eu sou oficial de justiça e trago aqui um mandado de citação para o Senhor. Eu vou ler o termo, o Senhor assina o ciente e comparece na data certa.
Aquando acabei de ler o termo ele ao o invés de assinar, elevou a voz e falou para o pessoal:
- Vocês tão vendo aqui? É ou não é o qui eu tava dizendo inda agora? Isso aqui é uma intimação. Vocês salembra daquele dia da festa do casamento, num salembra? Pois bem. Naquele dia os Mandu açoitaro eu até num querer mais e adispois dero parte e mandaro me butar na cadeia e ainda arrumaro esse processo pra eu. Cadê qui eles foro preso tombém? Foro não qui eles tem dinheiro e eu num tem. Mais eu vou construir um Doutor adevogado prumode ele rasgar o processo.
Um dos amigos que escutava o discurso dele perguntou:
- E vai pagar o doutor com que?
- É mermo né? Já sei, eu robo uma vaca de Zezim de João Alve,  vendo a Vicente Elias e pago o doutor.
Raimundo com aquela conversa bonita dele, ia saindo sem assinar o ciente. Foi quando eu falei sério:
- Ei, Raimundo. Não escapula não, você tem que  assinar o ciente !
- Pricisa não qui eu já sei qualé o dia.
- Precisa sim, porque eu tenho que certificar para juntar nos autos.
- E se eu num quiser assinar?
- Eu arranjo alguém para testemunhar que eu estive aqui. E o resto quem vai cuidar é a polícia.
- Apois decá esse papé.
Raimundo assinou com uma letra graúda e bem definida. Parecia mais com letra de presidente de sindicato.

003 - Do Tempo do Bumba! - Memória Varzealegrense

O  MOCOTÓ  DOS  BATISTAS - Por Mundim do Vale

O Sr. Cláudio paraíba, passou muitos anos morando e trabalhando com a família batista no sítio Mocotó.
Num ano de um bom inverno, Claudio plantou um lastro de feijão, quando o feijão estava amadurecendo, o gado dos Batistas rompeu as cercas e acabaram com o roçado.
Paraíba muito desgostoso foi até várzea Alegre para falar com seus patrões e donos do gado invasor, na intenção de receber alguma coisa, como indenização pelos estragos.
Primeiro ele foi na casa de Joãozinho Batista e contou sobre o seu prejuízo. Joãozinho lamentou o fato mas disse que o gado não era seu e sim do seu irmão Quinco Batista.
O morador foi até a casa de Quinco, contou a mesma história e Quinco respondeu:
- Mas paraíba, aquele gado não é meu não, é de Joãozinho meu irmão.
- Quinco. Eu tou pensando que aquele gado vai terminar sendo meu. Porque Joãozinho disse que é seu e você diz que é dele. Então como o gado não tem dono eu vou matar um garrote e vender o couro pra tirar meu prejuízo.
- Não faça isso que você pode se prejudicar.
- Então já que eu vou ficar no prejuízo, eu vou é morar e trabalhar com Luís Bastos lá nas Varas. Mas tem uma coisa. Eu nunca mais piso no Mocotó dos Batistas.

Fonte: Antônio Ulisses Costa.

domingo, 24 de março de 2013

Repelente contra abelhas - Memória Varzealegrense

REPELENTE  CONTRA  ABELHAS - por Mundim do vale

José Adálio da Silva ( Zé de Totô ) Era brincalhão e muito curioso, nas suas andanças pelo mundo tudo que fosse novidade, ele procurava conhecer e aprender para implantar em Várzea Alegre.
Certa vez ele andava pelo o estado do Pernambuco e por lá descobriu que graxa era um excelente repelente contra abelhas. Eu vou até repassar essa dica para o primo Nonato Souza, porque ele se mete a tirador de mel, mas não chega nem perto. Só faz mesmo é comer o mel.
Mas vamos ao causo:
Uma certa noite estavam; Raimundo Nonato Bitu, Zé Bezerra dos Correios e Galego de Pedro Gualberto sentados num banco da Praça dos Motoristas, atrás de arranjarem paqueras. O galego estava com uma camisa de manga longa com o pano passado, que parecia mais com um pastor evangélico.
Zé Adálio chegou para mim e pediu:
- Raimundim. Vá conversar com os meninos lá no banco que eu vou fazer uma brincadeira com o Galego.
Eu pensando ser uma brincadeira leve, me sentei na ponta do banco e puxei conversa.
Zé arranjou uma lata de graxa e passou nas mãos, em seguida subiu num benjamim, pegou um Boca Torta e fechou na mão, depois veio por trás do banco bem caladinho, puxou a gola da camisa do galego e jogou o Boca Torta.
Vocês imaginem o que é uma pessoa com a camisa fechada e cheia de abelhas, pois foi isso mesmo. O Galego pulou, gritou, chorou, tirou a camisa e desabotoou a calça ficando quase nu.
O Professor Jackson Teixeira que estava por perto, resolveu tomar as dores do Galego, chamando à atenção de Zé Adálio:
- Mas Zé. Como é que você faz uma coisa dessa? Se alguém fizesse com um irmão seu você não ia gostar.
- Mas não era no Galego que eu queria botar não. Foi porque as abelhas se zangaram e eu fiquei aperreado. Mais eu ia botar as abelhas era em Raimundim Piau.
- Em qualquer pessoa não deixa de ser uma perversidade.
- Mas era pra me vingar, porque Raimundim  uma vez foi lá em casa e botou um gato dentro do meu viveiro.

024 - Nossas Histórias - Memória varzealegrense.

O meu avô materno João Alves Bezerra morava na Fazenda Lagoa dos Currais, município de Arneiroz, nos Inhamuns. Era casado com Conceição de Morais Feitosa. Homem experiente, trabalhador, honesto, cordato e sábio. Pai de 13 filhos sendo que os três mais velhos eram homens. Dentre os exemplos deixados encontramos a historia que se segue: Quando Alceu, Zezinho e André atingiram a idade adulta, cada um deles, tratou de seguir os seus caminhos, iniciar os seus negócios.

Então Jose Raimundo Duarte, conhecido por Zé Bilé, primo e cunhado do meu avô, aconselhou a liberar parte de seus bens para os filhos, visto que eram pessoas inteligentes, honestas e precisavam de ajuda naquela fase inicial da vida. O meu avô não concordou e entre as razões para sua tese estava um fato ocorrido nos tempos de menino.

Dizia que quando adolescente pegou três “campinas novos” e os prendeu numa gaiola e, todo dia o campina velho vinha colocar água e comida no bico dos filhos. Quando os filhotes cresceram ele inverteu, fez a troca – soltou os novos e prendeu o velho. Os filhotes foram embora e o velho morreu de sede e fome.

Sabedoria antiga, assim conta a historia do “Couro de Boi” no vídeo a seguir. Zezinho, o filho mais velho, se deslocou para cidade de Rondom, no Paraná, e depois foi levando os irmãos um a um, e hoje em dia, quase a totalidade da família vive por terras paranaenses, levando sua contribuição e trabalho, inclusive com um neto chegando ao alto posto de chefe do executivo do município. A grande sabedoria do meu avô mostra que não se valorizam as facilidades.




Conheço um velho ditado, que é do tempo dos agáis.
Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai.
Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar,
o velho, peão estradeiro, com seu filho foi morar.
O rapaz era casado e a mulher deu de implicar.
"Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá".
E o rapaz, de coração duro, com o velhinho foi falar:

Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir
Hoje aqui da minha casa o senhor tem que sair
Leve este couro de boi que eu acabei de curtir
Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir
O pobre velho, calado, pegou o couro e saiu
Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu
Correu atrás do avô, seu paletó sacudiu
Metade daquele couro, chorando ele pediu
O velhinho, comovido, pra não ver o neto chorando
Partiu o couro no meio e pro netinho foi dando
O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando.
Pra quê você quer este couro que seu avô ia levando
Disse o menino ao pai: um dia vou me casar
O senhor vai ficar velho e comigo vem morar
Pode ser que aconteça de nós não se combinar
Essa metade do couro vou dar pro senhor levar

sábado, 23 de março de 2013

002 - Do Tempo do Bumba! - Memória Varzealegrense

A  FÉ  E  A  DESORDEM - Por Mundim do Vale

No ano de 1953, foi feito um pequeno sensoriamento em Várzea Alegre-Ceará e tinha 86 por cento de católicos. Nos 14 restantes tinha evangélicos e alguns que não era uma coisa e nem outra, por falta de educação religiosa.
As missas do domingo na igreja matriz eram lotadas, ficava gente até nas calçadas.
Numa dessas missa dominical, aconteceu o que para o nosso vigário Padre José de Otávio, foi  a maior agressão aos princípios religiosos.
Na hora da missa o cachaceiro Genésio Faísca passava com um colega de cachaça perto da igreja e tinha um sapo cururu próximo. Genésio falou para o outro irresponsável:
- Eu vou jogar esse cururu lá dento da igreja pra ver o que vai acontecer.
- Máis tenha coidado pele num bater im mãe qui ela tá lá dento.
Genésio pegou o sapo pelas costas e o bicho inchou que duplicou o tamanho. Arremessou o bicho na direção dos fiéis e o sapo foi acabar de morrer abraçado com Pedro Lourenço. Na confusão sem ninguém saber o que estava acontecendo, Chico de Amadeu fechou o órgão, Romana parou de cantar, as pastorinhas correram para a sacristia e o sr. Amadeu foi atrás de encontrar o Sr. Nelinho para atender o padre Otávio e Dona Raimunda Teixeira. O restante dos fiéis correram no meio da rua sem direção certa.
Assis de Cândida correu pra serra do Gravié mas desorientou-se e foi bater na Ribeira dos Bastiões, foram encontrá-lo um mês depois.
Meu primo Antônio Bezerra de Brito, desgarrou-se da sua mãe e correu para o Chico por dentro do mato.Na carreira ele passou por fiúza que perguntou:
- O que foi que aconteceu, Brito. Que tu tá amarelo e com a roupa toda rasgada. Tu viu o cão?
- Eu ouvi Genésio Faísca dizendo que a alma do padre Benedito tina aparecido dento da igreja de São Raimundo. Aí eu vi o povo correndo e corri também, Mas mãe ficou lá.


Mundim do Vale

001 - Do Tempo do Bumba! - Memória Varzealegrense

FEITIÇO  CONTRA  FEITICEIRO - Por Mundim do Vale

A minha memória hoje, retroagiu para o ano de 1956, em Várzea Alegre-Ceará.
Na rua Padre José Alves antes de ser pavimentada, tinha um depósito de cal pertencente ao Coronel Dirceu de Carvalho Pimpim. Ficava entre a minha casa e a lateral da casa do Coronel. Depois que foi desativado o depósito, aquele vão foi ocupado primeiro por Maria Caitano e depois por Manoel Boca Torta. Na rua não trafegava veículos e tinha uns matos com dois palmos de altura, entre a calçada da casa de João Bilé e o muro do jardim de Dona Dosa.
Um dia chegou Dedé de Júlio Xavier com os bolsos cheios de tiras de tecidos e falou para mim:
- Raimundim. Eu vou amarrar essa tiras de uns matos para os outros, qui é pra quando os caba passar, tacar o rabo no chão.
E assim ele fez. Depois nós ficamos na calçada da minha casa para olhar.
O primeiro que caiu foi Manoel Boca Torta. Parece até que ele tinha visto quem amarrou, porque foi direto onde nós estávamos e apontou logo o dedo Para Dedé dizendo palavrões naquela linguagem incompreensível.
Naquele momento Júlio Xavier passava na rau major Joaquim Alves e vendo que havia algum problema com o seu filho, partiu de lá quase correndo. Quando passava pelo mato caiu todo à granel. O tombo foi maior do que o de Manoel, porque Júlio era mais gordo e vinha mais rápido. Mas foi cair quase no mesmo lugar que o outro tinha caído.
Foi até onde nós estávamos mais zangado do que porco sendo castrado e perguntou:
- O que é que tá acontecendo aqui?
Dedé com as mãos nos bolsos, gaguejou e não conseguiu dizer nada.
Eu raciocinei rápido e tomei a defesa de Dedé:
- Foi porque os meninos da praça Santo Antônio amarraram os matos e Manoel caiu no mesmo lugar que o Senhor caiu e tá pensado que foi Dedé.
- Pois ele vai ter que provar. Vamos pra casa, José.
Quando Júlio pegou no braço do filho, a mão saiu do bolso acompanhada de um punhado de tiras.
Naquela hora a situação ficou ruim pra Dedé, porque Júlio foi logo dizendo:
- Então foi os meninos da Praça, não foi?
Não deu nem tempo de Dedé dizer foi.
Júlio pegou na orelha do filho com a mão esquerda e levou suspenso até a sua casa que ficava vizinha a Usina Diniz. E com a mão direita de vez em quando dava um pescoção.

Mundim do Vale

023 - Nossas Historias - Memoria varzealegrense.


Promessa em Canindé - Por Giovani Costa.

No ano de 1963 , nós morávamos no Grupo, como era chamado a Escola Isolada do Inharé. Minha mãe estava grávida de Chico Antônio e meu pai, João de Pedrinho e Agripino inventaram de pagar uma promessa em Canindé, uma viagem a pé.

Meu pai dizia que a promessa dele era, em ação de graças, por não ter morrido na seca de 1958. Agripino, eu não o conheci, mas dizem que ele era gordo, tinha um bucho muito grande.

Certa dia, a noitinha, minha família recebe a visita de Raimundo de Chico Bitu, que ao chegar, encontra minha mãe chorando e ele perguntou o que estava acontecendo, qual o motivo daquele choro. Aí minha mãe disse pra ele:

Raimundo, é porque faz 18 dias que Antônio foi essa viagem e ninguém tem uma notícia, a gente não sabe se aconteceu alguma coisa. Aí Raimundo tentou consolar minha mãe dizendo:

Chore não, Carmelita, que o que aconteceu foi Agripino que deu cria e João de Pedim foi a parteira e Antônio Leandro está cuidando da dieta.

Fonte - Geovane Costa



sexta-feira, 22 de março de 2013

022 - Nossas Historias - Memoria varzealegrense


Quem é do Sanharol já ouviu falar no Sitio Garrote. Dizia o meu pai que a festa de Nossa Senhora da Paz do sitio Garrote era festejada igual a de São Raimundo Nonato na sede urbana do município. O sitio pertencia a Pedro Alves de Morais, Pedrinho do Sanharol, meu bisavô. Moravam no local Mariana de Morais Rego irmã e sogra do Pedrinho e mais algumas famílias agregadas. No lugar só existem hoje os pés de cajarana e alguns resquícios de torrões, cacos de telhas e nada mais. 

Um dos filhos de papai Raimundo, que não vou revelar o nome, para evitar pendengas, teve um chamego com uma filha de um morador. Entre as promessas de conquistas estava um presente de um garrote. Quando a chama do romance se apagou, pouca gente havia tomado conhecimento do caso.

O cidadão tinha em sua residência, pendurado na alpendrada da casa, uma cabaça cortada um pouco acima do meio. Utensílio que há época se denominava cumbuca. Guardava, na mesma, objetos como ferramentas, grampos de cerca, pregos etc.

Um dia a esposa foi procurar um prego para colocar um santo na parede e deu conta de um bilhete dizendo: Me pague o garrote que você me prometeu! Quando o velho sentou na mesa para almoçar, a esposa falou: Porque você não paga o que está devendo? Ele respondeu: E eu devo nada a ninguém? Deve sim, pague o garrote que você prometeu a fulaninha! Acrescentou a mulher muito aborrecida.

O velho, mais ajuizado e cordato perguntou: e como foi que você soube desta historia? Ela em cima da bucha respondeu!Vi um bilhete junto com suas coisas! E o velho encerra o conversa dizendo: E o que você queria mexendo na minha cumbuca? A historia se espalhou e o nome pegou. Ainda hoje o local, embora desabitado, é conhecido por Garrote

021 - Nossas Historias - Memoria varzealegrense.


Estamos resgatando, algumas historias do nosso conterrâneo Juarez Batista de Souza que de uma simples bodega no Mocotó, em Várzea-Alegre, mudando-se para o Crato se tornou o maior comerciante do ramo de estivas e cereais do interior do nordeste.

Como todo bom varzealegrense Juarez era espirituoso, bem humorado e folclórico. Decidir escrever algumas proezas que presenciei depois de liberado pelo Dr.Wilson Caetano de Lima filho do Juarez.

Um dia Juarez estava em seu armazém na Monsenhor Esmeraldo em Crato e foi chamado para resolver um problema urgente em um dos armazéns do Juazeiro. Apanhou o seu Doge Dart a acunhou igual a uma bala. Passou pela Gurita da Policia Rodoviária Estadual localizada no sitio São José que parecia um raio.

Uma patrulha o seguiu e, dez minutos depois de Juarez estacionar o carro, os policiais encostaram dizendo: O senhor ultrapassou a velocidade permitida. Não senhor, respondeu Juarez. Meu carro corre 220 km e eu vinha puxando só 180.

O senhor ultrapassou o limite de velocidade permitido para Rodovia. Cadê a sua carta? E eu fiquei de escrever pra vocês? Respondeu Juarez!

Nós estamos falando serio com você e você está é com lera? Eu vou tirar sua carteira! Disse o policial já bastante aborrecido. “Apois tire mermo homi, eu já tentei tirar dez vez e nunca consegui”! Disse Juarez.

quinta-feira, 21 de março de 2013

CAUSOS LÁ DE NÓS - Por Mundim do Vale.

BEZERRO  DESMAMADO

No  ano  de  1.967,  eu  voltava   das  farras  com  meu  amigo  Taveirinha  e  já passando  da   meia  noite  a   fome  apertou.  Como  não   tinha  mais  nenhum
restaurante  aberto aquela hora eu perguntei pra Taveira:
- E agora o é que nós vamos fazer para lanchar?
- Vamos tirar uns cocos lá no jardim da casa de Dr. Osvaldo.
Quando  nós  chegamos  no  jardim,  respeite  o susto. Tinha um pastor alemão
amarrado  no tronco do coqueiro. Passado o susto  nós fomos  para a praça da igreja. Taveira olhou na direção do curral do Sr. Dirceu e falou:
- Já sei, vamos quebrar o jejum com leite da vaca do véi Diceu.
 Descemos para o  curral  já  levando uma lata de ervilhas vazia. A vaca apesar de muito mansa não  quis  soltar o leite. Foi quando me lembrei e falei  para o meu amigo, que a vaca só solta o  leite se estiver com o seu bezerro arreado. Como o bezerro era apartado em outro local foi mais uma frustração.
Meu amigo pensou  um pouco e disse:
- Apois pode me  arrear que ela solta o leite.
Eu peguei uma corda que tinha na cerca e  arreei  Taveira  do  pescoço para  a perna  da  vaca,  já  com  a  latinha  na mão. Meu amigo deu duas amojadas no ubre da vaca e para minha surpresa, ela  começou  a  soltar o leite. Enquanto a vaca  passava o rabo sujo na cara de  Taveira  eu tomava o leite que era quase só espuma.
Foi quando Taveira gritou assustando a vaca:
- Ei Raimundim! O bizerrim aqui vai ficar dirmamado mermo?
Com o grito a  vaca desconfiou que  estava   sendo  enganada,  virou o focinho, lambeu a cara do meu amigo para confirmar o estelionato, depois jogou os dois pés derrubando meu amigo e a lata de leite que eu estava reservando para ele.
Depois dessa, o jeito  foi esperar o dia amanhecer para tomar leite com tapioca
No café de  Mariinha  de  Pedro  Preto.  Onde tinha o melhor lanche da terra do arroz,

020 - Nossas Historias - Memoria varzeaçegrense.



Geralmente as pessoas e famílias até, costumam contar vantagens e cagar goma para se apresentarem superiores diante dos outros. Em Várzea-Alegre não é diferente. Os gabolas têm cada uma que dar dez. Por outro lado, existem também, aquelas famílias que em suas singelezas tratam de amiudar e debochar ainda mais as suas condições.

O casal Antônio Leandro, Carmelita e os filhos fazem parte dos que estão na segunda hipótese. Colocam em qualquer achaque uma boa dose de humor para tornar a vida mais agradável, alegre e bem humorada.

Para complementar a renda da família o Antônio Leandro comprava leite e a Carmelita fazia um queijo de manteiga de finíssima qualidade. O melhor da cidade. Clientela de alto nível: prefeito, Juiz, promotor, padre etc.

Um dia, Manuel Leandro, o filho mais velho, foi fazer a entrega dos queijos e o padre tinha viajado, sobrou um. O Manuel saiu oferecendo o queijo de porta em porta.

Na casa de um cliente exigente, a mulher procurou saber se o queijo era bom mesmo, se era de boa qualidade e se tinha bom sabor. “Só comprarei se me der garantia finalizou"!

Minha senhora, disse o Manuel, eu não posso dar a garantia que a senhora exige porque desse queijo a única coisa que eu como é o soro, depois de dormido três dias para tirar a nata e quando já está azedo.

Aí é o que se pode chamar sinceridade extrema.

019 - Nossas historias - Memoria Varzealegrense.



Já contei algumas proezas do Antonio Budú. Por certo já sabemos que era um tanto quanto exagerado, tudo dele era muito. No ano de 1976 ele botou uma roça na Boagua e o ano foi chuvedorzinho e em Junho era gerimun na roça que não havia quem desse vencimento. Antonio ouviu dizer que em Juazeiro vendia tudo que fosse exposto à venda e alugou o caminhão do Miguel Marcelo encheu de gerimum e partiu para o Mercado do Pirajá.

Animado com a venda mandou o Miguel buscar outra carga. Por volta do meio dia Antônio estava com os bolsos arrotando dinheiro, pra lá de “tres mil real” dizia ele se pabulando. Quando restavam apenas os que apresentavam algum defeito, banda murcha ou amarelada pelo sol, Antônio chamou uma caboquinha que possuía uma venda próxima e fez uma proposta: Venda este resto de jerimum que te dou uma boa gratificação. Mas, seu Antônio eu não tenho costume com comercio de jerimum não desculpou-se o cabocla. Antônio insistiu fique aí que eu vou tomar uma cerveja naquele bar ali na frente, qualquer duvida você vai lá. 

Antônio chegou ao bar pediu uma cerveja e por arte do diabo Zé de Chicão passava com sua sanfona acompanhado de um zabumbeiro e um trianguista e Antônio empreitou para tocar o resto da tarde. Começo a juntar gente e em pouco tempo estava fervendo de caboclas dançando soltas, animadas que só pinto em monturo. Um sujeito mal encarado se aproximou do resto dos jerimuns e pergunta para a encarregada da venda: você me vende uma banda desse jerimum? A cabocla pediu que aguardasse por que precisava consultar o proprietario.

Partiu para o bar e não percebeu que fora seguido pelo valentão mal encarado. Chegando lá lascou: seu Antônio tem um “féla da puta dum corno” querendo comprar uma banda de um jerimun, eu posso vender? Quando olhou pra trás o cabra estava fungando no pé do seu cangote – Então ela disse: Eu vou vender porque esse cidadão aqui compra a outra banda!

quarta-feira, 20 de março de 2013

018 - Nossas Historias - Memoria varzealegrense.



Poucas pessoas eram conhecidas em Várzea-Alegre quanto Neguim de João Lopes. Bonachão, chegado a melopeia, divertido e desmantelado. Um dia sua mãe Jovelina recebeu uma visita e mandou Neguim ir ao açougue com uma nota de 20 reais comprar carne.

Uma exigência muito bem esclarecida: não traga qualquer carne, exijo carne de primeira, meus compadres são merecedores de comida de boa qualidade.

Neguim saiu esquipando para o açougue. Antes do mercado passou num local onde Boris estava com um caipira em pleno funcionamento. Neguim não resistiu a tentação do lucro fácil, amarrou o cinco e só parou de jogar quando lhe restava apenas dois reais de todo o dinheiro recebido para pagar a carne.

Neguim foi ao açougue do José de Jorvino, mandou juntar uma tripas de gado que estavam sendo salgadas e colocou num jornal e partiu para casa.

Quando dona Jovelina viu a arrumação deu o maior pinote: Menino, eu te mandei comprar “chã de dentro” e tu trouxe foi tripa!

Neguim bem humorado respondeu: foi mãe, e, tem uma coisa, mais de dentro do que as tripas só se for a merda.

017 - Nossas historias - Memoria varzealegrense.


Não houve no mundo casal mais desunido que Zé Chato e Jorvina. Gato e rato perdiam. Já velhinhos moravam numa casinha de taipa próxima a casa de Raimundo Bitu do Sanharol.

Apesar da pobreza extrema, pois a época não havia aposentadoria e os dois não tinham condições de trabalho e nem familiares que pudessem ajudá-los, viviam da caridade alheia, mas, não reclamação da vida.

Zé Chato era muito nervoso, e vivia roendo as unhas. As cabeças dos dedos chegavam ao sangue, carne viva e ele não parava com a mania.

De repente, de uma hora pra outra, todos estavam admirados: as unhas de Zé Chato ressurgiram como num passo de mágica. Unhas longas, cabeças dos dedos sarados etc.

Zabé de Vicente Felix perguntou: Jorvina muié, que má pregunte,o que tu fez que Zé Chato largou de roer as unhas? Ora o que foi Zabé, eu escondi a chapa dele!


segunda-feira, 18 de março de 2013

016 - Nossas Historias - Historias de varzealegrenses.


Luiz Salviano Filho, o Lila. Varzealegrense da Extrema, era extremamente presepeiro. Todos conhecem suas historias e estorias ou delas ouviram falar. Talvez a mais  engraçada delas tenha ocorrido em Crato, no Parque de Exposição.

Lila chegou numa barraca e sem pedir licença a proprietária meteu a colher de pau num  caldeirão com  50 quilos ou mais de macunzar. Tirou um pedaço linguiça quente como uma brasa e jogou na boca. Fez malabarismo, jogou prum lado e pró outro, não aguentando soltou novamente na panela, desta feita, acompanhado da dentadura. 

A mulher vendo aquela cena  fez o maior fuá.  Lila  preocupado com a chapa pegou uma colher de pau  a se danou a procurar.Trazia um volume era um pé de porco, trazia outro era um pedaço de costela e nada de encontrar a chapa, Por fim meteu a mão no panelão apanhou a chapa, jogou  na boca, acomodou-a direitinho e disse: Eita macunzar gostoso da peste. 

A esta altura a policia já havia tomado chegada. Conversa vai, conversa vem, foram a cima e a baixo, Lila se prontificava a pagar o prejuízo, mas, não concordava com a valor e não tinha o dinheiro disponível no momento. O cu de boi estava formado.

Dr. Henrique Costa, parente, conterrâneo do Lila e, presidente da comissão organizadora da Exposição  pagou  o valor exigido pela mulher. Lila tomou conta da panela e convidou a negrada que passava para comer macunzar. 

A festa foi grande. O macunzar não deu pra quem quis. Quando acabaram de comer a mulher colocou as mãos na cintura e disse: "Dr. Anrique", esse cabra é um "Severgoin" ele jogou a chapa dentro do macunzar de propósito, porque quis. 

A seguir o que se via era negro vomitando pra todo lado e, o Lila perguntando: oxente o macunzar fez mal a vocês?

domingo, 17 de março de 2013

VERSO LÁ DE NÓS - Por Mundim do Vale.

CHUTADO  DA  SECA.

Nasci no sítio Inharé
Bem perto de Herculano,
Eu plantava todo ano
Com disposição e fé.
Mas meu santo São José
Deixou a gente na mão
E eu que tinha precisão
Meti o pé na estrada.
UMA  SECA  CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.

Vê o gado passar fome
Quem é o homem que gosta?
Lá ficou Giovani Costa
Mas o gado dele come.
Esse pove que tem nome
Os políticos dão a mão,
Mas eu não tinha ração
E a palma tava queimada.
UMA  SECA  CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.

Eu vou dizer Seu Menino
Como é o nosso jogo,
Se num é seca, é fogo
Como diz Seu Neto Aquino.
Uma vez Seu Vitorino
Foi queimar a plantação
E o fogo sem contenção
Sapecou minha morada.
UMA  SECA  CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.

Aqui na grande cidade
O negócio é diferente,
Ninguém olha para a gente
E nem faz a caridade.
Quando um olha é com maldade
Pensando que sou ladrão,
Mas eu digo: - Meu patrão
Eu sou homem da enxada.
UMA  SECA  CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.

Quando alguém quer ajudar
Pergunta se eu sou doente,
Eu respondo: - Eu sou carente
De chuva no meu lugar.
Ele diz: - Vá trabalhar
E eu fico sem ação,
Pois só sei plantar feijão
E pegar boi na Chapada.
UMA  SECA  CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.

A vida aqui é sem graça
Por conta desse maltrato,
Falar fiado é pecado
Sujeito a penalidade.
No sertão compro à vontade
Sem possuir nem cartão,
Mas com medo de invasão
A venda ficou fechada.
UMA  SECA  CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.

Já rezei pro Papa novo
Que se chama de Francisco,
Pra me tirar desse risco
Me devolvendo ao meu povo.
Tou como pinto no ovo
Vivendo na opressão,
Sem encontrar solução
Pra rever a meninada.
UMA  SECA  CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.

Mas eu tenho muita fé
Que o inverna pai pegar,
Para um dia eu voltar
Para o meu sítio Inharé.
Eu sei que o bom São José
Meu Santo de devoção,
Vai olhar na direção
Daquela gente adorada.
UMA  SECA  CONDENADA,
ME CHUTOU LÁ DO SERTÃO.

Mundim  do  Vale.
Várzea Alegre Ce

sexta-feira, 15 de março de 2013

003 - Memórias - Memória Varzealegrense



Em fevereiro de 1986, para controlar a inflação que atingia trezentos por cento ao mês, o presidente José Sarney anunciou o Plano Cruzado. 

Os preços foram congelados e os consumidores passaram a reprimir diretamente a remarcação nos supermercados e em outros estabelecimentos varejistas. No peito, a população usava bottons com o título Fiscal do Sarney.

Apesar da euforia inicial, o plano não chegou sequer ao fim daquele ano. A inflação voltou com muita força e a carestia tomou conta dos produtos, inclusive dos que formavam a cesta básica.

No carnaval de 1986, em Várzea Alegre, interior cearense, logo após o lançamento do plano econômico, eu, recém-aprovado no vestibular, desfilei pelas ruas nos blocos de "sujo da cidade" bem atrás da animada bateria da Escola de Samba Mocidade Independente do Sanharol.

A minha fantasia era simples e inspirada pelo efusivo e fantasioso momento econômico que o país vivia. 

Com um cordão amarrado ao dedo, puxava um carrinho de plástico(fusca)  e no pescoço trazia uma folha de cartolina com a seguinte frase:

"Obrigado, Sarney. Já pude comprar um fusca".

Flávio Cavalcante do Pedra de Clarianã

Mestre Chagas - Memória Varzealegrense

Mestre Chagas 


Eis o nosso famoso e inesquecível músico "MESTRE CHAGAS". 

Um integrante da saudosa "banda de música" que abrilhantou, por vários anos, as festividades religiosas da Paróquia de São Raimundo Nonato. 

Também tocou em muitas festas no Recreio Social e em outros espaços festivos trazendo-nos alegrias, emoções, ânimos...Grande talento. 

Notável artista. Sua "marca" está nas lembranças e nas saudades dos "belos" momentos que se eternizam nas memórias e nos corações varzealegrenses. 

Nessa foto está tocando numa comemoração no nosso querido GINÁSIO SÃO RAIMUNDO NONATO. (UMA FOTO DO ARQUIVO PARTICULAR DE ISABEL ANDRADE CORREIA BITU)

Isabel Vieira

quarta-feira, 13 de março de 2013

002 - Memórias - Memória Varzealegrense


Identificação da foto: O menino que esta nos braços é Dimitri Moreno, a mãe Maria Eunice e o pequeno sou eu(Douglas Moreno), junto esta Neide irmã de Raimunda do Mameluco que morava conosco em Recife. A outra criança e Luiz Preto que trabalhou depois na padaria, um grande amigo de infancia!


Antigo Corredor de João do Sapo
Mesmo não sendo da época, a paisagem não tem como não reconhecer, é como se hoje você estivesse no trevo onde se encontra a praça com a estátua de Pe. Vieira olhando para o Sanharol.

015 - Nossas Historias - Historias de varzealegrenses.

Pé Vei e Fatico eram grandes amigos. Tanto que Pé Vei dizia que não tinha medo de morrer, tinha medo sim que Fatico morresse, tamanha era sua dependência. São tantas historias e estorias, e, hoje  pesquei  essa preciosidade na minha já esquecida memoria. 

Fatico tinha um jumento de lote, um reprodutor especial. Ao animal era dispensado  um tratamento diferenciado. Pastava na melhor vazante, era banhado  duas vezes ao dia. Tinha que ser levado ao bebedouro  para tomar água, dias entrava, outros não, e era necessário que  desse água para beber na cua. Fatico fez uma viagem de três dias a Fortaleza e deixou Pé Vei encarregado de  cuidar do Jumento. 

Orientou direitinho. Dê água e banhe duas vezes ao dia. Se o jumento não quiser entrar para tomar água no bebedouro dê água com a cua. 
Ao retornar da viagem, a primeira  coisa  que Fatico fez foi perguntar:
Deu água ao jumento Pé vei?
Dei.
Ele entrou para tomar no bebedouro?
Entrou nada, eita jumento cismado da peste.
E  tu deu água como?
Com a cua.
E, a cua num ficou trancada no armazém e eu levei a chave comigo pra Fortaleza!
E foi ?

Coitado do Jumento.

Linda Flor do Meu Jardim - Memória varzealegrense

Encontrei aqui no Face book, esse trabalho da autoria do poeta conterrâneo, parente e amigo João Bitu. Sem consultar o autor, eu estou removendo para o Memória, por achar que lá é o lugar adequado para expor o talento dos nossos poetas.
Acredito ainda que, assim como eu, o Sr. Memória, seus escritores e  seus poetas irão reconhecer o valor literário dessa obra.
Abraços para Todos.

Mundim do Vale.

LINDA FLOR DE MEU JARDIM

Cultivo em meu pomar
Quatro trevos com estima
Ninguém dele se aproxima
Sem que eu venha a convidar

Há uma flor que é só minha
Deslumbrante e odorosa
Tão diversa e preciosa
Linda espécie, a flor rainha 

Adorável bem me quer
Flor em forma de mulher
A nada amei tanto assim

Não a toquem – por favor!
Porque ela é a flor
Que mais amo em meu jardim!

João João Bitu

terça-feira, 12 de março de 2013

Sangraram Compadre Louro - Por Mundim do Vale.


SANGRARAM  COMPADRE  LOURO.

O sítio Vaca Brava, no município de Cedro – Ceará, era conhecido
na região como um lugar pra frente, as garotas eram avançadas ao ponto de gerarem conflitos com aqueles mais retrógrados.
O repentista Louro Branco, sempre fazia cantorias por lá e ficou bastante conhecido na região.
O promotor das cantorias  tornou-se tão amigo do poeta, que chegou a convidá-lo para ser padrinho de um filho seu. O garoto foi crescendo e logo aprendeu a tocar viola. Talvez influenciado pelo pai e o padrinho, tornou-se um violeiro repentista.
Para a festa de 15 anos do garoto, o pai programou uma grande cantoria de padrinho e afilhado. Mandou anunciar nas cidades vizinhas e no dia do evento, abateu bois, porcos, carneiros e galinhas para os convidados.
A cantoria foi marcada para às 14:00 Horas, mas o padrinho atrasou e como os convidados estavam impacientes, o anfitrião mandou tocar um forró, enquanto o poeta chegava. E o forró truou na casa.
Por volta das 17:00 Horas, o promotor da cantoria ficou na calçada, preocupado com o atraso da grande atração da festa, De repente surgiu um Volkswagen na estrada e ele falou:
- É o carro de cumpade Louro !
E era mesmo. Louro Branco estacionou o carro no no terreiro e foi descendo vestido de terno branco e gravata vermelha. Como já estava escurecendo, o anfritião olhou assustado e gritou:
- Me valha meu Padim Ciço ! Sangraro cumpade Louro.
Louro Branco subiu a calçada com a viola já afinada e quando passava na janela, deu uma olhada disfarçada para o salão e balançou a cabeça de forma negativa. Naquela rápida olhada ele viu os casais soados e tão agarrados, que mais parecia um cadeado dentro de outro.
O dono da casa mandou fechar a harmônica e já mandou os violeiros começarem. É costume uma cantoria começar pelo poeta do lugar, mas como Louro Branco era o padrinho do garoto foi ele quem iniciou a cantoria.
Antes do garoto sentar Louro Branco começou com uma sextilha:
“ Vim cantar na Vaca Brava
Encontrei foi uma dança,
Rapaz com moça dançando
Ralando pança com pança,
Eu nunca vi Vaca Brava
Com tanta garrota mansa.

Fonte: Poeta Souza Sobrinho, de saudosa memória.


001 - Memórias - Memória Varzealegrense

Fogão a lenha ainda em plena atividade.

Devemos guardar na nossa memória tudo aquilo que fez parte de nossas vidas. Um fogão a lenha, é díficil um nordestino não conhecer, não ter passado por uma época onde aqui se fazia o alimento de suas famílias.

Ele é na residencia de Ana Bezerra de Morais, neta de Luiz Fiúza de Morais do Serrote, ainda hoje é usado.

Casa do Padre Vieira - Memória Varzealegrense



Essa é a casa e a  Igreja de Cristo Rei - construídas pelos meus avós Vicente Viera da Costa e Senhorinha Batista de Freitas(Filha de Papai André e Mãe Dondon do Mocotó), e mãe de diversos filhos proeminentes, entre eles, Padre Antonio Vieira.

Rita de Cassia Monteiro

Os Penitentes - Memória Varzealegrense



Esta foi uma novena na Semana Santa no Sítio Mameluco rezada pelos Penitentes do Riacho Verde em 2003.

Os principais são - Sr. Raimundo Borges, Sr. Zé Borges e Sr. Manoelzinho Batista. 

A autenticidade deste momento ficou em nossa memória - as roupas idealizadas por eles, as vozes afinadíssimas, os rituais  muito bem respeitados e os cânticos emocionantes!

É uma pena q alguns já faleceram mas a célula ainda esta viva!
Como a Semana Santa já está próxima lembrei-me de recordar os Penitentes de Várzea Alegre!

sábado, 9 de março de 2013

Nossa Gente, Nossa História - Memória Varzealegrense


José Alves Feitosa ( Dudal ) Faleceu no início do ano de 1946 e eu  só fui inventar de nascer no mês de agosto do mesmo ano. Mas como eu sempre me interessei saber das histórias do nosso povo, procurei o amigo Chico Luís e ele me passou esse conto.

José Alves Feitosa ( Dudal ) Era casado com Dona Matilde César Leal. Do casal não nasceram filhos. Moravam na Rua major Joaquim Alves, vizinhos do casal Pedro Alves de Lima ( Caboclo do Rosário ) E Clara Alves de Meneses ( Clarinha ) O casal também não tinha filhos. 

Os dois casais viviam em constantes conflitos, por conta de uns furtos de galinhas da casa de Dudal. Matilde e Dudal responsabilizava Caboclo e Clarinha.Com a morte de Dudal e logo depois a de Clarinha, Chico Luís e Otacílio Correia resolveram fazer um plano para casar Caboclo com Matilde. Chico fazia uma carta amorosa no nome de Caboclo e botava debaixo da porta de Matilde. 

Otacílio Fazia outra carta em nome de Matilde e colocava por baixo da porta de Caboclo.Matilde quando pegou a carta foi bater na casa de Dudau onde antes não pisava nem na calçada. Chegando com a carta na mão foi logo dizendo:
- O que é que significa isso? Não tem vergonha não, cabra velho?Caboclo também com a carta na mão, foi logo respondendo:
- E você cabra velha. Além de roubar galinhas agora deu pra correr atrás de homem foi?Depois de muitos palavrões, eles trataram de preparar o casamento e viveram até a morte na mais total harmonia.

E o prato preferido dos dois era canja de galinha. 

Relíquia familiar - Memória Varzealegrense



Foto histórica da Família Batista Moreno, conhecidos pelos Morenos da Várzea da Conceição(Município do Cedro), mas que é a mesma família Batista do Mocotó.

Em pé à esquerda: José (Zezinho), Vicente, Manoel(Néo) e Natanael.
Sentadas: Maria(Sinhá), Antonia Maria do Espírito Santo( a Matriarca Mãe Antonia), Ana e Umbilina.

O interessante é que Vicente e Néo casaram-se com duas irmãs e primas - Arlinda e Raimunda(Mundinha) - do Mocotó, filhas de André José Duarte(Pai André) e Balbina Raulina Do Sacramento(Mãe Dondom). 

E por isso as ligações com VAlegre são maiores. Sr. Natanael, casou se com D. Ivone uma das primeiras professoras de VAlegre onde deixou inúmeras amizades! 

Uma fotografia como esta consegue passar muitas informações da época uma vez que apresenta uma família muito bem vestida,  elegante e todos muito bonitos.
Os descendentes se orgulham de todos eles!

Maria Eunice

sexta-feira, 8 de março de 2013

Saudades do meu pai... - Dr. José Bitu Moreno

Saudades do meu pai... - Do livro "Camisa nova, seu doutor "

"Manhãs...

Eu sempre as vejo da varanda das lembranças. A minha infância está impregnada de manhãs frescas e cheias de claridade. Minha alma quando se isola de mim e se recolhe ao labirinto, faz com freqüência nas manhãs, após noites mal-dormidas.

Pode ser o jeito como o sol nasce, entre nuvens, no contexto do céu. Ou a textura da brisa, o perfume que traz, a forma como me acaricia. Ou mesmo o canto do pássaro, ou a tristeza que se me enrosca como um gato, buscando conforto...Vejo-me então transpondo o portão, como o de Alice, e reencontrando esboços de sensações que um dia tive.

As manhãs me lembram o verde que nasce, após noite de chuvas e tempestades. As manhãs são as crianças despertas, a adolescente que se olha ao espelho, sacudindo os cabelos e decifrando o eterno, são os rastros dos amores noturnos no corpo redivivo, nos lençóis desarrumados, é a nudez do corpo feminino saindo do banho fresco e perfumado.

Elas nascem diferentes quando são os galos que as acordam, elas são puras e angelicais quando banhadas pelo orvalho, ou quando nas invernadas brotam da terra fertilizada, da terra agradecida.
Sentam-se na rede de sol a sol, serra a serra, balançando-se ao sabor do vento, tocando nuvens...convidando-nos a nada ser, a nada fazer...

Fui envolvido pelas luminosas manhãs do sertão, coloridas de branco, azul e dourado, que preencheram minh’alma. Depois, fui abandonado pelas mesmas manhãs, quando o sol do meio-dia as afugentou. Chorei quando as busquei e não as encontrei nas tardes vastas, nos solitários crepúsculos, nas incontáveis noites que se sucederam como uma corrente de dores e de alegrias, cujos elos lembravam o relógio que não parava, a areia se derramando na ampulheta do tempo, as gotas se sucedendo na torneira aberta da vida.

Significou que fui, uma vez na vida, de forma plena? Significou que a partir de então foi em suma a caminhada de perdas? A vida seria assim, alçada do céu e rolando pela encosta de encontro ao nada absoluto, ao último minuto em que já estaríamos despidos de tudo? Desmanchados? Nus?

Encontrei o meu pai na laje fria do necrotério, reconheci o sapato simples, a roupa lisa, um tanto frouxa, parecia ainda menor do que era, naquele recinto apertado e sem vida. Hoje, acordei pensando nele, ou talvez tenha sido a manhã de luz que o trouxe. Chegou pela estradinha branca, eu pude vê-lo desde que emergiu ao pé da ladeira de muitas árvores, e se aproximou a trote no cavalo castanho. Carregava chapéu de feltro e vestia-se em terno branco, de brim. Como era bonito o meu pai! Sentamo-nos na varanda de sombra fresca e carinhoso vento e miramos as plantações em silêncio. Estava triste, como sempre, mas somente um tantinho assim, que não lhe apagava o brilho...

Um carro passa súbito e me arranca dos devaneios. Sorrio agradecido para o vento e para a manhã que já se adianta. Outras virão e trarão de novo o meu pai.

(José Bitu Moreno)